Jornal de Angola

O sonho de ser jornalista nunca abandonou o jovem da Catumbela

António Sapalo teve uma infância muito difícil mas tentou sempre superar a adversidad­e ajudando a família e estudando sempre

- Rui Ramos

António Capata Cassoma Sapalo, filho de António Sapalo, enfermeiro, e de Imaculada Cassinda, doméstica, é natural da Catumbela, província de Benguela, onde nasceu há 30 anos, numa família humilde “mas bastante conservado­ra em valores morais”.

O pai, quando jovem, foi preso pela Polícia Portuguesa (PIDE), juntamente com outros jovens tocoístas e enviado para o Campo de S. Nicolau-Bentiaba.

António Sapalo fez a primária na Escola Mutu ya Kevela, no Bairro da Tata, na Catumbela, “com extrema dificuldad­e por absoluta falta de condições financeira­s” da família e era obrigado a acompanhar a mãe na moagem para ajudar a “desfarelar” o milho.

O I Ciclo foi na Escola Comandante Dangereux, hoje Complexo-Escola Privada BG0007.

António Sapalo estudou até ao terceiro ano do Curso Superior de Relações Internacio­nais em Luanda, no ISPIL-Cacuaco, e até ao 2º° ano de Comunicaçã­o Social no Instituto Superior de Angola, também em Cacuaco, mas dificuldad­es financeira­s inultrapas­sáveis impediram António Sapalo de prosseguir os estudos.

A infância de António Sapalo foi como um filme de terror, conta. “Vivemos momentos muito difíceis, a fome tomou conta das nossas vidas. Em 1992, com três anos, com o regresso da guerra, vi o meu pai ser levado pela tropa porque escondeu os filhos mais velhos”, diz. “Em casa eu fiquei como mais velho, eu tinha de ajudar a minha mãe a cuidar dos meus irmãos.”

Sem o pai nem os irmãos mais velhos, António Sapalo foi forçado a recolher comida na lixeira e apanhar alimentos na praça da Catumbela. De manhã, muito cedo, ia à escola e depois ia para as praças tentar recolher algo para comerem.

Com 12 ou 13 anos, recorda, e como a família não tinha televisor, ia a casa de um amigo assistir aos noticiário­s. “Dizia que um dia ia ser jornalista, imitava as vozes de Ernesto Bartolomeu, António Capapa, Amílcar Xavier...”

“Depois de tanto sofrimento e miséria, fui influencia­do por um amigo a -ir para Luanda, aos 15 anos”, lembra. “Em Luanda o trabalho que viria supostamen­te mudar a minha vida e da minha família foi de engraxador de sapatos e lavador de carros.”

Viviam cinco pessoas num quarto minúsculo e António Sapalo foi influencia­do a beber, por sorte não chegou a fumar liamba. “O drama era aterroriza­nte, já não aguentava mais, mas a única coisa que não deixei de fazer foi querer aprender mais.” António Sapalo apanhava jornais e revistas na rua e nos contentore­s de lixo para os ler atentament­e. Sem condições financeira­s, pede ajuda à irmã Jutina Nhyna Sapalo, moradora na Vidrul, em Cacuaco, mas ela também enfrentava uma situação de pobreza extrema e não o pôde ajudar a prosseguir os estudos.

Em 2005, volta para Benguela, desiludido. Os amigos com quem vivia em Luanda foram para Benguela e formaram um grupo de luta e António Sapalo aderiu ao gang e voltou a beber, batiam nas pessoas, “até ao dia que batemos o filho de um oficial da Polícia que nos queixou ao soba “Cambeu”... quem fosse levado a este soba confessava crime que não cometeu devido à surra. “Fiquei foragido de casa três dias.”

Em 2008, na Catumbela não havia escola do terceiro nível, coincidiu que o irmão mais velho, Armindo Caliquemãl­a, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que vivia no Lubango, pediu que entre os irmãos um fosse para o Lubango estudar. “Naquele mesmo dia, não hesitei e pedi aos meus pais para que fosse eu.”

“Fui para o Lubango sozinho, só consegui dinheiro de candonguei­ro para o Lubango porque a minha mãe vendeu peças de panos e loiças que tínhamos em casa.”

No Lubango António Sapalo começou a ser outra pessoa. Voltou a estudar, no ensino médio, no Colégio Esperança. A cunhada Inês João Caquemãla, recorda, sacrificav­a-se para o manter e foi a sua segunda mãe. Em 2011 o irmão foi transferid­o para o Namibe e leva-o.

António Sapalo bateu à porta da Rádio Namibe e da TPA, em vão, mas um funcionári­o da TPA diz-lhe para falar com o jornalista Armando José Chicoca, da Voz da América, que o pôs a trabalhar à experiênci­a logo no primeiro dia, e ele começa a fazer entrevista­s a políticos, “sempre com a ajuda do jornalista Pedro Cafiele”.

No ano seguinte, António Sapalo ouve falar do Projecto Hora-H do jornalista Benedito Soares e decide ir para Luanda para aprender mais sobre Jornalismo e chega a ser chefe de grupo no projecto.

António Sapalo escreveu para o Portal Rádio Angola e mantém o sonho de ser jornalista a tempo inteiro.

Desde 2013 António Sapalo é professor do ensino primário numa escola do município de Cacuaco.

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DR António Sapalo é professor do ensino primário desde 2013

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