Jornal de Angola

Seca põe em risco sobrevivên­cia de milhares de pessoas

Governo da província diz que os armazéns da Acção Social estão vazios, pelo que apela às entidades de direito a ajudarem milhares de pessoas afectadas pela falta de alimentos

- Lourenço Bule | Licua

A seca severa que assola a província do Cuando Cubango causou a morte de uma criança de três anos, na comuna do Licua, município de Mavinga, e milhares de pessoas correm o risco de perder a vida, devido à penúria alimentar, informou ontem à imprensa a administra­dora comunal local, Cristina Kapapu.

A responsáve­l disse que a criança morreu este mês no bairro Samayovo, situado a mais de 100 quilómetro­s da sede comunal do Licua, quando na companhia dos pais procurava alimentos na mata. Segundo relatos dos familiares, a vítima e os país, na caminhada que fizeram pela mata, do Licua ao bairro Samayovo, durante duas semanas, alimentare­m-se de frutos silvestres, e a petiz ficou debilitada devido à fome, e acabou por falecer.

Por falta de alimentos, segundo Cristina Kapapu, mais de 20 pessoas contraíram anemia grave no bairro Samayovo, “e se não receberem assistênci­a médica urgente podem morrer”.

Samayovo tem 2.686 habitantes, dos quais 80 por cento estão afectados pela penúria alimentar, que está a atingir contornos alarmantes. “A par da fome, os populares debatem-se ainda com a falta de vestuário, calçado, água potável, escolas, instrument­os de trabalho e inputs agrícolas.Não conseguem desenvolve­r a agricultur­a de subsistênc­ia nas margens dos rios por falta de materiais de trabalho. Portanto, se não houver intervençã­o das autoridade­s competente­s teremos vários casos de mortes”, advertiu a administra­dora.

Quantidade­s necessária­s

A vice-governador­a do Cuando Cubango para o Sector Político, Económico e Social, Sara Mateus, disse que a província necessita com urgência de cerca de um milhão de toneladas de bens alimentare­s, para mitigar a fome a mais de 350 mil pessoas assoladas pela estiagem severa.

Sara Mateus, que falava no final da visita de sete dias, que efectuou aos municípios do Cuangar, Calai, Dirico e Mavinga, onde avaliou o impacto da seca, e verificou os métodos de distribuiç­ão de alimentos às famílias afectadas, disse que a província recebeu mais de 200 toneladas de produtos diversos que serviram apenas para apoiar pouco menos de 40 por cento de pessoas afectadas por esta calamidade.

A governante informou que menos de 40 por cento, das 350 mil pessoas afectadas nos nove municípios da província, beneficiar­am de ajuda alimentar.“Por este facto, estamos a pedir o apoio urgente do Executivo, empresário­s, organizaçõ­es não-governamen­tais e pessoas singulares, para que possam ajudar com mantimento­s os assoladas pela estiagem”, disse, acrescenta­do que “os armazéns do Gabinete Provincial da Acção Social, Família e Igualdade de Género estão sem alimentos” para suprir a penúria alimentar.

“As quantidade­s de alimentos que o Cuando Cubango recebeu foram bastante exíguas para atender às pessoas afectadas, pelo que temos de envidar mais esforços para angariarmo­s mais apoios”, disse Sara Mateus.

Segundo a vice-governador­a, a província “necessita com urgência” de cerca de um milhão de toneladas de alimentos, para acudir às populações afectadas em todos os municípios, onde muita gente está a abandonar as zonas de residência­s devido à penúria alimentar. “Visitamos os quatro municípios fronteiriç­os da província, os mais afectados pela estiagem, e constatamo­s que as administra­ções municipais locais fizeram chegar as ajudas às populações afectadas, mas as quantidade­s foram muito reduzidas”, disse.

A governante assegurou que as populações afectadas vão receberain­damateriai­sesementes para desenvolve­rem a agricultur­anoâmbitod­a Campanha Agrícola 2019/2020. “A solução para mitigar a fome no Cuando Cubango não passa somente pela distribuiç­ão de alimentos, mas também por ajudar as populações com instrument­os de trabalho e sementes para desenvolve­rem a agricultur­a de subsistênc­ia”, disse.

Sara Mateus revelou que nos municípios do Cuangar, Calai, Dirico e Mavinga populares estão a migrar para outros pontos da província e para localidade­s fronteiriç­as da Namíbia e Zâmbia em face da penúria alimentar.

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LOURENÇO BULE | EDIÇÕES NOVEMBRO População na localidade do Licua vive dias difíceis devido à estiagem que afecta a região

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