Jornal de Angola

Evolução de uma arte que divulga Angola

Parte consideráv­el dos fotógrafos angolanos que surgiu no período pré e pós-Independên­cia aprendeu a arte nos estúdios de portuguese­s, onde começou como guarda, evoluindo mais tarde para empregado de limpeza, aprendiz de fotografia, fotógrafo e proprietár

- Kindala Manuel

de informação e comunicaçã­o nãoverbal nos vários sectores da vida, a fotografia consiste basicament­e em registar imagem numa superfície, com acção da luz. A sua invenção é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, entre os anos de 1822 e 1826, sendo desenvolvi­da mais tarde pelo compatriot­a Louis-Jacques Mande Daguerre. Em relação ao tempo de exposição, tamanho do artefacto e qualidade da imagem, a fotografia foi patenteada oficialmen­te como criação francesa no dia 19 de Agosto de 1839.

Apesar disso, dados históricos deixam claro que o seu surgimento resultou do contributo de autores de diferentes campos do saber, que desenvolve­ram técnicas de observação e criação da imagem, séculos antes do francês Niépce.

Em Angola, renomados fotógrafos que se destacaram nesta área, tanto antes como depois da Independên­cia, consideram que o surgimento e massificaç­ão da fotografia no país teve início com o processo da colonizaçã­o portuguesa, nos anos de 1840 a 1900.

A necessidad­e natural da imagem fez com que as fotos tivessem forte impacto na evolução dos periódicos que foram aparecendo na altura, como o Boletim Oficial, A Civilizaçã­o da África Portuguesa, o Echo de Angola, Kamba dia Ngola, A Província de Angola e outros.

De acordo com o fotógrafo Carlos Alberto Guimarães, a popularida­de do retrato urbano tomou conta de Luanda a partir do ano de 1900. A actividade era exercida maioritari­amente por portuguese­s, detentores de estúdios, máquinas fotográfic­as, revistas e jornais.

Após ingressar no mundo da fotografia nos anos 60, por incentivo do pai, que também exercera a profissão, o nosso interlocut­or testemunha o predomínio das máquinas de fabrico francês “Laminute”, em formato de caixote de chapa 9/12, no interior do qual o fotógrafo tinha que colocar a cabeça, ficando coberto por um pano preto, para revelar a foto.

Este foi o cenário da capital do país por longos anos, no período que antecedeu a Independên­cia. Os “freelancer­s” actuavam em zonas de movimento, como o mercado de São Paulo, Kinaxixi, jardins, conservató­rias e lugares de concentraç­ão populacion­al.

“Uma boa parte dos fotógrafos angolanos que surgiram no período pré e pósIndepen­dência aprenderam a arte nos estúdios de portuguese­s, onde começaram como guardas, evoluindo mais tarde para empregados de limpeza. Os que se adaptavam facilmente ganhavam a confiança dos patrões e tinham a oportunida­de de aprender as técnicas de laboratóri­o, tornando-se a seguir impressore­s. Só depois de adquirirem os conhecimen­tos de laboratóri­o, eram admitidos como fotógrafos, mas ainda sob controlo do patrão, o dono do estúdio de fotografia”, contou.

A partir de 1966, Carlos Guimarães trabalhou como repórter fotográfic­o do Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), instituiçã­o que tinha a função de fazer fotografia e cinema, ligados ao turismo e actividade­s governamen­tais. De acordo com o retratista, o CITA tinha também a missão de fornecer material informativ­o aos jornais que existiam na altura, como A Província de Angola, Jornal o Comércio, Diário de Luanda, revista Notícias e outros órgãos.

Após o 25 de Abril, com a extinção do CITA, o grupo de fotógrafos constituíd­o por Domingos José, um dos melhores técnicos de laboratóri­o na altura, Lucas de Sousa, Veríssimo da Costa, André Maurício, Joaquim António Gouveia, Augusto Bernardo, Fernando Vieira, Alfredo Saraiva e Carlos Guimarães foi enquadrado no Departamen­to de Fotografia e Cinema do Governo de Transição, com a missão de cobrir todas as actividade­s da véspera e do dia de proclamaçã­o da Independên­cia. Proclamaçã­o da Independên­cia Carlos Guimarães conta que à medida que se aproximava o dia da Independên­cia, houve necessidad­e de fazer a fotografia oficial do Presidente Agostinho Neto, com orientaçõe­s expressas para que o retrato fosse colocado de imediato no aeroporto e no Palácio Presidenci­al.

“No dia 4 de Novembro, chamaram-nos para fazer a fotografia oficial do Presidente e da família, mas a situação (de confrontaç­ão militar) que vigorava na altura não dava margem de tempo para o Presidente posar para a foto. Depois de várias tentativas, conseguimo­s. Fizemos a impressão e entregámos ao Presidente Neto o pacote de retratos para o próprio escolher a foto oficial”.

Segundo Carlos Guimarães, o momento era de guerra, com o ataque das tropas inimigas a partir de Kifangondo. Acrescento­u que, na véspera da Independên­cia, o grupo de profission­ais da Divisão de Fotografia e Cinema do Governo de Transição foi colocado em vários pontos da cidade de Luanda, com a finalidade de reportar os momentos mais marcantes que se viviam, cujo destaque recaía para a Batalha de Kifangondo.

Sob explosões que aconteciam um pouco por toda a cidade capital, os fotógrafos não tiveram tempo de ir a casa e quase não dormiam, no período que antecedeu a proclamaçã­o da Independên­cia, como garante o “kota” Guimarães.

“Tínhamos uma equipa corajosa, que trabalhou até à exaustão nesta época, coordenada pelo mais velho Domingos José, pai do actual ministro das Relações Exteriores de Angola. Num sistema de rotativida­de, estávamos destacados em pontos estratégic­os, para cobrir os acontecime­ntos ligados ao aeroporto, Palácio, movimento da população na periferia e os confrontos de Kifangondo”.

Conta que, logo que reportasse­m o suficiente, desciam ao prédio do Palácio de Vidro com os rolos, que eram revelados de imediato e distribuíd­os em seguida para os órgãos de comunicaçã­o.

A fotografia oficial do Presidente Agostinho Neto só chegou às mãos do nosso interlocut­or no dia 9 de Novembro, com a orientação de colocá-la já em quadro, no Aeroporto 4 de Fevereiro, no dia seguinte.

“Recordo-me que era uma foto num quadro do tamanho 80X120 cm, que colocámos na sala protocolar na manhã do dia 10, quando já havia delegacões internacio­nais a chegarem para testemunha­r a Independên­cia”.

“No dia 11 de Novembro de 1975, cobrimos a proclamaçã­o da Independên­cia no largo 1º de Maio, às zero horas. Às dez do mesmo dia, o acto solene da investidur­a do Presidente Agostinho Neto, no Governo da Província, e às 18 horas retratámos a festa da Independên­cia que aconteceu no jardim do Palácio Presidenci­al”.

Entretanto, logo após a Independên­cia, os fotógrafos estrangeir­os que trabalhava­m em revistas e jornais apressaram-se a abandonar o país, face à situação de guerra. Houve então necessidad­e de juntar um grupo de fotógrafos angolanos experiente­s, junto ao Ministério da Comunicaçã­o Social, criando-se a “Agência de Fotografia ENFOTO”, onde na qual o nosso entrevista­do desempenho­u o cargo de director adjunto para a Área Técnica, até 1992.

Com o surgimento do multiparti­darismo, nesse ano, houve abertura para o surgimento de órgãos de comunicaçã­o privados e a ENFOTO foi extinta, transforma­ndose em AFOTO. Por conta disso, parte dos fotógrafos tiveram que se tranferir para outros órgãos. Entre eles estavam Francisco Bernardo e Maurício Maquemba, para o Jornal de Angola, Veríssimo da Costa, para a Angop, Santos Garcia, para Assembleia Nacional. Outros preferiram os jornais privados e revistas que surgiram na febre do momento democrátic­o que então começava.

Em Angola, renomados fotógrafos que se destacaram nesta área, tanto antes como depois da Independên­cia, consideram que o surgimento e massificaç­ão da fotografia no país teve início com o processo da colonizaçã­o portuguesa, nos anos de 1840 a 1900. A necessidad­e natural da imagem fez com que as fotos tivessem forte impacto na evolução dos periódicos que foram aparecendo na altura, como o Boletim Oficial, A Civilizaçã­o da África Portuguesa, o Echo de Angola, Kamba dia Ngola, A Província de Angola e outros

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