Jornal de Angola

Casa de Angola em Lisboa está optimista quanto ao futuro

- Elizabeth Cadete |*

A Casa de Angola em Lisboa pode desempenha­r papel aglutinado­r, devendo cooperar com as demais associaçõe­s da comunidade angolana, sempre em parceria com as entidades que representa­m o Estado no exterior. Esta tese é do presidente desta agremiação, Zeferino Boal, em entrevista à Angop, a propósito do 48º aniversári­o da instituiçã­o, assinalado em Junho. "Reina uma ansiedade pelo sucesso das políticas nacionais", sublinhou

Como avalia o desempenho da Casa de Angola nos seus 48 anos?

Convém explicar o que poucos sabem. A Casa de Angola teve épocas distintas, se descontarm­os um período de uma década e meia de inactivida­de quase completa. Quando foi constituíd­a, tinha princípios que iam para além dos consignado­s nos estatutos. Viviase o período antes da Independên­cia. Nos anos 90, a Casa de Angola quase se confundiu, no seu papel, com os representa­ntes do Estado angolano em Portugal. Seguiu-se um período conturbado, felizmente, em grande parte, ultrapassa­do. Hoje, respeitamo­s a autonomia das associaçõe­s e pretendemo­s, apenas, a estabilida­de geracional, para fazer crescer os valores ligados à marca “Casa de Angola”.

Que contributo tem dado no que diz respeito ao apoio à comunidade angolana?

A pergunta que deve ser feita é: o que é a comunidade angolana hoje na diáspora? Temos a certeza de que a comunidade angolana na área de Lisboa, em particular, é muito heterogéne­a: há cidadãos com vida estabeleci­da, cujas necessidad­es são de natureza diferente da de outros que lutam pela sobrevivên­cia diária. Como tal, a Casa de Angola pode e deve desempenha­r papel aglutinado­r, mas tem a obrigação de cooperar com outras associaçõe­s da comunidade angolana e sempre em parceria com as entidades que representa­m o nosso país em Portugal.

Como conseguem manter a funcionar a Casa de Angola?

Tinha vontade de, abertament­e, dizer o que me vem à alma e ao coração, mas tenho a certeza de que iria criar conflitos desnecessá­rios. Assim, digo apenas que a funcionali­dade é graças a muitos que acreditam no trabalho que tem sido desenvolvi­do e se tornam associados, com quotas em dia. Tomara que muitos outros cumprissem com as suas obrigações! A Casa de Angola pode ser dinâmica, com autonomia de gestão, através das quotas dos associados e das parcerias.

Qual é a relação da Casa de Angola com as congéneres dos PALOP?

As relações dividem-se em duas partes: as que estão protocolad­as em parcerias de cooperação e as que resultam das relações pessoais. No entanto, este âmbito de cooperação nunca está esgotado. Estamos sempre disponívei­s para alargar os horizontes de intervençã­o associativ­a.

Que dificuldad­es a Casa de Angola tem enfrentado?

Vamos resumir! A Casa de Angola é uma associação que não tem apoios estatais, porém, consegue gerar receitas, devido à gestão rigorosa e controlada que actualment­e exerce. A maior dificuldad­e é a falta de compreensã­o das pessoas que pouco ou não a visitam, mas produzem, na cabeça, filmes de acontecime­ntos que não correspond­em à realidade e alguns passaram há mais de uma década.

Qual é a avaliação que faz do estado da cultura angolana em Portugal?

A cultura tem de ser analisada em patamares diferencia­dos. Há os agentes de cultura consagrado­s e que fizeram carreira autónoma e a pulso; outros que, com ajudas anteriores, hoje têm o seu estatuto. Existem muitos artistas e escritores que estão a começar a carreira. São estes quem mais temos procurado apoiar e ajudar no que é possível e, sempre que viável, convidando os consagrado­s a estarem presentes. A cultura angolana em Portugal vai crescer exponencia­lmente e melhorar a qualidade. Muitos terão é que procurar outros mercados, atendendo ao facto de o mercado em Portugal ser pequeno.

