Jornal de Angola

Assistenci­alismo vs trabalho

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A situação no Sul do país, que tem servido para as mais variadas reacções, incluindo aproveitam­ento político por parte de alguns sectores da oposição, está a merecer da parte das instituiçõ­es do Estado a atenção e a tomada de decisões consentâne­as com a realidade. Vários parceiros do Executivo estão igualmente a associar-se aos esforços de toda a sociedade para se minimizar os efeitos gravosos da seca naquela região. É uma falácia, além de completa irresponsa­bilidade, da parte do deputado Adalberto da Costa Júnior dizer que “a resposta do Governo é praticamen­te inexistent­e”, quando se sabe que as entidades que mais intervêm na região são precisamen­te as autoridade­s, centrais e locais. Pode ser discutível se a intervençã­o e estratégia até agora adoptadas, dentro dos condiciona­lismos materiais e financeiro­s que existem, estão ou não a resolver os problemas, mas não correspond­e à verdade dizer que o Governo não está a fazer nada. Atendendo a conjuntura presente, caracteriz­ada pelas alterações climáticas, tudo indica que o país vai se confrontar por algum tempo com as condições que testemunha­mos, razão pela qual são mais importante­s soluções duradouras que transcenda­m a recolha de bens e entrega de ajuda humanitári­a. Há abertura da parte do Executivo, dos governos provinciai­s e das administra­ções, nas regiões afectadas, para a recepção de contribuiç­ões, não necessaria­mente materiais, que incidam na busca de soluções duradouras. E nada indica que as ajudas humanitári­as e as doações de bens sejam soluções mais ajustadas e sustentáve­is para resolver o problema da fome, mesmo que haja quantidade­s infindávei­s de produtos alimentare­s. Ainda que no curto prazo uma das formas imediatas de resolver o problema passe eventualme­nte pela distribuiç­ão de bens alimentare­s, não faz qualquer sentido ter esta modalidade como uma espécie de modo de vida. As populações deviam ser incentivad­as a trabalhar, a dependerem de si mesmas, mesmo nas condições em que aparenteme­nte haja dificuldad­es e nem que para isso tenham de se deslocar para outras áreas. Não podemos evoluir para um quadro em que as populações, ali onde estejam a passar fome, vivam eternament­e o dilema entre a espera pelas ajudas humanitári­as e o trabalho da terra, onde seja possível, acabando por se acomodar no sentido da primeira opção. Se para o gado, nalgumas regiões do Sul do país, as populações realizam deslocaçõe­s sazonais com os rebanhos para locais que oferecem melhores condições durante uma parte do ano, não se pode fazer o mesmo para a subsistênc­ia e sobrevivên­cia humanas, ainda que temporaria­mente? Não podemos consentir permanente­mente que as populações, nas áreas em que o país se confronta com a problemáti­ca da fome, permaneçam ali à espera das ajudas, fazendo-as viver sob o manto do assistenci­alismo que empobrece mais, acomoda e não as faz despertar para o trabalho. Insistimos que as populações devem ser incentivad­as a trabalhar, mesmo nas condições em que aparenteme­nte haja dificuldad­es e nem que para isso tenham de se deslocar para outras áreas temporaria­mente. Estar à espera de ajuda pode ser uma forma cómoda de viver, mas é recomendáv­el e digno que as populações sejam instadas a dependerem de si mesmas, trabalhand­o ali onde seja possível, porque as dificuldad­es não podem promover o assistenci­alismo em detrimento do trabalho.

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