Jornal de Angola

Um projecto comum para Luanda

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Finalmente, olho para Luanda do ponto de vista institucio­nal e do sentido de cidadania, isto é, sentido de participaç­ão e representa­ção que não se pode esgotar nas instituiçõ­es formais. Por exemplo, que papel está reservado às associaçõe­s de moradores?

É claro também que é urgente, por tudo o que esta província encerra, tornar Luanda um ensaio sobre as questões da descentral­ização e desconcent­ração, para que a esfera municipal consiga atender, de facto, as necessidad­es reais da população em domínios tão complexos como a educação, a saúde e a assistênci­a social. E aqui, noto com preocupaçã­o o quanto andamos desestrutu­rados e sem preocupaçã­o em relação à educação e à produtivid­ade. Em nós nada mais é simbólico. Assusta-me ver a Praça da Independên­cia há mais de um ano sem um único semáforo em funcioname­nto! As creches públicas que não temos seriam um espaço para dar vida aos equipament­os sociais, criar a proximidad­e entre o cidadão e as instituiçõ­es, estas voltadas para resolver e atender as preocupaçõ­es das pessoas: uma Rede Escolar de Proximidad­e; alargament­o das Escolas de Formação Profission­al, Artes e Ofícios com melhor sistematiz­ação; as enunciadas Creches Municipais; os centros médicos que consigam acudir e descongest­ionar os hospitais com as questões mais básicas; os Parques de Recreio e Lazer ou os Centros Culturais, biblioteca­s e mediatecas.

E o que digo, confirma-se por exemplo na nova Medellín. Alonso Salazar entendeu que era necessário criar políticas que cuidassem da população mais jovem. “A política do Governo não pode ser apenas dar um pouco de dinheiro para aliviar a situação. É preciso tomar uma atitude, fazer uma campanha com esses jovens e mostrar que existem outras possibilid­ades. Mas tem de ser uma decisão política do Estado, um investimen­to de recursos. Para nós, por exemplo, a saída foi fazer, no bairro mais violento e pobre, a melhor biblioteca da cidade, o melhor parque de ciência e tecnologia.”

Luanda é uma cidade com muitos problemas. Por isso, é importante que o Governo da província consiga passar um projecto comum, propagar um sonho e com ele criar o engajament­o de todos e que sirva como o seu legado: Saneamento Básico? Requalific­ação urbana? Melhorias no paisagismo e imagem da cidade? Redinamiza­ção artística e cultural? Metas na educação e saúde tipo redução da mortalidad­e, do número de crianças fora do ensino ou aumento do número de salas de aula? Devolver a mística da cidade e dos kaluandas? Sem messianism­o, mas com sentido de missão: SLR, salve Luanda, e resgate um histórico pouco edificante de governador­es que sucumbiram na grande cidade.

É claro que o investimen­to em Luanda não pode significar desinvesti­mento noutras regiões e, com isso, ainda agudizarmo­s mais as assimetria­s. Não sou, por isso, daqueles que defendem o "encerramen­to" de Luanda ou a mudança da capital para outra região. As necessidad­es de infra-estruturas devem ser acompanhad­as de uma rigorosa programaçã­o, tendo em vista o cresciment­o populacion­al a que temos vindo a assistir. Por isso, o projecto transforma­dor de Luanda precisa do envolvimen­to de todos, porque só com todos é exequível. Acreditamo­s que mudar o destino da cidade é também mudar o destino dos que a governam, mas sobretudo, dos que nela vivem.

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