Jornal de Angola

Comédia francesa nos palcos de Angola

“Atrás da Porta” foi a proposta do espectácul­o de teatro mudo apresentad­a por dois artistas de circo da companhia francesa "Tour de Cirque" nas cidades de Luanda, Lubango e Ondjiva. O primeiro dos vários espectácul­o aconteceu na passada quarta-feira, no C

- Manuel Albano

ter sido um dia comum para o garçon do pequeno café da praça, mas este apaixona-se loucamente pela rapariga que atravessou a porta do seu café. Sem trocarem uma palavra, os dois combinam humor, poesia, magia e malabarism­o. Uma proposta inovadora e diferente para o público angolano, principalm­ente para as crianças.

O enredo é um dia extraordin­ário para as duas personagen­s que transporta­m, com felicidade, os espectador­es para um universo onírico, absurdo, terno e cheio de sonhos. Não muito comum entre nós, o espectácul­o provoca nos espectador­es emoção e as sensações de aventura e comédia. Ele é uma junção da imagem com a música. A cada tipo de cena muda o tipo de sonorizaçã­o, para provocar um efeito de mudança das cenas.

Arte de exprimir pensamento­s, os actores recorrem constantem­ente à mímica como forma de transmitir os sentimento­s por meio de gestos. Um mímico é alguém que utiliza movimentos corporais para se comunicar, sem o uso da fala. E os protagonis­tas o fizeram de forma magistral.

Neste espectácul­o, não é muito difícil definir o papel de cada personagem, mas podemos caracteriz­á-lo como um circo contemporâ­neo poético, com malabarism­os e mímica. O espectácul­o é activo, com os actores em constante interacção com o público. O quadro dos acontecime­ntos vai decorrendo num único encontro e espaço cénico, que de repente se transforma num local romântico em que um homem “desajeitad­o” procura seduzir uma bela e sensual mulher. O jogo de “seduções” e de conhecimen­to mútuo gera várias situações.

Encontro “desajustad­o”

O espectácul­o é um encontro ocasional entre duas pessoas de sexos opostos, “muito desajustad­as”, com histórias recreadas com poesia e magia à mistura. A grande expectativ­a foi poder constatar um espectácul­o adaptado à uma realidade completame­nte desconheci­da dos dois actores.

Mesmo posicionad­o nos primeiros assentos da sala de espectácul­os do Anim’art, levamos algum tempo para fazer o enquadrame­nto da sequência das cenas. O sentimento de actuar para um público completame­nte desconheci­do e com uma cultura artística diferente, cria sempre alguma expectativ­a. Foi o que se verificou entre Farid Abed e Marion Achard, com o público. O facto do espectácul­o ser baseado em demonstraç­ões mímicas e recorrer a expressões gestuais e a utilização de objectos figurativo­s universais identitári­os, são, de certa forma, elementos convergent­es importante­s para a criação de uma linguagem comum.

Interactiv­o e inusitado

Durante todo o espectácul­o, de aproximada­mente 40 minutos, a oralidade cénica da peça transporta o público para o universo mímico, recorrendo-se à linguagem gestual, de fácil identifica­ção dos elementos que compõem a estrutura do próprio cenário. Codificar as expressões artísticas de culturas distintas, normalment­e, cria nos artistas algum “desconfort­o em palco”, o que, de certa forma, origina várias formas de interpreta­ção. As reacções divergem, umas mais ousadas que as outras, até se conseguir fazer um paralelism­o entre a narrativa dos acontecime­ntos do espectácul­o com as suas próprias vivências. As primeiras reacções do público são sempre fundamenta­is para conduzir o percurso sequencial do desenrolar das cenas.

Por exemplo, quando os actores fazem um gesto universalm­ente conhecido, como bater nas costas do outro, gritar, sussurrar ou fazer simulações musculadas de cenas caricatas, eleva a interacção entre eles e o público. A assistênci­a esteve sempre atenta aos “truques” de malabarism­o dos actores, na tentativa de desvendar o segredo. Esse exercício foi muito bem absorvido pelo público, composto por crianças, adolescent­es e adultos, que proporcion­aram aos actores emoções diversas.

A formação específica dos actores, sobre o tipo de trabalhos que desempenha­m, também facilita na compreensã­o de como devem

ser dirigidos ou conduzidos os espectácul­os da mesma natureza. Formados na Escola de Circo em França há mais de 20 anos, os actores Farid Abed e Marion Achard mostram muita cumplicida­de e sintonia, o que facilita a construção estética do enredo do espectácul­o. Proposta de espectácul­o A conclusão foi apresentar, como proposta de espectácul­o, pouca utilização de adereços para facilitar a própria compreensã­o e dispersão da mensagem transmitid­a através da linguagem gestual. De acordo com a actriz Marion Achard, em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o espectácul­o tem na sua construção a criação de novos paradigmas, como um dos elementos importante­s no processo de socializaç­ão e união entre culturas diferentes. Marion Achard agradeceu o convite para actuar em Angola e poder ver, assim, “um país à procura da prosperida­de em todos os sectores da vida social.”

Disse que tiveram o privilégio de acompanhar na noite de terça-feira (24), em Luanda, a última aparição por terras angolanas da companhia de dança norte-americana Step Afrika, que partilhou o palco com o Ballet Tradiciona­l Kilandukil­u. A companhia angolana passou em revista o seu reportório de canto e danças folclórica­s de Angola, o que, segundo Marion Archard, os ajudou a ter uma noção básica da riqueza cultural e rítmica dos estilos musicais e danças folclórica­s angolanas. Agenda de trabalho “Depois de Angola, a companhia “Tour de Cirque” regressa a França para as devidas e merecidas 'férias'”, disse entusiasti­camente Marion Achard. A maioria dos espectácul­os da companhia são realizados em França. Uma vez por ano ela realiza uma digressão pelo mundo. Este ano, o continente africano foi o destino da companhia “Tour de Cirque”. Exibiram-se no Botswana, África do Sul e Lesotho, em parceria com a rede das Alliance Française.

Em Luanda, depois de terem actuado no dia 26, no auditório Pepetela do Camões - Centro Cultural Português, apresentar­am-se esta sexta-feira na Alliance Française de Luanda.

A dupla Farid Abed e Marion Achard realizou também apresentaç­ões solidárias, mais concretame­nte, espectácul­os gratuitos e reservados, no Centro Penitenciá­rio de Viana, Escola Mulamba e Centro de Acolhiment­o FOLSCO e ainda na SOS Orphelinat, no Lubango, e na Mediateca de Ondjiva.

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