Estados Unidos acusados de dificultar o diálogo
O Presidente da Venezuela decidiu suspender o diálogo com a oposição, devido ao agravamento do embargo económico imposto pela Administração Trump, que inclui o congelamento total dos activos do Governo de Caracas
A Rússia acusou os Estados Unidos de minarem as negociações entre o Governo da Venezuela e a oposição, após o Presidente Nicolás Maduro, suspender o processo de diálogo apoiado pela Noruega, noticiou a agência EFE.
“Lamentamos profundamente o cancelamento da ronda de negociações prevista em Barbados entre o Governo da Venezuela e a oposição”, diz um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores russo, citado ontem pela Lusa.
A nota ressalta que, “seja quem foi quem tomou a decisão, o principal motivo da suspensão do processo negociador é evidente: a política irracional de Washington para a Venezuela e as suas autoridades legítimas”.
“Os métodos de pressão económica utilizados pelos Estados Unidos são inadmissíveis e violam directamente o direito internacional”, acrescenta o texto, em referência ao bloqueio total dos bens venezuelanos em território americano.
A diplomacia russa também lamentou que a oposição liderada por Juan Guaidó apoie o que ela chamou de “medidas agressivas e unilaterais” dos EUA contra os venezuelanos, o que mostraria que ele está disposto a sacrificar a normalização da situação em favor das suas “ambições pessoais”.
“Não há alternativa ao diálogo entre forças políticas responsáveis. Qualquer outro desenlace é o caminho para o caos com consequências imprevisíveis”, frisa o comunicado.
Maduro decidiu suspender o diálogo devido à “grave e brutal agressão cometida de maneira contínua e astuciosa por parte do Governo Trump contra a Venezuela” e ao apoio a “acções lesivas” de Guaidó, que já estava em Barbados. A Rússia pediu na semana passada a suspensão do bloqueio total aos bens estatais do Governo venezuelano em território americano imposto pelo Presidente Donald Trump.
Antes de participar, no final de Julho, no Brasil, da reunião dos Brics, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, destacou que a situação na Venezuela estava a melhorar, o processo de Oslo estava a impor o bom senso a uma solução para a crise política e social no país latinoamericano.
O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou no fim-de-semana a oposição de conspirar com Washington na imposição de sanções contra o país e sublinhou que Caracas se tem preparado “militar e politicamente” para qualquer ataque.
Poder militar
“Não nos deixaremos humilhar por ninguém. Temos dignidade e temos vindo a preparar-nos moral, política e militarmente. A Venezuela tem um poder militar respeitável que garante a integridade territorial, a paz e a soberania nacional, em qualquer circunstância”, disse Maduro, num comício, no domingo, em El Calvário, Caracas, nas proximidades do Palácio presidencial de Miraflores, no final da marcha “Não mais Trump”, que teve como propósito condenar as sanções dos Estados Unidos e o congelamento dos activos do Governo em território norteamericano.
“A Venezuela não teme nenhuma ameaça imperialista, venha de onde vier”, frisou o Chefe de Estado.
Maduro revelou que desde Fevereiro “uma delegação da oposição manteve contactos secretos com o Governo” venezuelano. No entanto, acusou a oposição de estar por detrás das agressões económicas contra o país e precisou que o Governo está preparado “para dialogar, para chegar a acordos, mas com respeito”.
“Toda a agressão económica e esta maldade foi solicitada, apoiada abertamente por Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional e assim o denuncio perante o mundo (...) a justiça demora, mas chegará”, disse.
Nicolás Maduro explicou que as últimas sanções obrigam o Governo venezuelano “a mudar, melhorar e renovar todos os mecanismos para garantir a alimentação ao povo, a paz e a segurança económica”. Milhares de venezuelanos participaram na primeira jornada mundial de protesto contra o Presidente dos EUA, Donald Trump, em várias regiões do país, principalmente em Caracas, Miranda, Lara, Portuguesa, Sucre e Mérida.
Vestidos de vermelho (a cor da revolução) os venezuelanos marcharam gritando “Trump, tira as mãos da Venezuela” e exibiram cartazes com mensagens como “Não Mais Trump” e “Trump, desbloqueia a Venezuela”.
A 5 de Agosto, os Estados Unidos anunciaram o congelamento de todos os activos do Governo venezuelano, uma decisão anunciada pela Casa Branca e que traduz uma escalada das tensões com o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
A proibição aos norteamericanos de efectuarem quaisquer negócios com o Governo da Venezuela também entrou em vigor.