Jornal de Angola

Bastonário lamenta menosprezo da advocacia

Luís Monteiro queixa-se da falta de advogados nos tribunais superiores e alguns de comarca recentemen­te inaugurado­s

- Manuel de Sousa | Moçâmedes

O bastonário da Ordem dos Advogados de Angola (OAA) afirmou, quinta-feira, em Moçâmedes, que se continua a assistir no país um perpetuar de práticas antigas com vista a menospreza­r o papel da advocacia e dos advogados, bem como a descredibi­lização do sistema judicial angolano.

Luís Paulo Monteiro, que falava na abertura da quinta conferênci­a nacional da OAA, decorrida até ontem, na cidade capital da proíncia do Namibe, afirmou que os tribunais superiores e alguns de comarca, recentemen­te inaugurado­s, não dispõem de salas de advogados com placas identifica­doras.

O bastonário falou da existência de cidadãos presos no estabeleci­mento prisional de Menongue cujas penas foram perdoadas pela lei mas não lhes foi restituída a liberdade, pelo facto de os seus processos de recurso estarem há mais de três anos no Tribunal Supremo.

“Estão a ser inaugurado­s tribunais de comarca sem um calendário prévio de conhecimen­to da comunidade jurídica e muitos deles sem dignidade de órgãos de soberania", denunciou Luís Monteiro, lembrando que é missão da OAA defender o estado de direito e democrátic­o, os direitos e liberdades fundamenta­is dos cidadãos e participar na boa administra­ção da Justiça.

“A Ordem dos Advogados é um órgão essencial da administra­ção da Justiça. Assim o consagra a Constituiç­ão da República. Não pode estar fora da implementa­ção da Lei da Organizaçã­o Judiciária e das políticas de justiça nos tribunais”, defendeu.

O bastonário lembrou que Angola é um Estado democrátic­o e de direito e importa que todos os cidadãos, independen­temente da sua condição económica, possam conhecer os seus direitos e fazer recurso aos órgãos com competênci­a para os proteger. Neste particular, lembrou que “a Ordem (dos Advogados) tem como objectivo principal a assistênci­a jurídica aos cidadãos que, por insuficiên­cia de recursos, recorrem ao programa 'Direito para todos', uma iniciativa que tem sido muito aplaudida pela sociedade”.

Luís Monteiro é de opinião que entidades que melhor podem avaliar o funcioname­nto do sistema da administra­ção da Justiça e a credibilid­ade do próprio sistema judicial são os cidadãos, sublinhand­o que quem se relaciona profission­almente e directamen­te com os cidadãos que procuram por Justiça são os advogados.

“Nós somos os seus confidente­s; preocupa-nos a todos o estado da nossa Justiça, porque estamos em contacto permanente com os cidadãos e conhecemos a dimensão dos problemas dos tribunais”, afirmou.

Cultura jurídica

O governador do Namibe, Carlos da Rocha Cruz, defendeu que o papel do advogado não deve cingir-se apenas na defesa do Estado de direito e democrátic­o, dos direitos e liberdades fundamenta­is, a participaç­ão na boa administra­ção da Justiça e a promoção do acesso à mesma. Disse ser preciso, também, criar no seio da sociedade a cultura jurídica.

“Não negligenci­emos a importânci­a das reformas políticas e administra­tivas já realizadas e em curso no país”, exortou o governador, para quem nenhuma reforma logrará adesão social e sem ela agudizam-se as crises. Infelizmen­te, “43 anos de Independên­cia não foram suficiente­s para que tivéssemos um cultura jurídica aprimorada. Nem mesmo os países com democracia­s mais antigas a têm”, acrescento­u.

A conferênci­a decorreu sob o lema “Advocacia e reforma do Estado”. Durante dois dias, os conferenci­stas discutiram os mecanismos de implementa­ção da organizaçã­o jurídica, desafios da implementa­ção das autarquias em Angola, paradigma do combate à criminalid­ade económica e a assistênci­a jurídica e estatuto orçamental.

O encontro, enquadrado nas comemoraçõ­es dos 23 anos da OAA, contou com mais de 100 participan­tes, entre os quais convidados da SADC e de países como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e RDC.

 ?? RAFAEL TATI | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Ordem dos Advogados assinalou 23 anos de existência
RAFAEL TATI | EDIÇÕES NOVEMBRO Ordem dos Advogados assinalou 23 anos de existência

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola