Aumenta o número de doentes hemofílicos
Doentes hemofílicos passam por dificuldades, porque os hospitais, excepto o Pediátrico de Luanda, não têm condições de atendê-los. Muitos destes residem no Centro e Sul do país e têm procurado soluções na República da Namíbia
Face ao aumento do número de crianças hemofílicas, o médico pediatra Luís Bernardino aconselha as pessoas, antes de qualquer relação conjugal, a submeterem-se a testes, para evitar que os filhos nasçam afectados por esta doença genética.
O médico do Hospital Pediátrico de Luanda considerou, ontem, ser importante que se dê uma atenção redobrada aos doentes hemofílicos, a julgar pelo aumento de casos que se regista nos últimos tempos no país, face ao desconhecimento de muitas pessoas.
Luís Bernardino disse tratar-se de uma doença genética e hereditária, e que, nestes casos, aconselha-se as pessoas antes de qualquer relação conjugal a submeterem-se a testes para evitar que a criança seja afectada.
O especialista em Pediatria esclarece que a hemofilia é um distúrbio genético e hereditário que afecta a coagulação do sangue, referindo ser uma doença desconhecida por muitos, pouco divulgada e que pode levar à morte.
“Pouco ou nada se sabe sobre a hemofilia, sua manifestação e forma de tratamento, mas os números tendem a crescer a cada ano que passa”, alertou, sublinhando que o sangue é composto por várias substâncias e cada uma exerce a sua função.
Justificou que algumas dessas substâncias são as proteínas, denominados factores de coagulação que ajudam a estancar as hemorragias quando ocorre o rompimento de vasos sanguíneos.
Por exemplo, disse que, no caso do hemofílico, se nota a ausência do factor oito e nove, o que origina sangramento anormal e intenso na criança, onde a hemorragia não pára sem que haja uma intervenção médica.
De acordo com o especialista, existem 13 tipos de factores diferentes de coagulação que são activados apenas quando ocorre o rompimento do vaso sanguíneo, onde o primeiro acciona o seguinte até surgir a formação do coágulo de activação dos restantes.
O número de doentes hemofílicos tende a aumentar no país, mas, segundo Luís Bernardino, não se sabe quantos existem, porque não há uma estatística a nível do país. Esclarece apenas que são muitos e boa parte destes, entre crianças e adultos, recorre à Pediatria e ao Hospital Geral de Luanda para serem atendidos.
“São identificados, com muita frequência, vários doentes e pessoas portadoras em diferentes pontos do país. Só no Hospital Pediátrico de Luanda, temos o registo de centenas de casos de pacientes que precisam da administração, regular, de factores oito e nove de coagulação”, aclarou.
Alertou que os doentes hemofílicos passam por inúmeras dificuldades, porque os hospitais, excepto o pediátrico, não têm de condições de atendê-los. Frisou que muitos doentes do centro e sul do país têm procurado soluções na República da Namíbia, enquanto os de outras províncias vêm a Luanda em busca de tratamento.
Apesar dos crescentes casos, Luís Bernardino reconhece o apoio que o Ministério da Saúde, a Federação Mundial de Hemofilia e outras associações, que se dedicam à luta contra a doença, têm prestado ao Hospital Pediátrico de Luanda.
O médico Luís Bernardino disse, por outro lado, que, apesar dos apoios, é importante que se crie, com urgência, um programa, capaz de permitir o recenseamento dos doentes no país, a formação de agentes de saúde habilitados para diagnosticar e tratar da doença, assim como o reforço dos recursos laboratoriais, para permitir análises prematuras.
Há mais de 30 anos na profissão,oespecialistaemPediatria considera fundamental começar-se a educar mais as pessoas sobre as doenças, sobretudo as populações mais carentes e de zonas rurais.
“A doença é passada de mãe portadoras do gene, para os filhos, pelo facto de a percentagem de transmissão ser de 50 por cento. Por isso, os doentes hemofílicos têm muitas deficiências. Às vezes, em casos graves, pode surgir uma hemorragia logo à nascença, no momento do corte do cordão umbilical. O pior é que a hemofilia não tem cura e os doentes são dependentes toda a sua vida, tal como acontece com os diabéticos”, alertou
O pediatra destacou o facto de hoje em Luanda e em outras cidades do país existirem várias crianças e jovens afectadas fisicamente por esta doença, ao ponto de terem de usar apoios ortopédicos.
“As hemorragias profundas provocam artropatias e anquiloses articulares que dificultam ou mesmo destroem o movimento articular e causam lesões irreversíveis a nível dos membros, podendo deixar o doente inválido para sempre”, explicou.