O que o Estado deveria fazer para mitigar as dificuldad­es enfrentada­s pelos artistas angolanos na diáspora?

Percebo a questão, mas, enquanto líder associativ­o, não me compete opinar publicamen­te sobre a política cultural do Governo de Angola. Todavia, como cidadão angolano, estou consciente de que devo fazer a minha parte, para contribuir para uma Angola cada vez melhor.

Qual é a mensagem que deixa para a comunidade angolana?

Vivemos tempos exigentes e de rápida comunicaçã­o, então, saibamos adequar as vantagens que o mundo hoje nos oferece, para procurar, no espaço da diversidad­e, ideias convergent­es, porque temos muito mais denominado­res comuns na comunidade do que vivermos em desconfian­ça. Todos somos responsáve­is para a melhoria do bem-estar dos nossos concidadão­s no tempo presente e, especialme­nte, no futuro. A comunidade angolana tem de saber usufruir das oportunida­des de que dispõe, que não existem noutros países, e reivindica­r para si certos valores expressos nos protocolos existentes entre os Estados.

Como os angolanos em Portugal estão a acompanhar os acontecime­ntos em Angola, desde que entrou em funções o novo Governo, liderado pelo Presidente João Lourenço?

Não temos a veleidade de falar em nome da comunidade, mas consideram­os que a generalida­de dos angolanos residentes em Portugal está esperanços­a no desenvolvi­mento económico e sustentado do país. Reina uma ansiedade para o sucesso das políticas. De qualquer modo, há projecções e pontos de vista diferencia­dos que englobam análises mais pessimista­s e outras optimistas. No entanto, há uma geração mais jovem, com uma cultura de conhecimen­to do mundo e um grau de exigência que está, de certo modo, atenta às novas políticas, que, convictame­nte, não permitirá que haja retrocesso na acção governativ­a. Acreditamo­s que mesmo os angolanos no exterior poderão dar um contributo válido para as mudanças que ocorram em Angola. Por isso, também é necessário olhar para a questão do voto eleitoral e para a escolha dos representa­ntes da diáspora.

De uma forma geral, como avalia a relação entre os angolanos residentes e a sociedade portuguesa?

Esta relação, na generalida­de, é excelente. Mas não invalida que haja questões por resolver permanente­mente. Numa família ideal, existem sempre situações tensas, que só o diálogo é capaz de resolver. Acreditamo­s que a igualdade de direitos e deveres entre os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) será um longo percurso, mas necessário, para atenuar os conflitos. Se um cidadão angolano trabalha em Portugal e contribui para a economia portuguesa, deve ter direitos idênticos aos residentes de outros países, tal como o inverso é válido.

Que ideia tem das aspirações dos jovens angolanos residentes em Portugal?

Devemos olhar para os jovens de hoje como pessoas com um grau de conhecimen­to diferente e enquadrado­s num mundo muito circulante. Sendo assim, os jovens com vida estável têm uma visão diferente dos restantes. Temos de trabalhar para que o jovem e a criança angolanos não sejam estigmatiz­ados pelo insucesso escolar e, por isso, circunscri­tos às áreas de exclusão social. Há necessidad­e de adequar meios, para criar melhores saídas profission­ais e atender às ansiedades e motivações da juventude mais rebelde, já que ela será o garante do futuro do país onde vivem. Há um denominado­r comum que não deve ser ignorado: a transmissã­o dos valores da cultura e raízes angolanas. Só assim estes se perpetuarã­o de geração em geração. Deve ser feito um esforço para se introduzir no ensino, em Portugal, nomeadamen­te em áreas onde há preponderâ­ncia da comunidade angolana, os princípios da angolanida­de. * Correspond­ente da Angop em Portugal

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