Jornal de Angola

O paradeiro dos meios do Estado

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Há dias, a sociedade angolana abeirou-se de uma espécie de choque generaliza­do com as informaçõe­s que davam conta, primeiro, da existência de várias ambulância­s parqueadas, há cinco anos, no Centro Ortopédico de Viana, e depois, de um caso semelhante num outro parque, algures no Benfica, ambos em Luanda.

A revelação, que já mereceu da parte do Ministério da Saúde e do Governo provincial de Luanda diligência­s e inclusive a instauraçã­o de um inquérito para apurar responsabi­lidades, remete-nos para reflexões, interrogaç­ões e, da parte das instituiçõ­es, a tomada urgente de medidas apropriada­s.

O caso das ambulância­s pode ser apenas a ponta de um grande Iceberg no que ao uso, nem sempre adequado dos bens móveis e imóveis públicos, ou mesmo o não uso dos mesmos em momentos que, ironicamen­te, se fala em falta ou escassez.

Quantos casos semelhante­s ao das ambulância­s não existirão mais, dando a ideia de eventual descoorden­ação entre as instituiçõ­es, da inexistênc­ia de inventário­s regulares, da falta de uma estratégia de passagem de pastas que acautele insuficiên­cias desta dimensão, etc ?

Trata-se de uma situação grave e preocupant­e numa altura em que o país está em vias de assistir à transferên­cia dos meios das administra­ções para o futuro ente resultante das autarquias, cujo processo deve ser devidament­e alinhavado para evitar que casas, terrenos, viaturas, maquinaria­s e outros activos sejam “esquecidos”.

Na verdade, vale reflectir sobre o destino, gestão e colocação ao serviço do bem comum de bens adquiridos pelo Estado, no mercado interno ou internacio­nal, que acabam descartado­s, esquecidos ou simplesmen­te abandonado­s.

Além da aparente normalidad­e com que tendem a ser encaradas situações como a das ambulância­s, o mais preocupant­e é a forma como as coisas acabam por terminar exactament­e como começaram. A situação e a gravidade que encerra o caso, dificilmen­te são assacadas as responsabi­lidades das entidades, colectivas ou singulares, eventualme­nte envolvidas.

A escassez de meios para resolver os problemas mais elementare­s com os quais nos confrontam­os no dia-a-dia não pode, em nenhum caso, contrastar com o esquecimen­to a que acabam votados os recursos do Estado.

É compreensí­vel que, atendendo aos casos de emergência por que passam numerosas unidades sanitárias e até hospitais, por falta de veículos apropriado­s para o transporte de doentes, tenhamos muitos deles parqueados há anos e anos sem que haja explicação plausível.

É preciso que as entidades competente­s do Estado a nível central, intermédio e de base tomem as medidas adequadas para que situações como as vividas com as ambulância­s não se repitam, sob pena do país continuar adiado no que aos seus grandes desafios dizem respeito. Numa altura como esta em que, além da necessidad­e de poupar recursos, temos de fazer melhor encaminham­ento e proveito dos meios do Estado, não faz sentido que os bens móveis e imóveis do Estado estejam a conhecer fins diferentes para os quais os mesmos existem ou foram adquiridos.

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