Cuba perde milhões de dólares com o embargo
As perdas acumuladas nos últimos 60 anos chegam a 922,6 mil milhões de dólares, mesmo considerando a desvalorização do papel moeda em relação ao ouro
O cerco sofrido por Cuba, em todas as operações comerciais e financeiras, aumentou e o Governo já admite que o mesmo tende, nos últimos anos e meses, para “níveis extraterritoriais, ilegais e criminais”, com prejuízos a atingirem já, entre Março de 2018 e Abril deste ano, 4,3 mil milhões de dólares.
Essa estimativa foi apresentada esta semana no 25º Fórum de São Paulo, que decorreu em Caracas, Venezuela, “para que o mundo possa julgar”, de acordo com o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, ao mesmo tempo que sublinhou ser sua pretensão “advertir”, que esses dados não reflectem os efeitos causados pelas medidas mais recentes da Administração dos Estados Unidos.
Entre outras medidas, o Presidente norte-americano, Donald Trump, limita as licenças de viagem, proíbe a entrada de navios de cruzeiro e reforça as restrições financeiras que impactam directamente no turismo e nas actividades associadas que favorecem o crescente sector não estatal da economia.
Segundo o Governo cubano, as perdas acumuladas chegam, nos últimos 60 anos, a 922,6 mil milhões de dólares (à razão de mais de 15,376 mil milhões de dólares por ano), mesmo considerando a desvalorização do papel moeda em relação ao ouro.
As últimas informações em posse dos cubanos indicam que com “acções extraterritoriais e cruéis de bloqueio”, os Estados Unidos tentam agora impedir, por todos os meios, a chegada aos portos cubanos de navios petroleiros, uma medida que ameaça, brutalmente, as companhias de navegação, os governos de países onde os navios são registados e as companhias de seguros.
O Governo de Cuba diz que o plano é afectar, ainda mais, a qualidade de vida da população, o seu progresso e até as suas esperanças, com o objectivo de ferir a família cubana no seu quotidiano, nas suas necessidades básicas e, em paralelo, acusar a governação de ineficiência.
“São essas restrições e a perseguição financeira contra Cuba as principais causas da escassez de alimentos e combustíveis e a dificuldade em adquirir peças de reposição essenciais para sustentar a vitalidade do Sistema Electro-energético Nacional, que nos afectou nas últimas semanas e meses e que estamos a enfrentar criativamente, com a vontade de ferro de resistir e superar”, admitiu Miguel Díaz-Canel Bermúdez.
O modelo económico a seguir
Para contornar a crise, que se advinha profunda, o Governo cubano quer partilhar, por todo o território, os resultados de sucesso conseguidos pela província de Granma. Essa região territorial cubana alcançou exemplos de superação, que o próprio Governo reconhece serem “inegáveis avanços”.
Em Granma, 80 por cento da exploração das terras aráveis e o impulso aos pólos produtivos de auto-abastecimento municipal resultou numa excelente iniciativa das autoridades locais, pela contribuição que agora dão à substituição de importações em itens como arroz, um dos alimentos básicos da dieta familiar cubana. Ainda assim, as autoridades da província reconhecem que, mesmo com registos produtivos importantes, estão longe do seu potencial.
A propósito, o Presidente cubano referiu ser essa “uma realidade comum em todo o país, onde a batalha pelo desenvolvimento é uma corrida intensa e cansativa, com obstáculos de todos os tipos”, sendo o primeiro e o mais decisivo o bloqueio dos EUA e o segundo as práticas incompatíveis com o socialismo. Por isso, Miguel DíazCanel Bermúdez sublinhou que não se cansará de “insistir no dever de pensar como país, de afastar o egoísmo, a vaidade, a preguiça, o mal feito, o não se pode”.
Agora a considerar o panorama do brutal cerco admitido pela Administração Trump às operações financeiras do país, o Presidente de Cuba lembra que todos têm “o dever de cuidar, como (meninas dos olhos), os dispendiosos investimentos realizados nos transportes, na indústria e nas comunicações”, dizendo acreditar na concretização prática da “vontade de não sermos distraídos por pressões e ameaças e resistir criativamente, sem abrir mão do desenvolvimento”.
Para sustentar todas as possíveis medidas de benefício social, o Governo cubano diz ser necessário produzir mais e aumentar a qualidade dos serviços. Para tal, o Governo vai procurar que a mentalidade de cada cidadão seja transformada à velocidade máxima que os comboios locais podem alcançar, mesmo que acredite que tais “mudanças não saem de um chapéu, pois, admite, nós não somos mágicos”.
Neste âmbito, o Governo tudo vai fazer para gerir e direccionar bem os escassos recursos disponíveis e garantir a distribuição equitativa e justa dos bens criados.Com a mesma marcha, as autoridades devem, ainda mais, impulsionar a produção nacional com eficiência e competitividade, as exportações e a substituição de importações, o investimento estrangeiro, as cadeias produtivas, o uso da ciência, a tecnologia e o talento de cada uma das universidades, para inovar.
Igualmente, Cuba deve dinamizar o denominado “Governo Electrónico” e a comunicação, como elemento fundamental na luta para desbloquear e resolver uma parte, tão grande quanto possível, dos problemas de cada dia.
Para o Presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez, as circunstâncias forçam hoje, “como sempre nos forçaram, a impor uma taxa de progresso além dos nossos objectivos, exigir, controlar, banir a rotina e verificar nos factos se a fórmula que usamos ontem é efectiva ou precisa de ser renovada”.
O Presidente rematou que, “se o Governo se dedicar a melhorar a vida dos cidadãos, o Governo e os cidadãos devem evitar o abuso, a contaminação ou a negligência daquilo que custa tanto adquirir”.