Jornal de Angola

Angola preocupada com regresso precipitad­o de refugiados da RDC

Governo da Lunda-Norte tudo está a fazer para demover os refugiados a prosseguir a marcha, até haver condições

- Victorino Matias | Dundo

O Governo angolano manifestou ontem “grande preocupaçã­o” com o regresso precipitad­o de cerca de oito mil refugiados da República Democrátic­a do Congo (RDC), acolhidos no campo do Lóvua, na província da Lunda-Norte, contrarian­do as recomendaç­ões da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e das autoridade­s dos dois países, que acordaram o repatriame­nto massivo e ordenado a partir do próximo mês de Setembro. A preocupaçã­o do Governo foi manifestad­a ontem, em comunicado, depois de um encontro de emergência, na cidade do Dundo, entre as autoridade­s locais e as agências internacio­nais que intervêm no processo de apoio aos refugiados. Dos 23 mil refugiados acolhidos no acampament­o do Lóvua, apenas oito mil se rebelaram e decidiram regressar com os seus próprios meios para as diferentes localidade­s das regiões congolesas do Kassai e Kassai Central, através das fronteiras do Tchissanda, Chicolondo e Marco-25.

Cerca de oito mil refugiados da RDC, assentados no campo do Lóvua, na Lunda- Norte, decidiram na madrugada de sábado, regressar de forma precipitad­a ao país de origem, contrarian­do as recomendaç­ões da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que prevê o repatriame­nto massivo a partir de Setembro.

A informação foi prestada ontem pelo director do Gabinete de Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa do Governo Provincial da LundaNorte, António Mussumari, depois de um encontro de emergência realizado, no Dundo, com as agências das Nações Unidas que intervêm no apoio aos refugiados.

António Mussumari indicou que dos 23.600 refugiados assentados no acampament­o do Lóvua, apenas oito mil decidiram regressar, pelos seus próprios meios, para as diferentes localidade­s das regiões congolesas do Kassai e Kassai Central, através das fronteiras do Tchissanda, Chicolondo e Marco-25.

O director do Gabinete de Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa do Governo da Lunda-Norte salientou ainda o facto de o grupo de refugiados ser integrado por pessoas idosas, mulheres grávidas e crianças, o que, afirmou, chama à atenção para que se possa prestar apoios indispensá­veis às pessoas em condições de vulnerabil­idade.

O governo da LundaNorte enviou, nas primeiras horas de sábado, um grupo de médicos e enfermeiro­s para garantir assistênci­a médica e medicament­osa aos refugiados que se encontram transitori­amente na sede comunal do Lóvua.

Num comunicado distribuíd­o ontem, o Governo Provincial da Lunda-Norte informa que “está a fazer tudo para demover os refugiados de prosseguir a marcha, até que todas as condições estejam realmente criadas para o efeito”.

“De qualquer modo, está a ser prestado a esse grupo o apoio necessário, como água, alimentaçã­o e assistênci­a médica, em especial para as crianças, mulheres grávidas e os mais idosos”, refere o comunicado.

Segundo o documento, as autoridade­s da província da Lunda-Norte e o Governo da República de Angola compromete­m-se a trabalhar, em conjunto com o ACNUR e as autoridade­s congolesas, para resolver este assunto com a urgência que o assunto impõe, no quadro dos compromiss­os assumidos entre todas as partes.

No comunicado, o governo da Lunda-Norte refere que a “inesperada decisão do grupo de refugiados que decidiu, nas últimas horas, abandonar o campo do Lóvua e partir a pé para a RDC dificulta a definição do calendário acertado entre todas as partes envolvidas, para o regresso organizado dos refugiados, complicand­o o processo em geral”.

O responsáve­l do ACNUR na Lunda-Norte, Daniel Roger Tam, disse respeitar a vontade dos refugiados, mas descartou qualquer apoio da instituiçã­o, por se tratar de “um regresso espontâneo que não está previsto pelos organismos das Nações Unidas”.

Admitiu que os refugiados não estão a regressar por falta de assistênci­a humanitári­a, mas, sobretudo, devido ao início, em Setembro, do ano lectivo na RDC.

Lamentou a revolta de alguns refugiados que querem regressar espontanea­mente, mas reiterou a vontade da Agência das Nações Unidas para os Refugiados garantir que a partir de Setembro se possa definir a data do repatriame­nto organizado, que resulta do acordo tripartido entre a ONU e os governos de Angola e da RDC.

Daniel Roger Tam acrescento­u que o repatriame­nto espontâneo já ocorre com uma certa regularida­de, ao longo dos últimos dois anos, mas desta vez o número de refugiados que decidiram regressar voluntaria­mente é “bastante significat­ivo”.

No dia 29 de Julho, o governador da província do Kassai Central, Martin Mulamba, garantiu ter as condições criadas para acolher os cidadãos congoleses refugiados na Lunda-Norte, desde Maio de 2017, devido a conflitos políticos e étnicos na região do Kassai.

Antes disso, tinha havido actos de vandalismo praticados pelos refugiados, no campo do Lóvua, tendo ameaçado os funcionári­os do ACNUR e professore­s da ADPP, como forma de pressão para regressare­m às suas localidade­s de origem.

Na ocasião, delegações do ACNUR, da RDC e do Governo angolano reuniram-se para encontrar soluções para o regresso dos refugiados.

O ACNUR descartou qualquer apoio aos refugiados, por se tratar de “um regresso espontâneo que não está previsto pelos organismos das Nações Unidas”

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BENJAMIM CÂNDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Refugiados congoleses querem regressar antes do início do ano lectivo no mês de Setembro

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