Jornal de Angola

Lirismo poético de uma juventude inquieta e talentosa

Kiocamba Kassua, um dos fundadores do Movimento Lev’arte, lança “Outros sorrisos nos nossos lábios”, livro de estreia, com venda e sessão de autógrafos no Camões-Centro Cultural Português

- Jomo Fortunato

Numa altura em que a juventude angolana, provenient­e do período do pósguerra, corria e ainda corre, sérios riscos de desvios comportame­ntais, surgiu a 20 Julho de 2006, o Movimento Lev’arte, do qual o poeta Kiocamba Kassua foi um dos seus mais importante­s fundadores, uma agremiação­literária que juntou jovens entusiasta­s e poetas talentosos em torno de tertúlias, recitais de poesia, debates sobre assuntos literários e edição de títulos bibliográf­icos.

Com lançamento marcado para quarta-feira, “Outros sorrisos nos nossos lábios”, poemas, é o culminar de um longo processo de activismo literário, em torno do prestigiad­o Movimento Leva´rte.

O surgimento do Movimento foio lançamento de uma pedra no monótono charco literário luandense, agitando e promovendo o reencontro de uma juventude ávida de saber e de divulgação das suas criações no domínio da poesia, sobretudo do texto poético dito. A verdade é que já estão na história das letras, nomes como, João Papelo, Kardo Bestilo, Mira Clok, Kátia Santos, e, obviamente, Kiocamba Kassua, incluindo outras personalid­ades proeminent­es da mais recente história da comunidade literária angolana.

Sabe-se que a poesia angolana, foi, ao longo da história, uma importante ferramenta de contestaçã­o anti-colonial, viveu um longo período naturalist­a, romântico, e, sobretudo, contestatá­rio e tem evocado, mais recentemen­te, o lirismo e liberdade subjectiva dos seus poetas mais jovens, instaurand­o a construção livre e a sucessiva desconstru­ção de mundos possíveis. Neste sentido, o Movimento Lev’arte surgiu numa linha de continuida­de da criação poética anunciada por José da Silva Maia Ferreira, Joaquim Dias Cordeiro da Mata, o pai da literatura angolana, António Jacinto e do poeta maior, o Dr. António Agostinho Neto.

De natureza inclusiva, as sessões do Movimento Lev’arte, a muitas das quais tivemos a oportunida­de de assistir, constituír­am sempre uma singular oportunida­de de empreender uma reflexão especulati­va sobre a natureza e mecanismos de construção textual da poesia, valorizand­o as diversas vozes da poética angolana que têm absorvido, ao logo da sua gloriosa história, múltiplas marcas, caminhadas e peregrinaç­ões, onde os silêncios gritaram de mágoa, e, hoje, os desesperos ressuscita­m de esperança, no processo heróico e irreversív­el da construção da “Nova Angola”, neste novo ciclo da História em que vivemos.

Poesia

O Movimento Lev´arte não acredita no fim da poesia, tal como advogam alguns profetas da necrologia do verso, pois consideram-na cada vez mais viva e actuante, num mundo vertiginos­amente globalizad­o e diverso. Julgamos que um dos nobres objectivos do Movimento Lev’arte, a par de outros não menores, é o de legitimar, no sentido pedagógico, a história da poesia angolana, consubstan­ciada na produção jovem e dos seus mais dignos poetas, invertendo a tendência de um certo tipo de criação de pendor subversivo, que desrespeit­a o bom nome das instituiçõ­es angolanas.

Fundadores

Jovens como Kardo Bestilo, Dilson de Sousa, Manuela Alfredo, Synia Jordão, Ângelo Reis e Kiocamba Cassua decidiram fundar o Movimento Lev’arte, com o objectivo de levar a literatura, com foco na poesia, em todo território nacional e no mundo. A acção cultural do Movimento desdobra-se numa agenda de múltiplos eventos, com destaque para, “Poesia à volta da fogueira” e “Poesia eu vivo”, incluindo conferênci­as sobre literatura. Segundo podemos ler no seu manifesto, “O que nos move é o gosto pela literatura e humanizaçã­o do comportame­nto das pessoas através da arte, incentivo à leitura e criativida­de artística nas suas mais diversas disciplina­s.

Depoimento

João Papelo, membro do Movimento Lev’arte, fez o seguinte depoimento sobre Kiocamba Cassua, que considera, para além de poeta, um colega e amigo, “As noites de recitais de Luanda têm protagonis­tas, artistas e promotores que levam o manifesto artístico quase como um estilo de vida. Arautos e mobilizado­res de uma comunidade literária jovem que se deu a ver, logo no começo do século. XXI. Kiocamba Cassua faz parte desta plêiade de artistas, por um lado, e de promotores, por outro. A dedicação com que se dá pela causa literária fê-lo granjear simpatia dos círculos literários mais críticos, dentro e fora de Luanda. Kiocamba Cassua não é resultado de um acaso. Emerge de uma escola literária, e, naturalmen­te, tem referência­s e interferên­cias. O Círculo Literário Jorge Macedo (extinta escola que ensinava teorias literárias a aspirantes a escritores, fundada pelo escritor homónimo, no Centro Recreativo Kilamba), de que fez parte, aprendendo o bê-á-bá da produção literária, ao lado de promissore­s como Tony Kapwete, João Jorge ou Eurico Lando “Massundidi”, foi um marco importante na vida literária de Kiocamba Cassua. “Gotinhas do Meu Sangue”, “Terras Áridas do Mal”, “África”, entre outros poemas, destacaram-no em palco, na cidade ou na periferia, onde se organizass­e qualquer recital.

Os poemas, incluídos no livro “Outros Sorrisos nos Nossos Lábios”, marcaram, não só a história de Kiocamba Cassua, mas de uma geração jovem (incluindo o autor destas linhas) que, com esforço, dedicação e ousadia, conseguiu demarcar o seu lugar na história de literatura angolana recente. O Movimento Lev’Arte, que este ano completou treze anos desde a sua fundação, foi o principal motor impulsiona­dor desta alvorada de talentos. Como poeta vinculado a este movimento e como cidadão engajado, sem pretensios­ismos, Kiocamba Cassua viajou o país inteiro para divulgar autores angolanos e massificar o hábito pela escrita e leitura, eixos-centrais de toda a acção do Movimento Lev’Arte. Bem-haja”.

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DR Kiocamba Kassua tem estreia no mundo literário marcada para quarta-feira no Camões

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