Pedro Sánchez apresenta o programa do Governo
Quase três meses após a vitória eleitoral sem maioria, o líder socialista chegou ontem ao debate de investidura sem ter finalizado um pacto que garanta os votos dos deputados da Unidas Podemos
O líder socialista espanhol, Pedro Sánchez, prometeu apresentar propostas para um Governo “progressista, europeísta, ecologista e feminista” antes do discurso de investidura. Contudo, quase três meses após a vitória eleitoral sem maioria, chegou ontem ao Congresso espanhol sem ter finalizado um pacto com a aliança Unidas Podemos, cujos votos precisa para deixar de ser Primeiro-Ministro interino e dar início a uma nova legislatura.
Antes de discursar diante dos deputados, Sánchez pediu nas redes sociais “responsabilidade” para que a Espanha “continue a avançar”: “em justiça social, em convivência, em limpeza democrática”, e prometeu apresentar propostas para um Governo “progressista, europeísta, ecologista e feminista.”
“Em 1979, há 40 anos, celebrou-se o primeiro debate de investidura”, lembrou Sánchez, dizendo que não havia os buracos de bala no tecto no hemiciclo (restos da tentativa de golpe do 23 de Fevereiro de 1981) e o espaço estava cheio de fumo do tabaco dos deputados, na sua maioria homens. “Passou muito tempo, mas o ritual de investidura continua a ser o mesmo”, explicou, dizendo que vai “solicitar a confiança, apelar à responsabilidade e à generosidade” dos deputados, para acabar com o bloqueio em Espanha.
Sánchez defende que Espanha é hoje “uma democracia plena que contribui para o fortalecimento do nosso projecto comum, que é a Europa”. E que, nas urnas, os espanhóis o que fizeram foi “avançar e não retroceder”. E conseguiu o primeiro aplauso da Câmara quando disse que o mandato que os eleitores deram foi o de “avançar e repudiar com todas as nossas forças toda a tentativa de banalização da violência que sofre a metade da população pelo facto de ser mulher”.
Sánchez oferece um primeiro “pacto de Estado”, referente a uma reforma eleitoral. “Os cidadãos não devem nunca mais sofrer uma ameaça de repetição eleitoral. Com uma votação basta”, defendeu.
O líder socialista propõe “um Governo que crie pontes e olhe para a frente”.
Desafios
Sánchez defende que há “seis desafios onde Espanha joga o presente e futuro mais imediato”. Um deles responde à principal preocupação dos cidadãos: “o emprego digno e a sustentabilidade das pensões”. “O segundo desafio tem a ver com a revolução tecnológica”, defende Sánchez, alertando para o facto de 21,7 por cento dos empregos em Espanha estarem em risco de automatização e de desaparecerem. Defende que o país lidere a revolução digital na Europa.
O terceiro desafio enumerado por Sánchez são as alterações climáticas, lembrando que este é um desafio global mas que Espanha está “especialmente exposta”. O líder socialista quer que a Espanha lidere a luta contra as alterações climáticas, “convertendo este desafio numa oportunidade de prosperidade e progresso seguro para o conjunto da sociedade espanhola”.
O quarto desafio é a igualdade “real e efectiva” entre homens e mulheres, com Sánchez a falar nos números trágicos da violência de género, que, em 2018, representou quase um quinto dos homicídios registados em Espanha e que, numa década, houve mais de mil mulheres assassinadas. “Este flagelo tem um nome, violência machista, não tem apelido ou eufemismo, é cometido em casa ou numa manada. Quem quiser inventar conspirações, que tenha algo claro: vão ternos pela frente”, disse, novamente aplaudido.
O quinto desafio de que Sánchez fala é a desigualdade social: “Vivemos numa sociedade que não dá as mesmas oportunidades a todos e não é certo que a desigualdade seja consequência da falta de mérito”, afirmou, falando, por exemplo, da “insuportável taxa de pobreza infantil” que afecta 26 por cento dos menores. E reitera que quer Espanha “na primeira linha da luta contra a desigualdade social”.
O sexto e último desafio é a posição global, defendendo a protecção da Europa, dos seus ideais, valores, de um modelo social único no mundo. “Todos os países europeus juntos somos um gigante”, defende, falando da Europa como o “espaço no qual se superam os nacionalismos que levaram a duas guerras mundiais”. E acrescenta: “Europa é paz”.
E faz uma referência à Catalunha, sem mencionar directamente. “Que sentido tem fomentar a desunião, a desagregação, a divisão dentro de Espanha quando precisamos de mais União Europeia?”, questiona Sánchez. “A superação das nossas tensões territoriais derivará de um projecto colectivo de inspiração europeísta”, acrescentou.
O líder socialista propõe, nesta legislatura, começar a “segunda grande transformação em Espanha”. Sánchez diz que Espanha construiu “um dos sistemas de saúde mais eficientes do mundo”, mas que diante dos novos desafios propõe uma aposta na Educação.