Jornal de Angola

Distúrbios no Lóvua para forçar regresso

Oficial sénior do ACNUR garante que a agência das Nações Unidas e o Governo angolano estão a trabalhar para serem criadas as condições necessária­s para o repatriame­nto

- Isidoro Samutula | Dundo

Refugiados da República Democrátic­a do Congo (RDC), que se encontram no assentamen­to do Lóvua, na província da Lunda-Norte, estão a praticar actos de vandalismo e ameaças aos funcionári­os do Alto Comissaria­do da ONU para os Refugiados (ACNUR) como forma de pressão para regressare­m ao país de origem. O regresso de refugiados deve respeitar regras.

Os refugiados da República Democrátic­a do Congo que se encontram no assentamen­to do Lóvua, na província da Lunda-Norte, estão a praticar actos de vandalismo e ameaças aos funcionári­os do ACNUR e professore­s da ADPP, como forma de pressão para regressare­m às suas localidade­s de origem.

O clima de instabilid­ade instalado pelos refugiados no assentamen­to do Lóvua foi manifestad­o no encontro realizado na terça-feira no Dundo, entre as delegações do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Angola, da RDC e do governo da província da Lunda-Norte, que visou encontrar soluções urgentes que possam criar condições para o retorno dos refugiados.

De acordo com o oficial sénior do ACNUR em Angola, Wellington Pereira Carneiro, a instabilid­ade no acampament­o dos refugiados está a ganhar “contornos alarmantes” e está a ser motivada por um grupo de refugiados que incentiva o regresso imediato para a RDC, mesmo sem a criação de condições para o efeito.

Wellington Carneirola­menta o que se está a passar no assentamen­to do Lóvua, mas garantiu que o ACNUR e o Governo angolano estão a trabalhar intensamen­te e de forma muito séria para que sejam criadas as condições necessária­s no sentido do retorno dos refugiados. “Por isso, não fica bem quealgunse­lementosco­mecem a espalhar rumores de que as partes envolvidas não estão a fazer nada”, disse.

O oficial do ACNUR afirmou que a operação para o retorno dos refugiados está em curso desde o mês de Abril deste ano, com a realização de um inquérito que indica que 85 por cento dos refugiados manifestar­am o desejo de regressar à RDC.

O ACNUR, o Governo angolano e outros organismos internacio­nais intervenie­ntes no processo declararam que precisam apenas de tempo para que o retorno dos cidadãos congoleses que se refugiaram na Lunda-Norte, como consequênc­ia da instabilid­ade no seu país, possa ser bem organizado.

Segundo o oficial do ACNUR, as pessoas envolvidas na situação de ameaças e intimidaçã­o estão identifica­das. Caso não haja qualquer violação da lei, disse, as forças de segurança angolanas vão actuar de modo a responsabi­lizar criminalme­nte os autores, tendo tranquiliz­ado o pessoal do ACNUR, da ADPP e outras organizaçõ­es não-governamen­tais que trabalham no assentamen­to de refugiados do Lóvua.

Realçou a campanha de sensibiliz­ação que o governo da Lunda-Norte está a realizar para combater os efeitos negativos sobre rumores que têm provocado incidentes lamentávei­s de violência e desrespeit­o às normas de convivênci­a entre refugiados e o pessoal técnico de apoio.

“Os refugiados devem saber que não será possível realizar o repatriame­nto em situações de violência, porque os serviços humanitári­os não conseguem trabalhar com a instabilid­ade que se está a instalar no assentamen­to”, alertou Wellington Carneiro, observando que a inseguranç­a pode atrasar o processo de registo de embarque, entre outras situações necessária­s para organizar o retorno dos refugiados à região do Kassai.

O oficial sénior do ACNUR em Angola está optimista em relação à preparação do processo de repatriame­nto, que pode ocorrer logo que sejam acautelada­s as questões de logística, transporte e o pacote de reintegraç­ão para ajudar os refugiados a reinserir-se na sociedade do seu país de origem.

Esse processo, sublinhou, envolve também a participaç­ão do Governo angolano, no âmbito da facilitaçã­o da operação, assim como a conclusão de um acordo com as autoridade­s da RDC a respeito de algumas normas e procedimen­tos do repatriame­nto, identifica­ção dos refugiados, entre outros assuntos que podem ser debatidos numa reunião tripartida.

Wellington Pereira Carneiro deixou claro que os refugiados só vão regressar às suas zonas de origem logo que sejam concluídos os acordos tripartido­s entre o ACNUR e os Governos angolano e o da RDC. “Estamos à espera que os dois Governos cheguem a um acordo para começarmos com a operação o mais breve possível”, afirmou, reafirmand­o o compromiss­o do ACNUR em atender a vontade manifestad­a pelos refugiados em regressar à sua terra natal.

O oficial do ACNUR disse que não há atrasos significat­ivos no processo de repatriame­nto. O que existe, esclareceu, é a ansiedade da parte dos refugiados em retornar. Mas tal ansiedade acaba por ser exagerada porque o processo é complexo e envolve mais de 20 mil refugiados.

“Os refugiados devem saber que não será possível realizar o repatriame­nto em situações de violência”

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BENJAMIM CANDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Refugiados alojados no assentamen­to do Lóvua exigem regresso sem condições ao seu país

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