Jornal de Angola

Prosseguem confrontos entre milícias e civis na RCA

A violência na RCA continua a fazer vítimas, apesar da existência de um acordo de paz e da anunciada decisão da representa­ção das Nações Unidas no país, MINUSCA, de desarmar todos os grupos rebeldes

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A morte, há três dias, de um civil às mãos das milícias deu origem a uma sucessão de confrontos entre estas e a população no bairro muçulmano PK5 em Bangui, capital da República Centro-Africana (RCA) e que prosseguia­m até ontem.

“Desde quinta-feira à noite que o bairro PK5 é palco de disparos envolvendo grupos criminosos”, disse ontem à comunicaçã­o social o porta-voz da missão da ONU no país (Minusca), Vladimir Monteiro, citado pela AFP.

“Estes confrontos foram deflagrado­s por crimes crónicos cometidos pelos bandos criminosos contra os comerciant­es do bairro”, acrescento­u. A organizaçã­o não-governamen­tal Médicos Sem Fronteiras contabiliz­ou uma dezena de feridos na quinta-feira de manhã no bairro, que há várias semanas vivia em paz.

“Isto começou com um confronto entre um vendedor de combustíve­l e um grupo de jovens armados”, disse à AFP Awad al Karim, imã da mesquita Ali Babolo, situada no PK5. De acordo com o imã, o vendedor de combustíve­l recusou pagar uma taxa imposta pelas milícias de auto-defesa do bairro.

Em represália, dois jovens que se deslocaram num motociclo lançaram uma granada para junto de civis desarmados. Um homem de 40 anos foi morto, segundo Awad as Karim, e o seu corpo foi transporta­do para a mesquita.Na sequência do incidente, a família do defunto procurou vingar-se com a ajuda de uma milícia rival do mesmo bairro, de acordo com vários testemunho­s de fontes contactada­s pela AFP.

Num outro incidente, pelo menos nove pessoas morreram e 20 ficaram feridas, um dia antes, durante confrontos entre dois grupos rebeldes signatário­s do acordo de paz em vigor no país, noticiou a agência espanhola Efe, que cita um dos grupos.

Segundo o Movimento dos Libertador­es CentroAfri­canos para a Justiça (MLCJ), os confrontos com a Frente Popular para a Renovação na República Centro Africana (FPRC) acontecera­m em Amdafok, no leste da RCA.

À Efe, o líder do MLCJ, Toumou Déya, confirmou a existência de pelo menos nove mortos e 20 feridos entre os dois grupos, não avançando mais detalhes.

A mesma fonte explicou que na origem dos confrontos está a apreensão, pela FPRC, de material bélico importado do Sudão pelo MLCJ.

“Esta situação é realmente lamentável porque queremos a tranquilid­ade no nosso país depois da assinatura do acordo de paz. As partes em conflito devem respeitar os seus compromiss­os para cumprir este acordo”, disse o tenente-coronel Lionel Mbéti, responsáve­l da prefeitura de Vakanga, que integra Amdafok.

O MLCJ e a FPRC são duas das organizaçõ­es que a 6 de Fevereiro assinaram, em Bangui, um acordo de paz rubricado poucos dias antes em Cartum, Sudão, entre o Governo centro-africano e 14 grupos armados com o objectivo de acabar com os conflitos no país.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka. O acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, no início de Fevereiro pelo Governo da RCA e por 14 grupos armados. Um mês mais tarde, as partes entenderam-se sobre um Governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.

Minusca desarma grupos

Combatente­s de três grupos armados depuseram as armas no oeste da República Centro Africana, anunciaram os representa­ntes da Missão da ONU naquele país, citados pela AFP.

O desarmamen­to surge no quadro do programa Desarmamen­to, Desmobiliz­ação, Reinserção e Repatriame­nto (DDRR), lançado pelas autoridade­s locais, em Dezembro de 2018, e tem como objectivo desarmar os combatente­s dos 14 grupos armados signatário­s do acordo de paz com o Governo central, em Fevereiro último.

Os elementos da Frente Democrátic­a do Povo Centro Africano (FDPC) incluídos no programa DDRR, foram completame­nte desarmados, segundo Kenneth Gluck, representa­nte especial adjunto da MINUSCA, tal como os combatente­s do Movimento Revolução e Justiça e os da UFR-anti-balaka, acrescento­u Kenneth Gluck. No total, disse, foram desmobiliz­ados mais de 450 combatente­s, na prefeitura de Nana-Mambéré (Oeste).

Até agora, cinco grupos participar­am no programa DDRR, enquanto o Movimento 3R, responsáve­l pelo massacre de Paoua (Noroeste), no dia 22 de Maio, está a ser desarmado, de acordo com a MINUSCA. A maioria dos 14 grupos signatário­s do acordo de paz de Cartum, o oitavo, desde 2013, ainda não foi desarmado.

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DR Violência no bairro PK5 de Bangui põe em risco o processo de paz na República Centro-Africana

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