Jornal de Angola

Até sempre, Amélia Mingas!

- José Luís Mendonça

Morreu ontem, em Luanda, vítima de doença, a linguista e professora universitá­ria Amélia Mingas. Se um dia viermos a publicar o Livro de Ouro da Mulher Angolana, um dos nomes a incluir nele terá de ser o de Amélia Mingas. Decana da Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto, esta mulher com sangue cabinda, natural do bairro da Ingombota, marcou a história cultural da Angola independen­te.

Forçada a abandonar os estudos na Universida­de de Lisboa nos anos 70, juntouse à luta armada, no CongoBrazz­aville, onde recebeu a notícia, da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974 em Portugal, tendo regressado ao seu país natal, em 1975. Em 1995 faz o doutoramen­to em Linguístic­a Geral e Aplicada na Universida­de René Descartes, em Paris, França. Dirigiu o Instituto Internacio­nal da Língua Portuguesa (IILP), na cidade da Praia, em Cabo Verde, e a sua base académica permitiu-lhe defender com segurança uma política global para a língua portuguesa, que respeite e enquadre as influência­s de cada país na estrutura formal do Português. A sua formação e experiênci­a no campo da linguístic­a aplicada, levá-la-ia a publicar a obra Interferên­cia do Kimbundu no Português Falado em Luanda, no ano 2000, estudo que oferece ao leitor um inventário de interferên­cias lexicais do kimbundu no português.

Enquanto directora do IILP, coordenou cinco Colectânea­s da Literatura Oral da CPLP em Língua Portuguesa. As obras bilingues (português e crioulo), abrangem parte do acervo de contos, adivinhas e provérbios dos países-membros da CPLP e são dirigidas ao público jovem, fazendo com que os povos que compõem a comunidade de língua portuguesa se aproximem pelo que têm de mais genuíno e autêntico, na sua verdadeira essência.

Mulher de trato afável e alma altruísta, Amélia Mingas cativava pelo seu sorriso sempre aberto. A notícia da sua morte, aos 75 anos, provocou consternaç­ão.

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