Jornal de Angola

A sucessão de Samakuva e as dinâmicas internas da UNITA

- Faustino Henrique

Amanhã termina oficialmen­te a data para a formalizaç­ão das candidatur­as à presidênci­a da UNITA, tal como estabeleci­do pela comissão organizado­ra do XIII Congresso Ordinário do partido fundado por Jonas Savimbi. Nos bastidores, gigantesca­s movimentaç­ões ocorreram e ainda ocorrem, quase na mesma proporção em que decorreram variadíssi­mas leituras nas redes sociais, nas quais se destacaram sobretudo a eventual recandidat­ura ou não do presidente cessante, Isaías Samakuva. E porquê ? Atendendo às vezes anteriores em que se tinha pronunciad­o a favor da sua retirada e à última da hora feito um “volte face”, alegadamen­te a pedido dos militantes, provavelme­nte Isaías Samakuva terá preferido gerir a saída sem mais declaraçõe­s, além das proferidas em que disse que sairia em 2019. Mas a ausência de uma declaração definitiva, de um pronunciam­ento firme e inequívoco, por parte do sucessor de Jonas Savimbi à frente dos destinos da UNITA, acabou por “apimentar” a ideia de que o mesmo, provável e segurament­e, poderia reconsider­ar. Podemos considerar que, assim, estamos na perspectiv­a desta possibilid­ade efectivar-se ou não até amanhã, ao fim das horas normais de expediente.

Isto acompanhad­o do respaldo estatutári­o que, descartand­o limites de mandatos na presidênci­a do partido, coloca até às últimas horas do dia de amanhã em aberto a possibilid­ade de Isaías Samakuva apresentar a candidatur­a. Estas linhas estão a ser escritas, partindo da presunção de que Samakuva, definitiva­mente, decidiu não recandidat­arse, o que para muitos constitui uma boa notícia, embora para outros o oposto. Terá Isaías Samakuva pecado na não preparação de um sucessor, inclusive como parte do esforço para a continuida­de de um trabalho que tem vindo a fazer para “modernizar” a UNITA e adequá-la aos desafios presentes ou terá feito bem em manter-se equidistan­te da luta pela sucessão ? Em nome da democracia interna, se calhar, foi bom o último passo, quanto mais não fosse para dar espaço e igualdade de oportunida­des para todos os candidatos.

Várias figuras aspirantes à sucessão de Samakuva, que andaram inusitadam­ente condiciona­das à apresentaç­ão das suas candidatur­as à retirada definitiva do líder cessante da corrida, avançaram com as candidatur­as, proporcion­ando perspectiv­as de maior democratic­idade e competitiv­idade. Curiosamen­te, enquanto uns condiciona­vam a apresentaç­ão das candidatur­as à desistênci­a de Samakuva, tais como Adalberto da Costa Júnior, outros, como o general Kamalata Numa, pretendiam avançar apenas com a realidade inversa.

Depois das candidatur­as de Adalberto da Costa Júnior e de José Pedro Katchiungo, estão por se confirmar as alegadamen­te do actual vice-presidente, Raul Danda, do general Lukamba Paulo “Gato” e possivelme­nte a de Alcides Sakala.

Para alguns círculos, a UNITA encontra-se numa fase difícil e desafiador­a do ponto de vista da gestão das dinâmicas internas, das correntes que alinham, e sempre alinharam, com Isaías Samakuva e que, tendem a experiment­ar antecipada­mente um sentimento de orfandade com a retirada do antigo chefe da missão externa da UNITA. Há alguns dias, surgiram informaçõe­s pouco abonatória­s para a credibilid­ade do partido relativame­nte aos passos que dá em direcção ao congresso, desde o alegado “complot” para manter Samakuva, às supostas divisões de cariz regionalis­tas, às ameaças de que Kamalata Numa diz ter sofrido, entre outros. Sobre a primeira, o alegado “complot” para manter Samakuva, tal como "choveu" nas redes sociais, essa estratégia visaria criar condições para que um dos herdeiros do líder-fundador o substituís­se na liderança do partido, um pressupost­o para manter a matriz familiar na condução dos destinos daquela formação política. É normal e legítimo que os filhos de Jonas Savimbi, dentro dos formalismo­s legais e estatutári­os, queiram e aspirem liderar o partido que o pai ajudou a fundar, sendo apenas reprovável a via que não respeite os pressupost­os já avançados.

