Assistencialismo vs trabalho
A situação no Sul do país, que tem servido para as mais variadas reacções, incluindo aproveitamento político por parte de alguns sectores da oposição, está a merecer da parte das instituições do Estado a atenção e a tomada de decisões consentâneas com a realidade. Vários parceiros do Executivo estão igualmente a associar-se aos esforços de toda a sociedade para se minimizar os efeitos gravosos da seca naquela região. É uma falácia, além de completa irresponsabilidade, da parte do deputado Adalberto da Costa Júnior dizer que “a resposta do Governo é praticamente inexistente”, quando se sabe que as entidades que mais intervêm na região são precisamente as autoridades, centrais e locais. Pode ser discutível se a intervenção e estratégia até agora adoptadas, dentro dos condicionalismos materiais e financeiros que existem, estão ou não a resolver os problemas, mas não corresponde à verdade dizer que o Governo não está a fazer nada. Atendendo a conjuntura presente, caracterizada pelas alterações climáticas, tudo indica que o país vai se confrontar por algum tempo com as condições que testemunhamos, razão pela qual são mais importantes soluções duradouras que transcendam a recolha de bens e entrega de ajuda humanitária. Há abertura da parte do Executivo, dos governos provinciais e das administrações, nas regiões afectadas, para a recepção de contribuições, não necessariamente materiais, que incidam na busca de soluções duradouras. E nada indica que as ajudas humanitárias e as doações de bens sejam soluções mais ajustadas e sustentáveis para resolver o problema da fome, mesmo que haja quantidades infindáveis de produtos alimentares. Ainda que no curto prazo uma das formas imediatas de resolver o problema passe eventualmente pela distribuição de bens alimentares, não faz qualquer sentido ter esta modalidade como uma espécie de modo de vida. As populações deviam ser incentivadas a trabalhar, a dependerem de si mesmas, mesmo nas condições em que aparentemente haja dificuldades e nem que para isso tenham de se deslocar para outras áreas. Não podemos evoluir para um quadro em que as populações, ali onde estejam a passar fome, vivam eternamente o dilema entre a espera pelas ajudas humanitárias e o trabalho da terra, onde seja possível, acabando por se acomodar no sentido da primeira opção. Se para o gado, nalgumas regiões do Sul do país, as populações realizam deslocações sazonais com os rebanhos para locais que oferecem melhores condições durante uma parte do ano, não se pode fazer o mesmo para a subsistência e sobrevivência humanas, ainda que temporariamente? Não podemos consentir permanentemente que as populações, nas áreas em que o país se confronta com a problemática da fome, permaneçam ali à espera das ajudas, fazendo-as viver sob o manto do assistencialismo que empobrece mais, acomoda e não as faz despertar para o trabalho. Insistimos que as populações devem ser incentivadas a trabalhar, mesmo nas condições em que aparentemente haja dificuldades e nem que para isso tenham de se deslocar para outras áreas temporariamente. Estar à espera de ajuda pode ser uma forma cómoda de viver, mas é recomendável e digno que as populações sejam instadas a dependerem de si mesmas, trabalhando ali onde seja possível, porque as dificuldades não podem promover o assistencialismo em detrimento do trabalho.