Mesu akekele!
E, segundo minha progenitora, quando voltasse de andanças, contava cenas que ninguém ou poucos sabiam. No total de todas as peripécias e conhecimentos sobre povos, animais e flora. Ele era único e tudo se devia ao seu incessante desejo de andar mais e sem
Quando ainda
jovem saudável, a minha mãe contava cenas sobre um tal de Inama Yendele (pernas que andaram).
Ouvia essas estórias na minha primeira infância, antes ainda de frequentar a pré-kabunga do tempo de Agostinho Neto (não essa desses tempos sem tábuada nem reguada).
Inama Yendele parecia um “valente caminhante” que, por coragem e força de suas pernas, associadas ao desejo de conhecer muitas terras, andava léguas, atravessava as mais distintas formas de relevo terrestre, florestas densas e savanas multicolores, transpunha rios caudalosos e montanhas íngremes e pedregosas para saber o que havia para além do horizonte visual da sua embala nativa.
E, segundo a minha progenitora, quando voltasse das suas andanças, contava cenas que ninguém ou poucos sabiam. No total de todas as peripécias e conhecimentos sobre povos, animais e flora. Ele era único e tudo se devia ao seu incessante desejo de andar mais e sempre mais e à força da sua imaginação e pernas. Inama Yendele.
“Eles até lavam estradas e não é para presidente passar. É mesmo para o dia-a-dia do povo - cidadão não sentir poeira nem apanhar constipação!”
Fora dessas lendas, e já num tempo em que o homem desafiou a força da gravidade, colocando potentes máquinas a atravessar os mares, oceanos e continentes, se calhar já não é a força dos músculos das pernas que determina saber onde estão, como vivem e o quanto cresceram outros povos que vivem longe da imaginação de Inama Yendele. Hoje, esse mítico artista da caminhada seria renomeado por Mesu Akekele (olhos que viram).
A coragem do cérebro continua a ser determinante para trabalhar e juntar “patacas” ou garantir ao patrão a confiança necessária para integração em viagens de trabalho além “terra nostra”. Os olhos (mesu), aliados ao cérebro, sempre irrigado, continuam associados para ver, reter e reproduzir memórias àqueles que reencontramos na hora do regresso.
Sem a imperatividade das pernas, mas com a “inteligência” dos olhos e dos ouvidos (maji/mati) passou por Beijing, capital de um enorme país de homens de pequena estatura habitando em altos e belos edifícios.
- Parecem desafiar a lonjura dos céus! - Dissera Mangodinho, companheiro de viagem de Mesu Akekele.
- Afinal, na terra deles, não são antagónicos como parecem ser os que estão na nossa banda. - Respondeu o artista da prosa.
- Epá, os gajos, afinal, não sujam e preservam o verde. Viste os intervalos entre betão armado e os enormes campos verdes? Viste a ausência de lixo nas cidades e a ordem com que pessoas e animais se apresentam? Eles até lavam estradas e não é para presidente passar. É mesmo para o diaa-dia do povo - cidadão não sentir poeira nem apanhar constipação! - Concluiu Mangodinho.
- Pois é. Tenho cenas para contar à chegada. - Retomou Mesu Ajekele. - No aeroporto deles, à saída, perguntei a uma senhora que trabalha num restaurante se sabia onde era o lounge. Perguntei, se calhar, num inglês igual ou pior que no dela. Gente que desconhece línguas e povos distantes lá também há e nisso estamos empatados.
- Pois, ontem, já não foste advertido que devias levar intérprete, porque havia autoridade que não passava também do caseiro “nyi hau”?! Mas conta ainda o que te respondeu a senhora do oriente. - Solicitou Mangodinho com uma ansiedade de roer unhas.
- Pois, não é que ela, e usando um inglês que também afugenta clientes, perguntou aos colegas se havia um trabalhador com o nome de lounge?!
Tive de tapar a boca para não soltar gargalhada.