O conceito de “Mwata”
Mussunda Nzombo,
o performer, apresentou o Mwata nos seguintes moldes.
“O homem que escolheu o tempo é uma ferramenta adestral que traz e leva consigo elementos que mudam um modo de viver. Se, por um lado, estamos inseridos na ideia do eterno retorno, conceito filosófico sob o qual se postula a eterna repetição dos actos humanos, por outro lado temos a ressignificação dos sentidos através dos tempos.
A relação temporal sempre andou impingida com as diversas formas de interacção humana com o seu espaço. Um desses espaços é, em sua grandeza, o espaço político ou a esfera do poder humano.
Em nosso contexto, o Império Lunda foi um destes espaços onde a esfera do poder humano teve as suas variações. É deste elemento que surge o nome Mwata. Literalmente, o nome é compreendido como “pai, rei ou chefe”, aquele que conduz os destinos de uma aldeia de um povo ou de uma nação. Este nome aparece associado a nação Lunda-Tchokwe, cujo monarca era assim denominado, depois do primeiro Mwata Yamvo.
A nação Lunda-Tchokwe predominou do século XIII ao século XIX como um império vasto, territorialmente, que se estendia da margem dos rios Lubilash ao rio Bushmaine, abrangendo assim os territórios de Angola, na sua parte Leste, a República Democrática do Congo, na parte Sul, e a Zâmbia, no seu extremo Norte. O Mwata governava o Império de linhagem matrilinear composta por uma população que praticava a agricultura, a pesca, a exploração de minerais e dominava a arte do ferro e da madeira.
Este conhecimento histórico dá-nos a ideia do poder associado ao Império Lunda. Pelo que se teria tornado na representação deste poder actualmente.
As transformações sociais que presenciamos nas últimas décadas levaram-nos a uma exploração do absurdo político a níveis alarmantes. Figuras ganharam notoriedade pela soberba, dominaram a atenção e inverteram o imaginário colectivo, ocasionando um distanciamento generalizado do que era idealizado como processo cultural.
No tempo, o relevante prevalece sobre a doença do exibicionismo e o ideário nacional ficou na memória dos cintos à sombra da mulemba.”