Ciclo do Soyo precisa de novo gasoduto
Neste momento, a central térmica visitada por João Lourenço, na passada sexta-feira, tem um dos dois ciclos combinados perfeitamente operacional, com capacidade para produzir 375 megawatts de energia.
O Ciclo Combinado do Soyo, uma infra-estrutura de produção de energia com capacidade de 750 megawatts, necessita de um novo gasoduto para alimentar a central e atingir o máximo da sua capacidade. O investimento é da responsabilidade da Sonagás, uma subsidiária da Sonangol, apurou o Jornal de Angola.
Para atingir os 375 megawatts, a capacidade actual, foi construído um gasoduto de cerca de nove quilómetros que conecta a fábrica da Angola LNG (Gás Natural Liquefeito) ao Ciclo Combinado do Soyo. Devido ao desenho da infraestrutura, também não está prevista a possibilidade de fazer stock de gás, porque o projecto inicial não contemplou esta opção.
Aligaçãotransfere75milhões de pés cúbicos de gás para a central de produção de energia, o que representa um ganho energético e ambiental para o país.Atéàinauguraçãodafábrica de gás natural, este elemento proveniente da exploração petrolíferanoalto-mareraqueimado e não tinha praticamente nenhuma outra utilidade.
Neste momento, a central térmica visitada por João Lourenço, na passada sexta-feira, tem um dos dois ciclos combinados perfeitamente operacional, com capacidade para produzir 375 megawatts de energia. As turbinas 2, 3 e 4 (cada uma produz 125 megawatts) já estão entregues à operação comercial e alimentam a província de Luanda sempre que necessário.
O segundo ciclo, com igual capacidade (375 megawatts), deve ser entregue até ao final de Agosto, após a realização dos respectivos testes de performance. Sem o abastecimento de gás natural, só estará disponível metade da capacidade produtiva, o que representa um risco para os equipamentos, que necessitam de estar em operação para evitar problemas técnicos e de manutenção.
“A situação em si não é má, porque vai permitir gerir os dois ciclos de 375 megawatts. Não significa que esteja sempre o mesmo em funcionamento. Agora, é bom que não demore muito tempo para termos o gás disponível para alimentar toda a central. Porque ter as máquinas paradas é prejudicial. Também é conveniente que, realmente, se pense bem qual será o papel estratégico que o Ciclo Combinado do Soyo vai desempenhar no sistema eléctrico angolano”, explica José Cabral Costa, director de operação e manutenção da empresa Aenergy na central do Soyo.
A Aenergy é uma empresa privada, criada em Angola, em 2012, que actua no sector da energia (construção e operação de infra-estruturas e energias renováveis), água e transportes (ferrovia). A Aenergy firmou um contrato, de cinco anos, com o Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK) - a contar desde 1 de Abril de 2018 - de operação e manutenção do Ciclo Combinado do Soyo.
“A vantagem do ciclo combinado é que temos uma central térmica a gás e com os gases de escape colocamos uma turbina a trabalhar a vapor, que é mais eficiente apesar dos custos associados - e muito menos poluente. Antigamente, o gás era queimado; neste momento, o gás é exportado para todo o mundo e passou a ser uma fonte de divisas para o país”, frisa o engenheiro electrotécnico, de 66 anos.
Apesar das vantagens em diversas vertentes, a central a gás levanta algumas questões de operação e manutenção que marcam a diferença e aumentam a complexidade em relação às centrais térmicas alimentadas a gasóleo: as turbinas necessitam de algum tempo para serem ligadas e desligadas, devido às altas temperaturas, por exemplo, ao contrário das centrais a gasóleo. Do Soyo para Luanda A energia produzida no Ciclo Combinado do Soyo é transportada para Luanda em duas linhas de 400 quilovolt (Kv), construídas expressamente para este efeito.
A interligação é concretizada na subestação de Capari, que se conecta com as linhas de transporte, que vêm da Barragem de Laúca e que, com os trabalhos em curso, já pode ser transportada para a região centro e sul do país. Na opinião de José Cabral Costa, é necessário incrementar o investimento privado no sector, já que a efectivação das ligações domiciliárias é um processo muito lento, até pela dimensão do desafio.
“O investimento público não tem capacidade para fazer o que é necessário num curto espaço de tempo”, defende o responsável da Aenergy, ao mesmo tempo que garante que a concretização de 100 mil ligações domiciliárias acaba por ser pouco para as necessidades das famílias e das empresas angolanas.
“Não é justo os angolanos não terem energia em casa e mais indústrias para trabalhar. Só vejo uma forma de resolver o problema: Angola deve atrair investidores sérios. Por vezes, o investimento estrangeiro mete medo a muita gente, mas é a vida. O que é preciso é profissionalismo e seriedade; não podemos entregar projectos importantes a quem não sabe fazer”, disse José Cabral Costa.
Curiosamente, o Ciclo Combinado do Soyo não abastece a vila petrolífera. A distribuição de baixa tensão na província do Zaire ainda funciona com grupos geradores e o sistema está desenhado de forma arcaica (são ilhas pequenas de produção que abastecem as casas circundantes em más condições).
Depois de várias décadas com um enorme défice ao nível da produção de energia, com os investimentos feitos em Laúca, Caculo Cabaça, Cambambe e Soyo, entre outros, torna-se fundamental investir fortemente nas redes de distribuição de energia eléctrica em todas as províncias.
“Mesmo que alimentássemos a rede de média e baixa tensão do Soyo, a energia não poderia ser distribuída, devido aos diferentes níveis de tensão que existem na cidade. Mas o projecto de electrificação da província do Zaire está em curso”, lembra o gestor da Aenergy no Soyo.
A empresa começou em Angola com um parque eólico, juntou-se a parceiros como a General Electric (GE) e, mais recentemente, à Siemens em vários projectos e está actualmente implantada em diversos países, contando com mais de 500 trabalhadores directos.
Angola representa entre 40 e 50 por cento da facturação da Aenergy, que ronda os 500 milhões de dólares anuais. Um dos maiores investimentos está no Ghana, onde já está a gerir um projecto de electrificação em todo o país, em parceria com a PDS (Power Distribution Services), empresa privada responsável por 80 por cento da energia naquele país, e o grupo filipino Meralco.