Reivindicações vs oportunismos
“É normal que haja reclamações, porque nem tudo está feito. O que não se fez em 44 anos ninguém pode esperar que se faça em dois”, disse o Presidente da República numa alusão à compreensão da expectativa e anseio das populações para com o desempenho do Executivo que impacte nas suas vidas. A posição do Chefe de Estado, longe de procurar “tapar o sol com a peneira”, revela que da parte do Executivo existe a percepção completa sobre o dia-a-dia das famílias, numa altura de ingentes desafios no campo social e económico. A situação actual está a exigir da parte das entidades com poder de decisão, a todos os níveis, a busca incessante das melhores soluções para que se aumente a capacidade de criação de postos de trabalho, para que aumente a oferta de bens e serviços e o bem-estar das famílias. Costuma ser nesta altura, de dificuldades socioeconómicas, que alguns sectores tendem a aproveitar para promover actos que, em vez de contribuir para resolver problemas, acabam por os agudizar. É a perspectiva do “bota abaixo”, em que as reivindicações cívicas ou políticas não visam senão a desestabilização social e a desacreditação do Executivo. Falamos daqueles sectores que, nesta fase, procuram instigar a sociedade para procedimentos aparentemente legais, mas que atentam gravemente contra a ordem, segurança e tranquilidade públicas. Não é segredo para ninguém que no passado recente alguns grupos, sob a capa de insatisfeitos e “revolucionários”, anunciavam a realização de manifestações apenas para extorquir dinheiro às autoridades às quais dirigiam os comunicados de anúncio da marcha ou demonstração pública. E não é menos verdade que, atendendo a continuidade desta prática por parte de tais grupos, que condicionavam as suas manifestações à satisfação da sua agenda, algumas entidades terão participado em tais jogos. Não somos apologistas da supressão das liberdades, direitos e garantias fundamentais dos cidadãos constantes da Constituição, particularizando-se aqui o direito à greve e à manifestação, mas admitimos que ninguém em perfeito juízo aceita que se usem esses expedientes para a extorsão, benefícios pessoais ou de grupos. A actual situação socioeconómica por que passa o país, com maior incidência nalgumas zonas urbanas ou rurais do que noutras, pode levar a reivindicações nas suas mais variadas formas, realidade completamente normal à luz das leis angolanas, mas não podem ser aceites como ferramenta de oportunismo para objectivos inconfessáveis. O presente contexto de abertura, acreditamos, está a ser usufruído pelas populações sob o manto da busca das melhores soluções para os seus problemas e, com ele, devem ser maximizados os mecanismos de concertação e diálogo, em que as cedências e concessões se imponham como as principais matrizes. E não há dúvidas de que aqueles trunfos, atrás mencionados, são passíveis de serem alcançados quando todas as partes, governantes e governados, se predisponham a ouvir mais e a empenhar-se mais em função das expectativas e aspirações das populações. E “como nem tudo está feito”, como reconheceu e muito bem o Presidente da República, está aberto o desafio para que todos nós contribuamos, com ideias, iniciativas, trabalho e empreendedorismo, para os resultados que apenas vão acabar por fazer bem a todos. Por isso, esperemos que os momentos de eventuais reivindicações sociais ou até laborais sirvam como mecanismos por via das quais haja pontes e não muros em que a linguagem do oportunismo fale mais alto.