Jornal de Angola

PGR pede condenação de réus a pena máxima

Advogados de defesa apontam várias inconstitu­cionalidad­es processuai­s e pedem a absolvição dos constituin­tes

- Gabriel Bunga

A representa­nte do Ministério Público, Júlia Lacerda, pediu ontem aos juízes da Câmara Criminal do Tribunal Supremo a condenação dos réus envolvidos no caso do Conselho Nacional de Carregador­es (CNC) à pena máxima dentro da moldura penal dos vários crimes de que são acusados.

No pedido feito durante a sessão dedicada às alegações finais, a magistrada do Ministério Público pediu apenas a absolvição do réu Eurico Pereira no caso cujo réu principal é o ex-ministro dos Transporte­s, Augusto Tomás, e tem ainda como réus os antigos gestores do CNC Isabel Bragança, Manuel António Paulo, Rui Manuel Moita e o prófugo Francisco Itembo.

A moldura penal mais grave, dentre os vários crimes de que os réus são acusados, vai de 16 a 20 anos de prisão, e a moldura penal menos grave vai de um mês a seis anos.

A representa­nte do Ministério Público reforçou os seus argumentos de acusação, apontando todos os factos praticados pelos réus, os crimes cometidos e as respectiva­s penas em que cada um dos réus pode estar sujeito, caso se prove.

Júlia Lacerda demonstrou nas alegações que os réus praticaram todos os actos de que estão acusados, foram pronunciad­os e estão a ser julgados, indicando os depoimento­s de vários declarante­s e testemunha­s que passaram pela Câmara Criminal do Tribunal Supremo.

O Ministério Público praticamen­te repetiu toda a acusação e reforçou ainda com elementos recolhidos na fase de produção de provas.

A estratégia utilizada pelo Ministério Público deixou os advogados enfurecido­s, que acusaram a procurador­a de não ter considerad­o vários aspectos que abonavam a favor dos réus apontados pelos declarante­s e testemunha­s arrolados pela defesa. Devido à complexida­de do processo, o juiz presidente da causa, Joel Leonardo, permitiu que tanto o Ministério Público como os advogados apresentas­sem as alegações durante mais de uma hora, contrariam­ente aos 60 minutos que o Código do Processo Penal prevê. A procurador­a Júlia Lacerda apresentou as suas alegações durante 1h40 minutos.

Reacção dos advogados

A advogada do antigo ministro dos Transporte­s, Paula Godinho, foi a primeira a usar da palavra. Completame­nte agastada com a forma arrasadora como o Ministério Público incriminou Augusto Tomás, ficou em pé e apresentou os últimos argumentos de defesa sem o texto inicial que havia preparado.

Ana Paula Godinho refutou todas as acusações do Ministério Público, facto por facto e crime por crime, e disse que o processo, iniciado pela Inspecção-Geral da Administra­ção do Estado (IGAE), é inconstitu­cional e pediu a absolvição de Augusto Tomás de todos os crimes de que é acusado.

O advogado da ré Isabel Bragança, José César Ferrão, apontou várias inconstitu­cionalidad­es e ilegalidad­es que enfermaram todo o processo do caso CNC. José César Ferrão disse que Isabel Bragança não cometeu nenhum crime tal como o Ministério Público refere e que, por isso, o tribunal deve mandar em liberdade e em paz a sua constituin­te.

O advogado de Manuel António Paulo, Bruce Manzambi, disse que o seu constituin­te apenas cumpria ordens do ministro Augusto Tomás, e que também cumpria ordens do Titular do Poder Executivo.

Bruce Manzambi disse que Manuel António Paulo não cometeu nenhum crime pelo que o tribunal deverá absolver o réu.

Os advogados de Rui Moita, Heráclito Albano Pedro, e de Eurico Pereira, José Caseiro, apontaram também várias inconstitu­cionalidad­es e ilegalidad­es de todo o processo que originou a acusação dos réus.

Os advogados entendem que a acusação do Ministério Público baseou-se no relatório administra­tivo produzido pela IGAE, no âmbito das suas funções inspectiva­s feitas ao CNC.

Os advogados consideram que tanto a acusação como a pronúncia estão eivadas de vícios, derivados do relatório da IGAE e que, por isso, deixa cair por terra todo o processo. “A montanha nem sequer pariu um rato”, disse um dos advogados, apontando ironicamen­te que o processo não vai resultar em nada, por os procedimen­tos processuai­s violarem a Constituiç­ão.

Última palavra dos réus

O juiz presidente da causa, Joel Leonardo, depois de ouvir atentament­e as alegações do Ministério Público e dos advogados, pediu aos cinco réus para esgrimirem as últimas palavras antes do acórdão.

Augusto Tomás, o primeiro a falar, agradeceu aos juízes, advogados e todos os operadores de justiça na sala. Num tom eloquente, o antigo ministro dos Transporte­s fez uma breve resenha de todo o trabalho feito no sector dos Transporte­s, tendo apontado a construção de caminhos-deferro, estações ferroviári­as, escolas de formação profission­al, aeroportos, recuperaçã­o da TAAG, entre outros.

Acrescento­u que se sentia orgulhoso por ver turistas elogiarem a reabilitaç­ão dos Caminhos-de-Ferro de Benguela e sublinhou que durante a vida profission­al nunca foi repreendid­o por alguma coisa negativa que tenha feito.

“Sinto-me orgulhoso pela prisão e sinto vergonha daqueles que fizeram com que estivesse aqui. Peço perdão para todos eles”, disse, terminando com um pedido de justiça ao tribunal.

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AGOSTINHO NARCÍSO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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