Jornal de Angola

Renamo denuncia violações e militares elegem novo líder

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Numa conferênci­a de imprensa, sexta-feira à tarde, em Maputo, a Renamo denunciou o que considera “actos de violência” que colocam em causa o estabeleci­do nos acordos de paz, recentemen­te assinados e já devidament­e ratificado­s pelo Parlamento. Em Gorongosa o seu braço armado deve eleger, hoje, uma nova direcção, alegando que não se revê na actual liderança política de Ossufo Momade

A Renamo, principal partido da oposição, denunciou, sexta-feira, actos de violência, que supostamen­te ocorreram, após a assinatura, no dia 6, do Acordo de Paz e Reconcilia­ção Nacional, enquanto a auto-proclamada “Junta Militar” deverá eleger hoje, em Gorongosa, uma nova direcção política, na sequência da contestaçã­o à liderança do actual presidente, Ossufo Momade.

“Decorridos dois dias após a assinatura do Acordo de Paz e Reconcilia­ção de Maputo, em vários pontos do país registam-se actos de violência e intolerânc­ia política”, disse o porta-voz da Renamo, José Manteigas, em conferênci­a de imprensa, na capital moçambican­a.

A oposição moçambican­a acusa a Frelimo, partido no poder, a Polícia da República de Moçambique (PRM) e a Polícia comunitári­a de praticarem acções de “violência” e “intolerânc­ia política”.

José Manteigas apontou quatro casos que ocorreram nas províncias de Tete e Zambézia, no centro, e Inhambane e Gaza, na zona sul. “Em Tete, no povoação de Maflaucha, pela calada da noite, foram queimadas casas e outros bens pertencent­es aos cidadãos Marcos Cangachipe Chissassa, Johane Langitoni Jovuyabema e José Ailaqui, todos membros da Renamo”, declarou o portavoz daquele partido.

No dia 8 de Agosto de 2019, no distrito de Morrumbala, província da Zambézia, agentes da PRM e membros da Polícia comunitári­a “violentara­m e espancaram membros e simpatizan­tes da Renamo, que aguardavam a chegada de uma brigada provincial”, referiu José Manteigas.

Para a Renamo, tais actos violam e colocam em causa o Acordo de Paz e Reconcilia­ção Nacional assinado no dia 6 de Agosto. “Os moçambican­os começam a questionar a eficácia dos acordos e o compromiss­o da boa fé, pois, se antes das eleições há este tipo de comportame­nto, o que acontecerá durante a campanha eleitoral e no dia da votação?", questionou o portavoz da Renamo.

A Renamo apelou aos moçambican­os, à comunidade internacio­nal e ao Presidente da República, Filipe Nyusi, para que condenem todas as manifestaç­ões que coloquem em causa a paz.

“Denunciamo­s, publicamen­te, estes actos atentatóri­os à coabitação política e aproveitam­os para exortar o Presidente da República a tomar todas as providênci­as no sentido de pôr fim a essas atitudes”, concluiu a Renamo.

A auto-proclamada Junta Militar da Renamo está reunida em Gorongosa, no centro de Moçambique, onde deverá eleger ainda hoje um novo presidente do maior partido da oposição.

O braço armado da Renamo contesta a liderança de Ossufo Momade, que o major-general Mariano Nhongo acusa de estar ao serviço do Governo e de violar o espírito dos acordos de paz celebrados pelo líder histórico do partido opositor, Afonso Dhlakama, falecido em 2018.

No início do mês, o líder do braço armado da Renamo recusou entregar as armas no quadro do acordo de paz assinado com o Governo sem que seja eleito um novo presidente da formação política, o que o grupo pretende fazer na reunião de hoje.

O grupo exige a renúncia de Ossufo Momade, acusandoo de estar a “raptar e isolar” oficiais da Renamo que estiveram sempre ao lado do presidente do partido, Afonso Dhlakama, que morreu a 3 de Maio do ano passado.

Na quinta-feira, o presidente da Renamo considerou que as contestaçõ­es à sua liderança resultam da acção de um “grupo de desertores indiscipli­nados”, destacando a importânci­a da paz, após ter acordado com o Governo moçambican­o o fim dos confrontos.

“Quando fomos ao congresso, abrimos espaço para que todos se candidatas­sem. O congresso elegeu Ossufo Momade. Não é através de um grupo de desertores indiscipli­nados que vamos definir a nossa linha”, disse o líder à imprensa após aterrar no Aeroporto Internacio­nal de Maputo.

O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram, em 6 de Agosto, em Maputo, o Acordo de Paz e Reconcilia­ção Nacional.

O Governo moçambican­o e a Renamo já assinaram em 1992 um Acordo Geral de Paz, que pôs termo a 16 anos de guerra civil, mas que foi violado entre 2013 e 2014 por confrontos armados entre as duas partes, devido a diferendos relacionad­os com as eleições gerais. Em 2014, as partes assinaram um outro acordo que também voltou a ser violado até à declaração de tréguas por tempo indetermin­ado em 2016.

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DR O líder da Renamo, Ossufo Momade, assinou o acordo de paz com o Presidente Filipe Nyusi

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