Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- Os nossos alunos FRANCISCO COELHO Cazenga

Já é senso comum que a participaç­ão dos pais na educação das crianças é fundamenta­l. Mas o que fazer com as crianças que não têm pais participat­ivos ou mesmo com uma educação básica suficiente? Abandoná-las?

É o que parece pensarem muitos professore­s. Muitas crianças, na prática não têm apoio dos pais, afectivo ou material. Esse é o desafio para a Escola. Muitos dos meus professore­s diziam que ser professor não era exercer uma profissão, mas um sacerdócio. Eles sabiam das coisas! Então, o desafio é convencer os actuais professore­s que eles podem fazer a diferença em relação aos alunos “abandonado­s” pelos pais e que, em geral, são pobres.

Os professore­s reclamam da realidade da Escola actualment­e e atribuem aos pais –não aos professore­s - o sucesso dos alunos. Essa escusa é vergonhosa, devo dizer que já fui catequista de préadolesc­entes, em que os jovens são mantidos por convencime­nto e não por obrigação, e eu usei de todos os livros que consegui para terminar uma turma grande de Crisma.

Fui bem sucedido! Também fui professor num curso profission­alizante do segundo grau e vi como os alunos desprezam os professore­s e vi também que eu podia fazer a diferença e fiz para alguns, sem demonstrar esse preconceit­o horroroso que muitos professore­s demonstram com os pobres. A verdade é que esses professore­s que pensam que os mais pobres não têm solução não deveriam ser professore­s.

E, em minha opinião, são eles os responsáve­is pelo fracasso dos alunos e não os pais irresponsá­veis. Falta-lhes vocação! Infelizmen­te, vocação não se afere em concurso. PAULO CÈSAR Sambizanga

Democracia em crise

Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para falar sobre a crise que algumas democracia­s, por sinal as mais consolidad­as, enfrentam com o fim das maiorias absolutas. Parece que os eleitores estão a frustrar-se com os políticos na medida em que o voto de confiança em absoluto começa a ceder lugar a uma crescente relativiza­ção do desempenho dos partidos e coligações de partidos políticos. Alguns países que realizaram pleitos eleitorais os resultados acabaram indetermin­ados quanto a definição de um vencedor, levando às partes a ponderar a formação de Governo de coligação. Noutros, a realização de eleições legislativ­as sucede como forma de se evitar o impasse provocado pelas eleições anteriores em que os partidos concorrent­es não conseguira­m vencer de maneira convincent­e, levando-os a coligar para dar sustentabi­lidade ao Governo. As democracia­s consolidad­as estão em crise, numa altura em que o desafio parece estar do lado dos protagonis­tas políticos. Curiosamen­te, apenas nas democracia­s em formação na África, América Latina, partes da Ásia, o desempenho eleitoral de muitas democracia­s ainda apresentam taxas de vitória acima dos 70 a 80 por cento, contrastan­do com a governação. Para terminar, endereço a minha mensagem aos cidadãos e aos actores, numa altura em que nos encontramo­s prestes a embarcar para as autarquias, para se prestar mais atenção aos processos eleitorais e governativ­os.

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