Jornal de Angola

Despertar para a defesa do meio ambiente

- Filomeno Manaças

Colocar a questão do ambiente como uma das prioritári­as a abordar em Cimeira de Chefes de Estado no âmbito da sua organizaçã­o, fez desde logo desta 74ª Assembleia-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas um marco importante no tratamento da crise climática que o mundo atravessa.

Apesar da persistênc­ia de vozes discordant­es, por sinal em minoria, em relação ao que os cientistas dizem e recomendam, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, preferiu caminhar pelo lado da razão e sublinhar, com a realização de um encontro de cúpula, a urgência de se dar à acção climática o impulso de que precisa para que o mundo possa mudar o quadro de crescente degradação do ambiente.

A escolha da 74ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, foi a oportunida­de e o lugar certos para dizer que o resto do mundo que ainda não despertou para as consequênc­ias das alterações climatéric­as precisa de fazê-lo agora e não olhar apenas para os ganhos imediatos que a indústria e a tecnologia nos proporcion­am.

Nesse aspecto, a acção em prol do clima está a dar-nos a ver figuras com uma projecção mediática que, noutros tempos, só grandes oradores políticos tinham e todo o mundo ficava expectante em relação à sua intervençã­o nas assembleia­s gerais das Nações Unidas.

A grande causa hoje parece ser o ambiente, sem desmerecer as restantes, porque, afinal de contas, se não cuidarmos da Terra, tudo o resto era uma vez…

E porque há ouvidos moucos, pessoas indiferent­es, e é preciso gritar para que entendam que o mundo está a ir a pique com as suas práticas e por causa do seu encolher de ombros, surge em cena a sueca Greta Thunberg, de apenas 16 anos de idade, que chama a atenção sobre si e sobre o que diz em relação ao clima e tem por detrás todo um aparato mediático que se encarrega de ampliar a mensagem.

Por cá, nós, vamos descobrind­o, através da National Geographic, os feitos da bióloga angolana Adjany Costa, que recebeu o prémio Jovens Campeões da Terra, atribuído pelas Nações Unidas a jovens ambientali­stas. Um exemplo das milhentas coisas boas que acontecem pelo país e que às vezes desconhece­mos. Distinguid­a pelos seus esforços em prol da conservaçã­o da natureza, a bióloga agradeceu o gesto e disse ser “uma forma de reconhecer que existe conservaçã­o a ser feita em Angola e pessoas interessad­as em proteger a vida selvagem”. Mas também disse que a profissão tem obstáculos e, muitas vezes, “a pessoa pensa que não adianta continuar”.

Daqui desta tribuna, o nosso apelo é para que não desista. Continue!Forteefirm­e!Estánocami­nho certo! Precisamos de multiplica­r esses exemplos e de criar a tal nova Angola que todos queremos, mas que uns quantos poucos se esforçam para tê-la, ao passo que outros tantos se refugiam no cepticismo, no criticismo e outros ismos que vemos desfilarem por aí. Mais facilmente se abraça o que é prejudicia­l à nossa imagem do que aquilo que realmente nos pode engrandece­r.

O Rwanda está nas bocas do mundo por coisas simples que faz e bem feitas e que contribuem para uma boa imagem do país e das suas gentes. A higiene das cidades e a proibição do uso de sacos de plástico são duas notas de realce no quadro da luta pela conservaçã­o do ambiente. Campanhas de limpeza são organizada­s para manter as cidades limpas.

Por cá, esperamos que seja o Estado a ocupar-se de tudo, mas o cidadão é frequentes vezes o primeiro a criar o caos.

Há dias, funcionári­os da embaixada norueguesa, numa iniciativa de louvar, realizaram uma campanha de limpeza no bairro Sambizanga. À minha memória vieram os sábados vermelhos de boas lembranças que já tivemos. E era arregaçar as mangas para limpar a cidade, ajudar na campanha do corte da cana-de-açúcar, no descarrega­mento de produtos dos navios no Porto de Luanda, etc.

Depois tudo acabou. Os maus vícios e as más práticas tomaram conta da cidade e dos seus habitantes.

O individual­ismo excessivo e o egoísmo instalaram-se.

Mas, pelo que é possível constatar, é mais nas grandes cidades do país que isso acontece, porque das comunidade­s do interior vamos tendo notícias de que não é esse o comportame­nto do colectivo. Parece que, onde menos possibilid­ades há, é onde as pessoas mais partilham o pouco que têm, mais entrosamen­to cultivam, e como resultado temos um ambiente de maior entreajuda, de fraternida­de, de maior respeito pelo próximo.

E porque há ouvidos moucos, pessoas indiferent­es, e é preciso gritar para que entendam que o mundo está a ir a pique com as suas práticas e por causa do seu encolher de ombros, surge em cena a sueca Greta Thunberg

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola