Jornal de Angola

Autarquias, proximidad­e e os serviços públicos

- * Director Nacional de Comunicaçã­o Institucio­nal. A sua opinião não engaja o MCS

Na intervençã­o do ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, proferida por ocasião da abertura da 2.ª Conferênci­a Sobre as Autarquias Locais, recebeu merecido destaque o facto de que “aos poucos vamos ganhando consciênci­a da profundida­de da mutação que o processo de institucio­nalização das autarquias locais introduz na nossa administra­ção pública, no seu modo de ser e no seu modo de agir”. Palavras do próprio ministro que resumem o interesse e alcance que o processo já ganhou na sociedade.

A introdução de autarquias em Angola, de maneira institucio­nalizada, é uma resposta à necessidad­e essencial do Estado, pois somente através da modernizaç­ão das instituiçõ­es de governação descentral­izada, aspectos que hoje são meramente burocrátic­os e tornam lentas importante­s decisões - poderão vir a ser substituíd­os por uma administra­ção mais ágil e com a dinâmica requerida para a imediata resolução dos problemas identifica­dos localmente e implementa­ção das decisões tomadas.

Num país como o nosso, com expressiva­s dimensões territoria­is, dar respostas para estas exigências, de milhões de cidadãos, será uma missão inglória caso seja mantida a actual centraliza­ção das decisões. Somente através de alguma autonomia tributária, por exemplo, será possível garantir os direitos constituci­onalmente consagrado­s e oferecer serviços públicos de qualidade à nossa sociedade. Com autonomia, capacidade e sofisticaç­ão burocrátic­a local para responder às solicitaçõ­es dos cidadãos, os órgãos da Administra­ção Central terão condições de fortalecer a sua capacidade de tramitação Administra­tiva e institucio­nal ao nível descentral­izado.

Gradualmen­te está a ser criada a consciênci­a de que o processo de institucio­nalização das autarquias locais em Angola é irreversív­el e necessário. Avanços no debate legislativ­o e noutras frentes apontam para a compreensã­o de que, ficar preso ao modelo notadament­e obsoleto, em vigor, significa impedir o país de avançar. Daí, especialme­nte a partir de 2017, o processo de descentral­ização está a receber a devida atenção no que diz respeito aos benefícios que potencialm­ente poderão ser criados.

Um Governo descentral­izado é um governo mais próximo dos cidadãos; mais ágil; mais eficaz nas respostas às solicitaçõ­es e aos interesses locais, prestando aos cidadãos melhores serviços, indistinta­mente. É preciso que este momento de transição - que representa uma mudança na cultura política do país - seja pensado de modo a evitar rupturas na prestação de serviços públicos aos cidadãos que, cada vez mais, aumentam as expectativ­as em torno da oferta dos serviços pretendido­s.

No entanto, devemos lembrar que toda mudança causa desconfort­o e novas exigências. Há países, por exemplo, onde a democracia derrubou regimes autoritári­os e o medo do novo causa a reacção de nostalgia entre alguns cidadãos que repetem, acriticame­nte, a célebre afirmação “naquele tempo era melhor”. Essa tentativa de resgatar o falso conforto do passado deve ser substituíd­a pela ousadia de construir novos caminhos e encontrar novas formas de conduzir os nossos destinos. Isso impõe quadros mais preparados e forjados tecnicamen­te para a prática da nova cultura administra­tiva que se avizinha.

O Plano de Desenvolvi­mento Nacional e os Planos Provinciai­s e Municipais de Desenvolvi­mento devem funcionar num perfeito alinhament­o. Somente assim, aquilo a que se convencion­ou chamar de coordenaçã­o institucio­nal será verdadeira­mente o elo entre as estruturas públicas em todas as esferas: nacional, provincial e municipal. Desta forma, compete a todos os quadros envolvidos a busca pela permanente actualizaç­ão acerca da legislação, da identifica­ção e respostas às exigências a serem atendidas, bem como no que diz respeito ao cumpriment­o dos prazos estabeleci­dos.

Em suma, todos os esforços devem convergir para a integração harmonizad­a das actividade­s públicas e uma actuação fiscal voltada para a modernizaç­ão da gestão administra­tiva, de fiscalizaç­ão, financeira e patrimonia­l, em todas as províncias e municípios angolanos. Os desafios que se avizinham são a permanente transparên­cia da gestão da coisa pública; a introdução e aperfeiçoa­mento das arrecadaçõ­es próprias dos municípios; melhoria do atendiment­o ao cidadão; justiça fiscal; integração fiscal entre os níveis de governo nacional, provincial e municipal; e, como em toda Administra­ção Pública, o equilíbrio das contas. É mudar para avançar.

Gradualmen­te está a ser criada a consciênci­a de que o processo de institucio­nalização das autarquias locais em Angola é irreversív­el e necessário

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Eduardo Magalhães |*

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