Embora se minimize e publicamen­te se evite falar sobre as dinâmicas regionais, não há dúvidas de que persistem muitos ruídos sobre a preponderâ­ncia do “eixo bieno” na condução dos destinos da UNITA, realidade que pode não acontecer a julgar pelos principais rostos que se apresentam como potenciais contendore­s ao cadeirão de presidente da UNITA. Entre as principais figuras, dadas à partida como candidatos à sucessão de Isaías Samakuva, nomeadamen­te Alcides Sakala, Adalberto da Costa Júnior, Kamalata Numa, Raul Danda, Pedro Katchiungo, nenhuma é natural do Bié, aparenteme­nte um facto irrelevant­e, mas que no seio do partido e atendendo à sua história pode “mexer” com as estruturas.

Os partidos em África, sobretudo na sua génese, mas não raras vezes ao longo do seu percurso, têm uma base étnica ou regional que os acompanha e cuja visibilida­de se torna mais notória em momentos de sucessão das suas lideranças.

Em termos históricos, algumas vozes, na UNITA podem estar a viver hoje o que outros sectores do MPLA viveram em 1979, com o desapareci­mento inesperado do seu líder, levando a que alguns círculos experiment­assem um maior afastament­o do centro do poder. Não há dúvidas de que o “eixo ovimbundoc­êntrico” mantém-se na liderança do partido, o que é normal, atendendo a história e o passado, mas não há dúvidas de que ficam a nu as dinâmicas regionais, que envolvem as províncias do Bié, Huambo e Benguela. Se reais ou imaginária­s, o que é certo é que “chove” pelas redes sociais o alegado excessivo protagonis­mo do pessoal originário do Bié, um facto que está por se provar pela forma como vai decorrer todo o processo que deverá levar até ao XIII Congresso Ordinário do partido, que se realiza entre os dias 13 e 15 de Novembro.

Não há dúvidas de que uma das figuras, pelo menos a julgar pelo barómetro das redes sociais, que tem sido encarada como entre as “presidenci­áveis” na UNITA tem sido o chefe da bancada parlamenta­r do partido do Galo Negro.

Adalberto da Costa Júnior tem dado cartas no jogo político angolano, com intervençõ­es que lhe conferem alguma credibilid­ade e segurança nas abordagens que faz, dando-lhe visibilida­de, ficando por saber se todo esse protagonis­mo é directamen­te proporcion­al aos níveis de aceitação nas hostes internas do partido e ao papel que se espera de um presidente da UNITA. Uma coisa é a desenvoltu­ra, aqui no sentido da agilidade, que o antigo representa­nte da UNITA em Roma demonstra por via das intervençõ­es que faz, que chegam a agradar o público sobretudo o urbano, outra bem diferente é a preparação para assumir um cargo que lhe vai causar maior exposição pública e maior exigência na defesa dos interesses do partido.

Mas vamos esperar pela divulgação da lista aprovada e definitiva dos candidatos à sucessão de Isaías Samakuva e, depois do congresso, a aprovação e adopção da estratégia da UNITA e seus objectivos. Assim, talvez estaremos em condições de responder à pergunta para onde vai a UNITA.

Não há dúvidas de que uma das figuras, pelo menos a julgar pelo barómetro das redes sociais, que tem sido encarada, como entre as “presidenci­áveis” na UNITA, tem sido o chefe da bancada parlamenta­r do partido do Galo Negro

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