O Corta Vicente que secou Pelé
Matateu
já era uma estrela dos azuis e da selecção de Portugal, quando o seu irmão Vicente Lucas assinou pelo Belenenses, em 1954, o único clube que o extremoesquerdo representou durante a curta carreira e do qual é ainda hoje a maior referência viva.
"Primeiro fui o irmão do Matateu, depois fui 'o gajo que era bom' e só depois o Vicente Lucas ou o Pezinhos de Lã. Depois fui o Corta Vicente. Na altura, o futebol era rei na rádio. Nos relatos, quando iam descrever um lance meu, era sempre a mesma coisa: 'Corta, Vicente.' Ainda hoje, é uma forma carinhosa de me lembrarem o jogador que fui. Se cortas ou roubas a bola ao Pelé, tens o currículo feito, mas eu fui mais do que isso", contou numa entrevista ao DN, em Agosto de 2018.
E lá está... Pelé. Apesar de insistir que a sua carreira foi mais do aquele célebre jogo pela selecção de Portugal no Mundial de 1966, contra o Brasil, no qual secou o rei Pelé, esse jogo ficou para a história:
"Foi uma coincidência marcar o Pelé. Acho que nessa altura não havia isso da táctica. O Otto Glória, que treinava o Belenenses e conhecia o Pelé, disse-me assim: 'Fica de olho nele, se ele for à casa de banho tu vais com ele.' Eu tentei, ele fugia pela esquerda, pela direita, pelo meio... Um jogador daqueles não se podia marcar, era difícil, um jogador extraordinário que não tinha um lugar certo para jogar. Marquei-o e não me saí mal. Não sei como o fiz, mas fiz.
E nós ganhámos por 31. Mas digo-lhe uma coisa: nem Pelé nem Eusébio se comparavam ao Matateu. E não digo isto por ser meu irmão, mas porque era um jogador do caraças."
Quando o Belenenses defrontou o Real Madrid e o AC Milan na Taça Latina, a revista France Football, que tantos elogios fez ao seu irmão Matateu, também destacou Vicente Lucas:
"Confirmou toda a sua classe. Com um estilo e uma souplesse magnífica, efectua um vai e vem contínuo. Com 19 anos, Vicente Lucas é, sem dúvida alguma, um dos melhores médios europeus."
O ano de 1966 ficou marcado pelos melhores (Mundial, onde Portugal brilhou e garantiu o terceiro lugar) e também pelos piores motivos, pois foi nesse ano que Vicente Lucas teve um grave acidente de carro e perdeu um olho, uma fatalidade que o obrigou a pôr um ponto final na carreira de jogador de futebol aos 30 anos.