CARTAS DOS LEITORES
Já é senso comum que a participação dos pais na educação das crianças é fundamental. Mas o que fazer com as crianças que não têm pais participativos ou mesmo com uma educação básica suficiente? Abandoná-las?
É o que parece pensarem muitos professores. Muitas crianças, na prática não têm apoio dos pais, afectivo ou material. Esse é o desafio para a Escola. Muitos dos meus professores diziam que ser professor não era exercer uma profissão, mas um sacerdócio. Eles sabiam das coisas! Então, o desafio é convencer os actuais professores que eles podem fazer a diferença em relação aos alunos “abandonados” pelos pais e que, em geral, são pobres.
Os professores reclamam da realidade da Escola actualmente e atribuem aos pais –não aos professores - o sucesso dos alunos. Essa escusa é vergonhosa, devo dizer que já fui catequista de préadolescentes, em que os jovens são mantidos por convencimento e não por obrigação, e eu usei de todos os livros que consegui para terminar uma turma grande de Crisma.
Fui bem sucedido! Também fui professor num curso profissionalizante do segundo grau e vi como os alunos desprezam os professores e vi também que eu podia fazer a diferença e fiz para alguns, sem demonstrar esse preconceito horroroso que muitos professores demonstram com os pobres. A verdade é que esses professores que pensam que os mais pobres não têm solução não deveriam ser professores.
E, em minha opinião, são eles os responsáveis pelo fracasso dos alunos e não os pais irresponsáveis. Falta-lhes vocação! Infelizmente, vocação não se afere em concurso. PAULO CÈSAR Sambizanga
Democracia em crise
Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para falar sobre a crise que algumas democracias, por sinal as mais consolidadas, enfrentam com o fim das maiorias absolutas. Parece que os eleitores estão a frustrar-se com os políticos na medida em que o voto de confiança em absoluto começa a ceder lugar a uma crescente relativização do desempenho dos partidos e coligações de partidos políticos. Alguns países que realizaram pleitos eleitorais os resultados acabaram indeterminados quanto a definição de um vencedor, levando às partes a ponderar a formação de Governo de coligação. Noutros, a realização de eleições legislativas sucede como forma de se evitar o impasse provocado pelas eleições anteriores em que os partidos concorrentes não conseguiram vencer de maneira convincente, levando-os a coligar para dar sustentabilidade ao Governo. As democracias consolidadas estão em crise, numa altura em que o desafio parece estar do lado dos protagonistas políticos. Curiosamente, apenas nas democracias em formação na África, América Latina, partes da Ásia, o desempenho eleitoral de muitas democracias ainda apresentam taxas de vitória acima dos 70 a 80 por cento, contrastando com a governação. Para terminar, endereço a minha mensagem aos cidadãos e aos actores, numa altura em que nos encontramos prestes a embarcar para as autarquias, para se prestar mais atenção aos processos eleitorais e governativos.