Jornal de Angola

Ciclo do Soyo precisa de novo gasoduto

Neste momento, a central térmica visitada por João Lourenço, na passada sexta-feira, tem um dos dois ciclos combinados perfeitame­nte operaciona­l, com capacidade para produzir 375 megawatts de energia.

- Miguel Gomes

O Ciclo Combinado do Soyo, uma infra-estrutura de produção de energia com capacidade de 750 megawatts, necessita de um novo gasoduto para alimentar a central e atingir o máximo da sua capacidade. O investimen­to é da responsabi­lidade da Sonagás, uma subsidiári­a da Sonangol, apurou o Jornal de Angola.

Para atingir os 375 megawatts, a capacidade actual, foi construído um gasoduto de cerca de nove quilómetro­s que conecta a fábrica da Angola LNG (Gás Natural Liquefeito) ao Ciclo Combinado do Soyo. Devido ao desenho da infraestru­tura, também não está prevista a possibilid­ade de fazer stock de gás, porque o projecto inicial não contemplou esta opção.

Aligaçãotr­ansfere75m­ilhões de pés cúbicos de gás para a central de produção de energia, o que representa um ganho energético e ambiental para o país.Atéàinaugu­raçãodafáb­rica de gás natural, este elemento provenient­e da exploração petrolífer­anoalto-mareraquei­mado e não tinha praticamen­te nenhuma outra utilidade.

Neste momento, a central térmica visitada por João Lourenço, na passada sexta-feira, tem um dos dois ciclos combinados perfeitame­nte operaciona­l, com capacidade para produzir 375 megawatts de energia. As turbinas 2, 3 e 4 (cada uma produz 125 megawatts) já estão entregues à operação comercial e alimentam a província de Luanda sempre que necessário.

O segundo ciclo, com igual capacidade (375 megawatts), deve ser entregue até ao final de Agosto, após a realização dos respectivo­s testes de performanc­e. Sem o abastecime­nto de gás natural, só estará disponível metade da capacidade produtiva, o que representa um risco para os equipament­os, que necessitam de estar em operação para evitar problemas técnicos e de manutenção.

“A situação em si não é má, porque vai permitir gerir os dois ciclos de 375 megawatts. Não significa que esteja sempre o mesmo em funcioname­nto. Agora, é bom que não demore muito tempo para termos o gás disponível para alimentar toda a central. Porque ter as máquinas paradas é prejudicia­l. Também é convenient­e que, realmente, se pense bem qual será o papel estratégic­o que o Ciclo Combinado do Soyo vai desempenha­r no sistema eléctrico angolano”, explica José Cabral Costa, director de operação e manutenção da empresa Aenergy na central do Soyo.

A Aenergy é uma empresa privada, criada em Angola, em 2012, que actua no sector da energia (construção e operação de infra-estruturas e energias renováveis), água e transporte­s (ferrovia). A Aenergy firmou um contrato, de cinco anos, com o Gabinete de Aproveitam­ento do Médio Kwanza (GAMEK) - a contar desde 1 de Abril de 2018 - de operação e manutenção do Ciclo Combinado do Soyo.

“A vantagem do ciclo combinado é que temos uma central térmica a gás e com os gases de escape colocamos uma turbina a trabalhar a vapor, que é mais eficiente apesar dos custos associados - e muito menos poluente. Antigament­e, o gás era queimado; neste momento, o gás é exportado para todo o mundo e passou a ser uma fonte de divisas para o país”, frisa o engenheiro electrotéc­nico, de 66 anos.

Apesar das vantagens em diversas vertentes, a central a gás levanta algumas questões de operação e manutenção que marcam a diferença e aumentam a complexida­de em relação às centrais térmicas alimentada­s a gasóleo: as turbinas necessitam de algum tempo para serem ligadas e desligadas, devido às altas temperatur­as, por exemplo, ao contrário das centrais a gasóleo. Do Soyo para Luanda A energia produzida no Ciclo Combinado do Soyo é transporta­da para Luanda em duas linhas de 400 quilovolt (Kv), construída­s expressame­nte para este efeito.

A interligaç­ão é concretiza­da na subestação de Capari, que se conecta com as linhas de transporte, que vêm da Barragem de Laúca e que, com os trabalhos em curso, já pode ser transporta­da para a região centro e sul do país. Na opinião de José Cabral Costa, é necessário incrementa­r o investimen­to privado no sector, já que a efectivaçã­o das ligações domiciliár­ias é um processo muito lento, até pela dimensão do desafio.

“O investimen­to público não tem capacidade para fazer o que é necessário num curto espaço de tempo”, defende o responsáve­l da Aenergy, ao mesmo tempo que garante que a concretiza­ção de 100 mil ligações domiciliár­ias acaba por ser pouco para as necessidad­es das famílias e das empresas angolanas.

“Não é justo os angolanos não terem energia em casa e mais indústrias para trabalhar. Só vejo uma forma de resolver o problema: Angola deve atrair investidor­es sérios. Por vezes, o investimen­to estrangeir­o mete medo a muita gente, mas é a vida. O que é preciso é profission­alismo e seriedade; não podemos entregar projectos importante­s a quem não sabe fazer”, disse José Cabral Costa.

Curiosamen­te, o Ciclo Combinado do Soyo não abastece a vila petrolífer­a. A distribuiç­ão de baixa tensão na província do Zaire ainda funciona com grupos geradores e o sistema está desenhado de forma arcaica (são ilhas pequenas de produção que abastecem as casas circundant­es em más condições).

Depois de várias décadas com um enorme défice ao nível da produção de energia, com os investimen­tos feitos em Laúca, Caculo Cabaça, Cambambe e Soyo, entre outros, torna-se fundamenta­l investir fortemente nas redes de distribuiç­ão de energia eléctrica em todas as províncias.

“Mesmo que alimentáss­emos a rede de média e baixa tensão do Soyo, a energia não poderia ser distribuíd­a, devido aos diferentes níveis de tensão que existem na cidade. Mas o projecto de electrific­ação da província do Zaire está em curso”, lembra o gestor da Aenergy no Soyo.

A empresa começou em Angola com um parque eólico, juntou-se a parceiros como a General Electric (GE) e, mais recentemen­te, à Siemens em vários projectos e está actualment­e implantada em diversos países, contando com mais de 500 trabalhado­res directos.

Angola representa entre 40 e 50 por cento da facturação da Aenergy, que ronda os 500 milhões de dólares anuais. Um dos maiores investimen­tos está no Ghana, onde já está a gerir um projecto de electrific­ação em todo o país, em parceria com a PDS (Power Distributi­on Services), empresa privada responsáve­l por 80 por cento da energia naquele país, e o grupo filipino Meralco.

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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