Jornal de Angola

O cantor que descreve os nossos problemas sociais

- Ferraz Neto

Músico, compositor e instrument­ista, e autor de cinco álbuns a solo, incluindo “Xeque-Mate”, que lhe valeu ouro em 1999, Don Kikas é um homem talhado para a música, sendo dono de uma voz inconfundí­vel. Recorremos às plataforma­s digitais e mantivemos uma conversa aberta com o autor de sucessos como “Angolaname­nte Sensual” e “Esperança Moribunda”, que vive actualment­e em Lisboa (Portugal). Já aos 2 anos ele mostrou que tinha jeito para a música e passeava pela casa a cantarolar e a imitar o que via na televisão. Dedicou-se de corpo e alma à música, participan­do em programas de música infantil na rádio, concursos de rua e no Top dos Mais Queridos. Dono de um reportório musical invejável, conquistou o coração dos angolanos e não só, com temas como “1900 e Kabuza”, “Xeque-Mate”, “Na Lama do Amor”, “Semba Matinal”, “Pura Sedução”, “Sakirima”, “Patos Fora”, “Extasy”, “Kilapanga da Paz”, “Muxima”, “Hey Criola”, “Miss U” e “Semba no Pé”. Don Kikas, na entrevista que se segue, desvenda-nos ao pormenor a sua carreira artística Nasceu no interior de Angola, mais concretame­nte na cidade do Sumbe, província do Cuanza Sul. Tendo em conta este elemento, como surge essa vontade de fazer música? A música surge na minha vida de forma espontânea. Conta a minha mãe que, quando eu tinha cerca de 2 anos de idade, já passeava pela casa a cantarolar e a imitar os artistas que via na televisão. Diga-nos que importânci­a teve, de facto, o Sumbe na sua carreira? Vivi pouco tempo no Sumbe, entretanto não deixa de ser o berço da minha raiz. Tenho na memória imagens de pessoas queridas como a minha avó, de lugares bonitos que marcaram a minha infância, cheiros, sabores... enfim, tudo isso está marcado no meu espírito. A sua ligação às artes, neste caso à música, era algo que já fazia parte das suas raízes? Alguém da sua família tinha ligações à música? Não. Na altura desconheci­a-se qualquer familiar ligado à música. Tinha apenas a minha mãe que adorava ouvir música todos os dias. Da sua trajectóri­a consta que viveu durante vários anos no Brasil. Que influência­s criou o Brasil para afirmação da sua carreira artística? Foi no Brasil, ainda muito pequeno, que comecei a ter noção do quanto adorava cantar. Até hoje ouço muita música brasileira, por isso a influência é inevitável. Quando surge a sua primeira oportunida­de no mundo da música? Sempre fui de correr atrás dos meus sonhos. Tanto no Sumbe, como em Luanda e no Lubango, lugares onde vivi durante a minha infância, sempre tentei conquistar o meu espaço. Participei em programas de música infantil na rádio, concursos de rua, Top dos Mais Queridos no Lubango... mas foi em Lisboa onde consegui

gravar o meu primeiro álbum em 1995.

Em que se inspira para compor as letras das suas músicas?

Em qualquer coisa que desperte o meu espírito. Às vezes sinto-me como um jornalista sempre em busca de uma nova reportagem.

O que representa para si Portugal para a sua carreira artística?

Portugal é onde tudo começou profission­almente. É também onde vivo e onde sei que também tenho uma grande base de fãs. Portanto, representa um mercado muito importante para mim.

A sua caminhada musical em Portugal, teve passagens por boates e discotecas locais...

Sim, sobretudo no início, cantei em muitos lugares. Dos mais pequenos aos maiores palcos, já nos últimos anos. Que palavras tem para descrever o trabalho discográfi­co “Xeque Mate”? Provavelme­nte o meu álbum com mais sucessos. Praticamen­te todas as músicas foram grandes hits e isso é raro.

Constou-nos que encontra-se a compilar várias fotografia­s que retratam a sua trajectóri­a musical. Fale-nos deste projecto?

Não é um projecto. Apenas criámos um álbum fotográfic­o Em relação ao futuro, quais os objectivos que gostaria de conquistar? Estou a terminar o meu novo álbum de originais que deverá sair ainda este ano. Para já, este é o meu principal objectivo. na minha página oficial do Facebook, compilando parte das fotografia­s que representa­m a minha trajectóri­a, de forma cronológic­a Nota-se um afastament­o de Don Kikas, nestes últimos anos, da música. Descobriu outras vertentes para viver fora da música? Nunca me afastei da música e os que acompanham a minha carreira de perto ou pelas redes sociais sabem-no bem. Mesmo em relação a Angola, onde infelizmen­te a imprensa não acompanha bem a carreira dos artistas nacionais, tenho estado pelo menos uma vez por ano para actuar. E em relação a artistas, quais os nomes que mais o inspiram? São vários, por isso vou citar apenas 3 nacionais e 3 estrangeir­os: André Mingas, Waldemar Bastos, Bonga, Stevie Wonder, Ed Motta e Kassav. E qual o balanço que faz do estado actual da música angolana? Positivo no que toca ao surgimento de novos valores, sobretudo instrument­istas. Negativo no que toca à promoção e preservaçã­o dos estilos nacionais e dos artistas ícones da nossa música. Falo dos mais velhos que ouvimos desde crianças, que ainda estão no activo mas são praticamen­te ignorados. Como é que se define enquanto artista? Sou um aluno empenhado, tento aprender todos os dias para melhorar o meu talento. Considero-me criativo e com boa musicalida­de. Arestas a limar haverão sempre. Por isso, o meu objectivo principal é superar-me todos os dias.

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