Alunos voltam a desmaiar no Sequele
Ontem desmaiaram 15 pessoas, entre as quais uma professora do ensino primário. No dia anterior, foram 76 casos ocorridos na mesma escola do Distrito Urbano do Sequele. Até às 13 horas, todos os alunos que desfaleceram já tinham recebido alta
Oito anos depois da criação de uma comissão interministerial, pelo ex-Presidente da República, para trabalhar no esclarecimento da origem dos desmaios em escolas, ainda não foram cientificamente determinadas as causas nem as substâncias tóxicas que podemestarnaorigemdofenómeno, que está a prejudicar o processo docente e educativo.
Os primeiros casos, ocorridos na província de Luanda, remontam ao ano de 2009 e, de lá para cá, o fenómeno já foi registado noutras províncias, o que terá motivado a criação da comissão interministerial, à qual foi dada, entre outras tarefas, a missão de avaliar o fenómeno dos desmaios, os mecanismos para normalizar a situação, responder às ocorrências e dar instruções aos responsáveis das escolas.
Depois de uma pausa prolongada, relatos de desmaios voltaram a assombrar a população estudantil. Em menos de duas semanas, desmaiaram, em três escolas da cidade do Sequele, município de Cacuaco, em Luanda, 322 alunos, maioritariamente do sexo feminino.
Curiosamente, na segunda-feira e ontem, foram registados desmaios, mas a maioria das vítimas está entre os 322 alunos que desfaleceram nos dias 5 e 8 deste mês. Na segunda-feira, desmaiaram 76 alunos e ontem 15. Uma professora também desmaiou ontem, um registo, para já, inédito, desde que o fenómeno começou a registar-se no país, em 2009.
Uma fonte médica, pertencente ao Centro Médico de Referência do Distrito Urbano do Sequele, declarou que as causas ainda são desconhecidas por não ter sido detectada nenhuma substância tóxica nas amostras de sangue e saliva retiradas a alunos que desmaiaram e cujos nomes já estão numa base de dados do estabelecimento de saúde.
Um grupo de especialistas do Laboratório Central de Criminalística, do Serviço de Investigação Criminal, esteve no local a fazer “trabalho de perícia”, mas nenhum integrante do grupo quis prestar declarações à imprensa.
Até às 13 horas, todos os alunos e a professora que desfaleceram ontem já tinham recebido alta médica, com a recomendação, de acordo com a fonte, de regressarem ao centro médico se forem acometidos de mal-estar.
Encarregados de educação das três escolas sediadas na cidade do Sequele manifestaram-se agastados com a situação, por não haver, até hoje, uma explicação sobre a origem dos casos de desmaios já reportados e por que a maioria das vítimas é do sexo feminino.
“Não consigo ter paz de espírito quando saio para ir trabalhar porque a minha filha pode um dia ser uma das vítimas”, disse, visivelmente aborrecido, João Miguel.
As opiniões recolhidas pelo Jornal de Angola convergiram na necessidade de as autoridades prestarem o mais rápido possível um esclarecimento público.
A comissão interministerial, dirigida por Ângelo de Barros Veiga Tavares, que, em 2011, já exercia o cargo de ministro do Interior, integra os ministros da Educação, Saúde, Ambiente, da Acção Social, Família e Promoção da Mulher e Comunicação Social.
O documento sobre a criação da comissão interministerial mencionava ainda a mobilização de especialistas em Medicina, Psicologia Clínica, Psiquiatria e de outras áreas do conhecimento para investigarem as causas dos desmaios, apoiarem os docentes dos estabelecimentos de ensino e interagirem com os órgãos de comunicação social para se evitar o alarme público.