“Criança livre do VIH”
A médica Graça Manuel, afecta ao Instituto Nacional de Luta contra a Sida, reafirmou ontem, em Luanda, que a criança de sete anos que sofreu transfusão de sangue contaminado com VIH, no Hospital Pediátrico de Luanda David Bernardino, está livre da doença, fruto do tratamento anti retroviral, submetido durante sete meses, em Angola e na África do Sul.
À margem de um seminário sobre “Legislação em Saúde”, que decorreu no Instituto Médio de Saúde de Luanda, a médica disse que a menor “não está infectada, porque teve um acompanhamento a partir das primeiras 18 horas, depois de receber a transfusão, bem como uma "profilaxia pós-exposição, com base na terapia antirretroviral”.
Graça Manuel respondia deste modo ao pai da menor, que, em entrevista à Rádio Despertar e disseminada nas redes sociais, contrariou as declarações da ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta. Com base em informações prestadas pela Comissão Multidisciplinar criada para acompanhar o caso, a governante deu todas as garantias de que a criança “não tem vírus do Sida, devido ao tratamento feito”.
Num vídeo publicado nas redes sociais, o pai da menina disse que as declarações da ministra da Saúde “estão a deixar os familiares revoltados”, porque, em seu entender, a governante "passou uma informação que não corresponde à realidade”.
Sustentando a sua afirmação, o cidadão alega que a família “tem prova de que nem todos os exames realizados deram negativo”, tendo exibido no vídeo alguns documentos de um laboratório, emitidos de Janeiro a Maio, com resultados positivos de VIH.
O pai da criança foi mais longe ao afirmar que os resultados dos exames feitos na África do Sul, em Dezembro do ano passado, deram positivo.
A médica do Instituto Nacional de Luta contra a Sida explicou que os primeiros exames aos quais a menor foi submetida tiveram resultados positivos, porque o organismo dela, na altura, demonstrava haver a presença de anti-corpos do dador.
“Os anti-corpos detectados no organismo da paciente eram do dador e não da criança”, disse Graça Manuel, acrescentando que, na história da replicação viral ou na fisiopatologia, “é preciso um tempo para que o organismo desenvolva os seus próprios anti-corpos”.
Em relação aos exames positivos apresentados pelo pai da criança nas redes sociais, Graça Manuel informou que aqueles documentos “foram partilhados com a família”, desde o princípio do processo, argumentando que “foram apresentados no vídeo, apenas os resultados positivos dos exames, sem mostrar os negativos”.
“Sempre houve interacção entre a família, o Instituto Nacional de Sangue, o Instituto Nacional de Luta contra a Sida, o Ministério da Saúde e o Hospital Pediátrico de Luanda, onde a criança esteve internada. Por isso, eles têm conhecimento dos resultados dos exames realizados na África do Sul e que deram negativo”.
A médica disse que o facto de a criança ter inicialmente apresentado resultados positivos tem uma explicação científica, por causa da presença de anti-corpos do dador no organismo da menor.
O dador era seropositivo e não sabia do seu estado serológico, nem fazia tratamento antirretroviral, dai os anti-corpos darem positivo. “A criança não desenvolveu anti-corpos da doença, por isso, o resultado é negativo”.
“O último exame feito em Luanda e confirmado na África do Sul, como negativo, foi realizado no dia 2 de Julho e a família tomou conhecimento”, disse a médica.
Por outro lado, a médica infecciologista Cláudia Barros, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), disse que o corte da doença verificado na criança angolana, não é inédito, sendo o terceiro registado na história da medicina, desde que o mundo conheceu o VIH, em 1981.
Entretanto, o pai da menor recuou nas declarações feitas à Rádio Ecclesia. Ontem à noite, em entrevista à TV Zimbo, afirmou-se arrependido do que disse em relação ao estado serológico da menina. Acrescentou que, na segunda-feira, ela foi submetida a testes em duas unidades hospitalres, que confirmaram os resultados negativos.