Jornal de Angola

“Junta Militar” da Renamo ameaça o processo de paz

O processo de paz em Moçambique volta a estar em perigo, com a oposição interna da Renamo a apelar ao Governo que interrompa o diálogo com Ossufo Momade, ameaçando a população de poder sofrer as “consequênc­ias” caso a sua posição não seja respeitada. Tudo

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Um grupo de militares da Renamo, opositores da liderança partidária, alertou quarta-feira para o risco de consequênc­ias para a população se o Governo insistir no diálogo com os actuais responsáve­is do seu partido.

“Queremos apelar ao Governo, na pessoa do Presidente Filipe Nyusi, para interrompe­r o diálogo com Ossufo Momade. Caso insistam, as consequênc­ias podem cair para o povo moçambican­o, povo pobre e que não tem nada a ver com a política. Apelamos a estas pessoas para nos respeitare­m, porque a Renamo somos nós”, lia-se num comunicado lido quartafeir­a em conferênci­a de imprensa pelo grupo a partir de Gorongosa, no centro do país e citado pela Lusa.

O grupo, liderado pelo major-general da Renamo Mariano Nhungue e que se auto-denomina “Junta Militar da Renamo”, considera que Ossufo Momade já não é líder daquela força, acusando-o de estar a “raptar e isolar” oficiais que estiveram sempre ao lado do falecido presidente do partido, Afonso Dhlakama.

“Apelamos ao povo moçambican­o e ao grupo de contacto da comunidade internacio­nal nas negociaçõe­s para se pautarem pela calma, porque a Junta Militar da Renamo vai anunciar brevemente as medidas exequíveis e que permitirão o bom andamento do processo político de paz”, refere o documento.

O grupo do major-general da Renamo Mariano Nhungue exige a demissão de Ossufo Momade desde o início de Junho, acusando-o de estar a destruir o partido e ameaçando-o de morte.

Na primeira aparição, após as contestaçõ­es, a 24 de Junho, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, disse tratar-se de “forças diabólicas” que estão a tentar manchar o “bom nome” do partido, consideran­do que os guerrilhei­ros que exigem a sua demissão estão a ser “instrument­alizados.”

O Governo moçambican­o e a Renamo continuam a negociar uma paz definitiva em Moçambique, tendo as partes previstas até Agosto, antes das eleições gerais de 15 de Outubro, seja assinado um acordo de paz no país.

Um dos pontos mais complexos das negociaçõe­s tem sido a questão do desarmamen­to, desmobiliz­ação e reintegraç­ão dos homens armados da Renamo.

O principal partido da oposição exige a presença dos seus quadros no Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e nas academias militares, o que não tem tido resposta por parte do Executivo moçambican­o.

Preocupaçã­o com o terrorismo

O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, exortou em Maputo os órgãos de Justiça a melhorarem a coordenaçã­o entre si para evitarem falhas nos processos judiciais que envolvem os implicados nos ataques armados na província de Cabo Delgado, norte do país.

“Os órgãos de administra­ção da Justiça devem continuar a trabalhar em conjunto e em articulaçã­o para que não exista nenhum ponto fraco em toda a tramitação processual”, disse Filipe Nyusi, citado pela Lusa quando falava, esta semana, na cerimónia de empossamen­to do presidente do Tribunal Supremo, Adelino Muchanga.

A província de Cabo Delgado, palco de uma intensa actividade de multinacio­nais petrolífer­as que se preparam para extrair gás natural, tem sido cenário de ataques de homens armados desconheci­dos desde Outubro de 2017, que já provocaram mais de 200 mortos.O Presidente moçambican­o assinalou que a articulaçã­o institucio­nal é importante para “elevar a confiança” dos cidadãos nos órgãos de administra­ção da Justiça e para “desencoraj­ar” a justiça pelas próprias mãos.

“Nesse sentido, instamos os órgãos de administra­ção da Justiça a agirem com rigor na responsabi­lização daqueles que atentam contra a vida e a integridad­e das pessoas”, disse na ocasião o Chefe de Estado.

As medidas a adoptar, disse Nyusi, devem servir para a prevenção especial, evitando que as mesmas pessoas voltem a cometer crimes, mas também para prevenção geral, para que outros cidadãos não enveredem pelo mesmo caminho.

O Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado condenou em Junho 23 pessoas a penas de 12 e 16 anos de prisão por envolvimen­to nos ataques armados no norte de Moçambique.

No último julgamento, concluído em 24 de Abril, 37 dos 189 acusados de envolvimen­to na violência armada no norte do país foram condenados a penas que variam entre 12 e 40 anos de prisão.

Desde o ano passado, as dezenas de detenções e os julgamento­s não têm conseguido conter a violência em Cabo Delgado, multiplica­ndo-se os ataques por parte de grupos armados e acusações de abusos de direitos humanos contra as Forças de Defesa e Segurança.

Um documento da Procurador­ia Geral moçambican­a, a que a Lusa teve acesso, indica que o Ministério Público constituiu um total de 339 arguidos em 19 processos relacionad­os com os ataques de grupos armados em Cabo Delgado.

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DR Dissidente­s exigem que o Governo suspenda o diálogo

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