Congresso pede documentos da investigação ucraniana
Os democratas estão determinados em avançar com o processo de destituição do Presidente por alegada violação à Constituição
Várias comissões do Congresso dos Estados Unidos que investigam os contactos do Presidente norte-americano, Donald Trump, com Kiev, para iniciar um julgamento político, requereram documentos ao secretário de Estado, Mike Pompeo.
As comissões também chamarão a depor, durante as próximas duas semanas, cinco funcionários do Departamento de Estado (equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros), com conhecimento dos factos que investigam, segundo um comunicado conjunto.
Entre os citados, figura a embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Marie Yovanovitch, que deporá a 2 de Outubro, o ex-enviado especial dos EUA para a Ucrânia, demitido na sexta-feira, Kurt Volke, e o embaixador de Trump para a União Europeia, Gordon Sondland, dia 10.
Estas são as primeiras citações emitidas pelas comissões, que desde terça-feira investigam os contactos entre Trump e Kiev para desencadear um processo político, uma acção ordenada pela presidente da Câmara Baixa, a democrata Nancy Pelosi.
No epicentro do terramoto político encontra-se a chamada telefónica de 25 de Julho, na qual Trump pediu ao homólogo ucraniano, Vladimir Zelenski, que investigasse o ex-Vice-Ppresidente e pré-candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, e a família, por alegada corrupção na Ucrânia.
Trump, além do mais, bloqueou uma transferência de cerca de 400 milhões de dólares em ajuda militar a Kiev, semanas depois do telefonema com Zelenski.
A chamada levou um funcionário um agente da CIA, de acordo com o jornal “New York Times”, a apresentar uma queixa interna, que após uma luta política entre o Congresso e o Governo tornouse pública e provocou o início do processo para um julgamento político contra Trump.
Na quinta-feira, Pompeo tentou demarcar o Departamento de Estado do escândalo com a Ucrânia, perante a crescente suspeita do Congresso sobre o possível papel do titular dos Negócios Estrangeiros.
“Até onde sei, e pelo que vi até agora, todas as acções dos funcionários do Departamento de Estado foram completamente adequadas e coerentes com o objectivo que temos tido”, disse Pompeo.
Não obstante, o advogado pessoal do Presidente, Rudy Giuliani, que é descrito na queixa como “figura central” da trama, afirmou que os seus contactos com a Ucrânia ocorreram na sequência de um pedido do Departamento de Estado.
As transcrições libertadas na tarde de quarta-feira pela Casa Branca mostram que Donald Trump pediu ao líder ucraniano, Volodymyr Zelenski, para trabalhar em conjunto com o advogado Rudy Giuliani e com o procurador-geral, para investigar Joe Biden e o filho Hunter.
O filho de Biden trabalhava para uma empresa de gás ucraniana e segundo as transcrições reveladas pela Casa Branca na chamada, o líder norte-americano alega por várias vezes que Biden, o ex-Vice-Presidente e candidato democrata às presidenciais de 2020 interferiu com uma investigação ucraniana feita ao filho.
“Há muita conversa sobre o filho de Biden, sobre o Biden ter impedido a acusação”, disse Trump a Zelenski, acrescentando: “várias pessoas querem saber sobre isso”. “Qualquer coisa que possa fazer com o procurador geral, seria óptimo. O Biden tem andado a gabar-se que conseguiu parar a investigação, por isso se conseguisse dar uma vista de olhos”, disse Trump, de acordo com as transcrições. Ao que o Presidente ucraniano responde do outro lado que o próximo procurador seleccionado seria “100 por cento da sua confiança” e que “iria investigar” o filho do ex-Vice-Presidente norte-americano.
“Gostaria que você nos fizesse um favor porque o nosso país passou por muita coisa e a Ucrânia sabe muito sobre isso”, pediu o Presidente norte-americano ao homólogo ucraniano, numa outra parte da transcrição. Trump referia-se às suspeitas de que o então Vice-Presidente, Joe Biden, pressionou o Governo ucraniano para demitir o procurador-geral, que era acusado pelo Ocidente de ser muito moderado face a casos de corrupção.
No entanto, o líder norteamericano prometeu que uma “transcrição completa, totalmente desclassificada e sem estar redigida” seria tornada pública. Mas os detalhes libertados pela Casa Branca são notas que responsáveis governamentais que ouviram a conversa retiraram.
O processo tem, contudo, poucas possibilidades de levar à destituição do Trump, já que o Partido Republicano-a que Trump pertence -tem maioria no Senado.
O processo tem poucas possibilidades de levar à destituição do Trump, já que o Partido Republicano, a que pertence, tem maioria no Senado