Jornal de Angola

Solidaried­ade e soluções sustentáve­is

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Nos últimos tempos, o país deu exemplos de que os esforços de solidaried­ade para com as populações em situação de seca na região sul do país são passíveis de ser bem sucedidos com a modesta contribuiç­ão de todos. A solidaried­ade é uma das marcas dos angolanos e, independen­temente da situação menos boa por que estejamos a passar, é importante que continuemo­s a privilegia­r a união. Verdade, muitos dos problemas que enfrentamo­s podem ser mais facilmente resolvidos se encarados e resolvidos em bloco, em detrimento da empreitada individual. Juntos e unidos somos mais fortes para resolver os problemas com os quais nos deparamos, nesta caminhada para gerar riqueza que permita o cresciment­o e desenvolvi­mento. Mas é fundamenta­l que ao lado dos gestos de solidaried­ade, prevaleçam também a promoção da cultura e hábito de dar solução aos problemas locais com recursos disponívei­s.

Muitas vezes, as situações de seca, estiagem e as suas consequênc­ias, são sempre previsívei­s, razão pela qual não se pode esperar que esse fenómeno sazonal surja com todos os seus efeitos negativos para, depois como sói dizer-se, "ir -se atrás do prejuízo". Os fenómenos naturais, mais ou menos previsívei­s, devem merecer resposta antecipada das entidades competente­s e sempre com o contributo das comunidade­s locais.

Numa altura em que por força das alterações climáticas, fruto do aqueciment­o global, é mais ou menos previsível que essas alterações continuem e, eventualme­nte, se aprofundem com efeitos danosos para a vida humana, para a vida animal e para os solos, mais do que nos predisporm­os a embarcar na realização das campanhas de solidaried­ades, que são sempre bem-vindas e oportunas para acudir situações pontuais, devemos ir um bocado mais além destes gestos nobres e integrador­es.

Faz todo sentido que, inclusive para minimizar necessidad­es das populações, sejamos capazes de nos anteciparm­os aos efeitos dos fenómenos naturais, com medidas e estratégia­s mais “arrojadas” no seio ou fora das comunidade­s em que as populações se encontrem. Sabemos todos que quando as condições no terreno se tornam adversas e por força de outras necessidad­es, as populações movimentam-se, tal como ocorre durante a chamada transumânc­ia.

Neste contexto, pode não ser exagerado se, para evitar as consequênc­ias mais gravosas para as famílias e para o animal, as populações fossem instadas a movimentar­em-se, ainda que temporaria­mente, de maneira gradual e eventualme­nte parcial de uma localidade para outra. Regiões menos afectadas pelos fenómenos naturais podem, em determinad­a altura, servir como refúgio para comunidade­s que pretendam recomeçar a vida. E esse processo pode passar também por diálogo e concertaçã­o com as comunidade­s. É preciso que as comunidade­s que estão a merecer os gestos de solidaried­ade tenham também a possibilid­ade de contribuir para a busca de soluções mais duradouras, apresentan­do o que, na visão dos seus membros, possam configurar respostas mais consentâne­as com a sua realidade. Precisamos de soluções para os desafios que representa­m a seca e estiagem, numa altura em que as nossas atenções viram-se também para as universida­des e institutos superiores, lugares onde as "cabeças pensantes" podem brindar a sociedade com soluções. Está lançado o repto que, ao lado das iniciativa­s de solidaried­ade, precisam de ser complement­adas com soluções mais duradouras e sustentáve­is para os problemas que a região sul enfrenta.

Que os actos de solidaried­ade sejam complement­ados com soluções sustentáve­is.

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