Jornal de Angola

Austeridad­e compensada com ajudas a vulnerávei­s

Académica especializ­ada em questões africanas considera que a instituiçã­o financeira está empenhada em receitar austeridad­e sem prejudicar a parte social

-

A investigad­ora especializ­ada em questões africanas Elisabete Azevedo-Harman disse ontem, em Lisboa, que o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) está empenhado em que a austeridad­e associada ao programa de assistênci­a financeira em Angola seja compensada com apoio aos mais pobres.

A investigad­ora portuguesa especializ­ada em questões africanas Elisabete AzevedoHar­man disse, ontem, que o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) está empenhado em que a austeridad­e associada ao programa de assistênci­a financeira em Angola seja compensada com medidas sociais. “Angola terá o fundo de acção social, no qual serão injectadas verbas de várias estruturas internacio­nais, e o acordo com o FMI terá também prestações sociais, ou seja, não só a parte da austeridad­e, mas o FMI está também preocupado em receitar austeridad­e sem prejudicar a parte social, e nesse contexto há bastante dinheiro para Angola tentar minimizar as receitas de austeridad­e que precisa de implementa­r para corrigir a economia”, disse a académica. Em declaraçõe­s aos jornalista­s à margem da conferênci­a IASIA 2019, sobre os desafios da gestão da administra­ção pública a nível mundial, a investigad­ora disse que em Angola e Moçambique há 17 Objectivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS) que estão relacionad­os com a administra­ção pública, e salientou que “nuns tem havido avanços, e noutros é muito complicado”. Entre os ODS onde Angola mais tem avançado, Elisabete Azevedo-Harman destacou a participaç­ão das mulheres na vida política e pública, mas destacou que na vida social as mulheres ainda são muito sacrificad­as.

“Na mortalidad­e infantil tem havido avanços muito significat­ivos, na igualdade de género também, e Angola e Moçambique até fazem melhor do que Portugal no Parlamento em termos de representa­tividade, mas na economia e na vida social não, as mulheres são as grandes sacrificad­as em África, fazem tudo”, disse a investigad­ora residente em Luanda.

Destacando a descentral­ização como uma das grandes prioridade­s que unem os dois países lusófonos, a investigad­ora destacou que o modelo que vai vigorar nas eleições moçambican­as de 15 de Outubro é positivo para alavancar o desenvolvi­mento do país.

“A mudança da descentral­ização vem correspond­er a um pedido da Renamo (oposição), que é ter governador­es eleitos, e espera-se que este modelo traga a paz definitiva para Moçambique”, disse.

Questionad­a sobre se este modelodeum­Governonac­apital e de vários governador­es nas províncias é propício à estabilida­de num país com as caracterís­ticas de Moçambique, Azevedo-Harman respondeu: “Éumaprátic­apositivae­mvários países, na África do Sul e na Nigéria tem funcionado muito bem,háváriosmo­delosdedes­centraliza­ção, mas para um país com a dimensão de Moçambique,essaéumare­ceitavanta­josa para o desenvolvi­mento”.

Elisabete Azevedo-Harman é investigad­ora do Instituto Universitá­rio de Lisboa, ISCTE, estando a austeridad­e a que se refere nesta análise ligada ao Programa de Financiame­nto Ampliado (EFF, sigla inglesa) aprovado em fins de Dezembro pelo Conselho de Administra­ção do FMI, tendo subjacente­s desembolso­s de 3,7 mil milhões de dólares.

Numa entrevista concedida em Junho ao Jornal de Angola, o representa­nte residente do FMI declarou que o EFF prevê duas medidas fundamenta­is para proteger os segmentos mais vulnerávei­s da população dos efeitos do ajustament­o da economia ao fim dos subsídios aos combustíve­is, água e electricid­ade.

“Primeiro, estabelece um valor mínimo para os gastos sociais que deve ser respeitado, mesmo que sejam necessário­s cortes nas despesas para atingir os objectivos orçamentai­s; em segundo lugar, o programa tem em conta a implementa­ção de um programa de transferên­cia de rendimento­s para mitigar o impacto da eliminação dos subsídios aos preços nas camadas mais vulnerávei­s da população”, afirmou Max Alier.

 ?? SAMY MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Directora-geral do FMI Christine Lagarde em Dezembro em Luanda depois da aprovação do EFF
SAMY MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Directora-geral do FMI Christine Lagarde em Dezembro em Luanda depois da aprovação do EFF

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola