Comédia francesa nos palcos de Angola
“Atrás da Porta” foi a proposta do espectáculo de teatro mudo apresentada por dois artistas de circo da companhia francesa "Tour de Cirque" nas cidades de Luanda, Lubango e Ondjiva. O primeiro dos vários espectáculo aconteceu na passada quarta-feira, no C
ter sido um dia comum para o garçon do pequeno café da praça, mas este apaixona-se loucamente pela rapariga que atravessou a porta do seu café. Sem trocarem uma palavra, os dois combinam humor, poesia, magia e malabarismo. Uma proposta inovadora e diferente para o público angolano, principalmente para as crianças.
O enredo é um dia extraordinário para as duas personagens que transportam, com felicidade, os espectadores para um universo onírico, absurdo, terno e cheio de sonhos. Não muito comum entre nós, o espectáculo provoca nos espectadores emoção e as sensações de aventura e comédia. Ele é uma junção da imagem com a música. A cada tipo de cena muda o tipo de sonorização, para provocar um efeito de mudança das cenas.
Arte de exprimir pensamentos, os actores recorrem constantemente à mímica como forma de transmitir os sentimentos por meio de gestos. Um mímico é alguém que utiliza movimentos corporais para se comunicar, sem o uso da fala. E os protagonistas o fizeram de forma magistral.
Neste espectáculo, não é muito difícil definir o papel de cada personagem, mas podemos caracterizá-lo como um circo contemporâneo poético, com malabarismos e mímica. O espectáculo é activo, com os actores em constante interacção com o público. O quadro dos acontecimentos vai decorrendo num único encontro e espaço cénico, que de repente se transforma num local romântico em que um homem “desajeitado” procura seduzir uma bela e sensual mulher. O jogo de “seduções” e de conhecimento mútuo gera várias situações.
Encontro “desajustado”
O espectáculo é um encontro ocasional entre duas pessoas de sexos opostos, “muito desajustadas”, com histórias recreadas com poesia e magia à mistura. A grande expectativa foi poder constatar um espectáculo adaptado à uma realidade completamente desconhecida dos dois actores.
Mesmo posicionado nos primeiros assentos da sala de espectáculos do Anim’art, levamos algum tempo para fazer o enquadramento da sequência das cenas. O sentimento de actuar para um público completamente desconhecido e com uma cultura artística diferente, cria sempre alguma expectativa. Foi o que se verificou entre Farid Abed e Marion Achard, com o público. O facto do espectáculo ser baseado em demonstrações mímicas e recorrer a expressões gestuais e a utilização de objectos figurativos universais identitários, são, de certa forma, elementos convergentes importantes para a criação de uma linguagem comum.
Interactivo e inusitado
Durante todo o espectáculo, de aproximadamente 40 minutos, a oralidade cénica da peça transporta o público para o universo mímico, recorrendo-se à linguagem gestual, de fácil identificação dos elementos que compõem a estrutura do próprio cenário. Codificar as expressões artísticas de culturas distintas, normalmente, cria nos artistas algum “desconforto em palco”, o que, de certa forma, origina várias formas de interpretação. As reacções divergem, umas mais ousadas que as outras, até se conseguir fazer um paralelismo entre a narrativa dos acontecimentos do espectáculo com as suas próprias vivências. As primeiras reacções do público são sempre fundamentais para conduzir o percurso sequencial do desenrolar das cenas.
Por exemplo, quando os actores fazem um gesto universalmente conhecido, como bater nas costas do outro, gritar, sussurrar ou fazer simulações musculadas de cenas caricatas, eleva a interacção entre eles e o público. A assistência esteve sempre atenta aos “truques” de malabarismo dos actores, na tentativa de desvendar o segredo. Esse exercício foi muito bem absorvido pelo público, composto por crianças, adolescentes e adultos, que proporcionaram aos actores emoções diversas.
A formação específica dos actores, sobre o tipo de trabalhos que desempenham, também facilita na compreensão de como devem
ser dirigidos ou conduzidos os espectáculos da mesma natureza. Formados na Escola de Circo em França há mais de 20 anos, os actores Farid Abed e Marion Achard mostram muita cumplicidade e sintonia, o que facilita a construção estética do enredo do espectáculo. Proposta de espectáculo A conclusão foi apresentar, como proposta de espectáculo, pouca utilização de adereços para facilitar a própria compreensão e dispersão da mensagem transmitida através da linguagem gestual. De acordo com a actriz Marion Achard, em declarações ao Jornal de Angola, o espectáculo tem na sua construção a criação de novos paradigmas, como um dos elementos importantes no processo de socialização e união entre culturas diferentes. Marion Achard agradeceu o convite para actuar em Angola e poder ver, assim, “um país à procura da prosperidade em todos os sectores da vida social.”
Disse que tiveram o privilégio de acompanhar na noite de terça-feira (24), em Luanda, a última aparição por terras angolanas da companhia de dança norte-americana Step Afrika, que partilhou o palco com o Ballet Tradicional Kilandukilu. A companhia angolana passou em revista o seu reportório de canto e danças folclóricas de Angola, o que, segundo Marion Archard, os ajudou a ter uma noção básica da riqueza cultural e rítmica dos estilos musicais e danças folclóricas angolanas. Agenda de trabalho “Depois de Angola, a companhia “Tour de Cirque” regressa a França para as devidas e merecidas 'férias'”, disse entusiasticamente Marion Achard. A maioria dos espectáculos da companhia são realizados em França. Uma vez por ano ela realiza uma digressão pelo mundo. Este ano, o continente africano foi o destino da companhia “Tour de Cirque”. Exibiram-se no Botswana, África do Sul e Lesotho, em parceria com a rede das Alliance Française.
Em Luanda, depois de terem actuado no dia 26, no auditório Pepetela do Camões - Centro Cultural Português, apresentaram-se esta sexta-feira na Alliance Française de Luanda.
A dupla Farid Abed e Marion Achard realizou também apresentações solidárias, mais concretamente, espectáculos gratuitos e reservados, no Centro Penitenciário de Viana, Escola Mulamba e Centro de Acolhimento FOLSCO e ainda na SOS Orphelinat, no Lubango, e na Mediateca de Ondjiva.