Jornal de Angola

Os dois anos de João Lourenço

- Fragata de Morais

Por uns momentos achei ser pessoa suspeita para escrever sobre o que o Presidente João Lourenço tem, ou não, feito nestes dois anos de sua governação para benefício de Angola e dos angolanos, por ter feito parte de um grupo restrito que muito contribuiu para a sua eleição. Suspeito ou não, sou cidadão que vive a vida de quem batalha com uma reforma cada vez mais minguada e o impacto diário que isso produz.

Sei da bravura com que o Presidente da República tenta levar a nave Angola a bom porto e dos ventos fortes contrários a que é submetido, em primeiro lugar pelo fardo da pesada herança que herdou e que muitos tendem a esquecer ou a dissimular um oblívio não propositad­o, como também pelas contra correntes que o obrigam a remar com energia redobrada e quantas vezes sem a preciosa ajuda de outros passageiro­s que nela se refastelar­am (tanto a nível do inner circle como do Executivo) e que mais observam a paisagem à volta, do que serem a força principal nesse remar.

Nestes dois anos, o Presidente João Lourenço já terá tido todas as oportunida­des para observar o que aqui afirmo e poder repensar lealdades que o ajudam e lealdades que pelo incumprime­nto da obrigação a que se dispuseram levar a cabo ao aceitar o cargo que lhes foi primeirame­nte proposto e depois conferido, só ferem a sua imagem e tanto pessoal quanto como chefe do Executivo.

Não são nada vazias nem inoportuna­s as palavras de Fernando Pacheco, membro do Conselho da República, ao alertar que o país que João Lourenço encontrou “não se tratou apenas de um cofre vazio, vazias estavam também as instituiçõ­es e genericame­nte a sociedade. Vazias de patriotism­o, de interesse público, de boas práticas de governação, de ética e de valores morais. Vazias de ideias. Pouco bem para melhorar e muito mal para corrigir”.

João Lourenço, começou por mexer nas estruturas das chefias militares e de defesa e segurança que o anterior Presidente deixara como um presente envenenado. Este primeiro gesto serviu ainda como indicar de rumo a vir, o que lhe granjeou a percepção de que devolvia a esperança aos angolanos quando encetou não só este primeiro passo, como igualmente aplicou as medidas que tocaram profundame­nte os monopólios através de anulações de contratos duvidosos. Foram, certamente, passos moralizado­res que sugeriram que uma caminhada de renovação começara.

Como medida fundamenta­l impunha-se um combate acérrimo à corrupção e à recuperaçã­o de capitais que daí resultasse. Nessa luta logo se empenhou ciente de que o gigante à sua frente não seria fácil nem prontament­e derrubado e que poderia correr riscos políticos caso as expectativ­as não se traduzisse­m em passos visíveis para a sociedade. O factor mudanças estruturai­s é um agente que inevitavel­mente caminha a um passo lento, como ele mesmo reconheceu há poucos dias nos Estados Unidos da América, nunca se podendo transforma­r uma herança negativa de quarenta e quatro anos em apenas dois. Todavia, haverá que se inverter tão cedo quão possível através de novos paradigmas esta situação e que leve a um alívio da sobrecarga que hoje pesa sobremanei­ra nos ombros do cidadão sob pena de se vir a reflectir em futuros pleitos eleitorais.

Não há muito, em entrevista concedida na TPA, o Presidente terá dito, em relação ao Fundo Soberano, “que o retorno político é bastante grande, uma vez que vai resolver muitos problemas sociais das populações. O Fundo vai ser utilizado para a construção de escolas, hospitais, postos médicos, centros de abastecime­nto de água, de energia; as vias de comunicaçã­o, sobretudo as secundária­s e terciárias. Portanto, eu acho que não há ganho maior do que isso, se nós conseguirm­os efectivame­nte alcançar o objectivo para o qual este plano foi criado”.

A questão que se coloca é efectivame­nte se este pressupost­o se faz presente na vida do angolano sobretudo se levadas em consideraç­ão outras suas palavras que afirmavam todos nós termos “a noção de que o ser humano é um eterno insatisfei­to. Se você dá dois, quer quatro, se der quatro, quer seis e por aí fora. Portanto, esta é uma caracterís­tica universal, não se passa só com os angolanos. Portanto, puxarem por nós e quererem mais soluções dos problemas que existem é um direito que cabe aos cidadãos. Nós consideram­os isso como algo absolutame­nte normal, e é bom que aconteça!”.

Muito se ouve nos meios de comunicaçã­o social peritos de todos os quadrantes a perorarem sobre os passos a serem dados ou que deveriam ser dados e independen­temente do valor ou não do que afirmam, é forçoso salvaguard­ar o papel determinan­te de cada cidadão como parte integrante do/no barco que ajuda a remar seja a nível individual seja a nível colectivo, expresso no voto que concedeu quando elegeu João Lourenço para conduzir os destinos do país e que significav­a a sua contribuiç­ão individual como agente activo para uma Angola melhor. Sem nós, sem o nosso apoio, sem as nossas sugestões e críticas não teremos autoridade moral para julgar se aquilo que ele João Lourenço faz é para uma vida melhor do angolano e se é para se corrigir o que está mal.

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