Os comentaristas, as demagogias e a responsabilidade social
Indubitavelmente, a mudança de orientação política do partido no Governo, aliada a rápida consciencialização de liberdade e necessidade de expressão do eleitorado nacional, que mal ou bem bombeados pelo alcance das redes sociais, levaram a ascensão de uma série de figuras que antes eram invisíveis e inaudíveis.
Facilmente se compreende que a abertura da comunicação social pública e a maior liberdade de opinião e expressão nos órgãos de comunicação tradicionais privados (rádios e televisão) são de facto ganhos da paz e não são se quer negociáveis, pois só com uma sociedade que se expressa livremente na pluralidade é possível que se criem as bases para a excelência da escolha da liderança política.
Mas, como tudo na vida, há sempre uma cara para uma coroa, pois o que vemos, ouvimos e não lemos (pois estas pessoas dificilmente escrevem) é que existem figuras que se aproveitam dos canais de comunicação que lhes são colocados à disposição para de certa forma torcer os factos, muitas vezes com palavras e termos que a maioria da população não compreende, para causar uma falsa realidade económica (principalmente).
A estratégia é simples, baseiase na demagogia pura, juntamse factos e realidades que objectivamente devem ser analisadas em separado, criando um cenário pior do que aquele que de facto existe, e tendo em consideração que a situação financeira nacional é difícil e requer todo o esforço e de quem governa e sacrifícios de quem é governado, estes comentaristas usam esta situação para manipular emoções, paixões e sentimentos para provocar um sentimento de revolta e desespero.
É difícil dizer, se estes comentaristas, fortemente capacitados em demagogia, têm uma agenda politica ou pessoal, mas o que vemos na televisão é a sua inflamação de vaidade e reconhecida qualidade de manipulação das notícias que proliferam nas redes sociais, aonde de forma propositada é contornado o apuramento da verdade, sendo que estas figuras comentam o que todo o mundo comenta ou repassa nas redes sociais e no fim fazem ligação directa às dificuldades que as pessoas têm no dia-a-dia.
Pensamos que cada um é livre de dizer o que pretende e fazer as análises que lhe aprouver, o que achamos ser errado é usar o sofrimento e desconhecimento técnico do cidadão nacional para elaborar discursos falaciosos e populistas, que nada ajudam ao momento difícil que já vivemos, transferindo para o cidadão um sentimento de impotência e de ausência de esperança para o dia de amanhã.
Pois, quando um comentarista vai a uma rádio ou a uma estação televisiva e diz que o actual Presidente da República tem poder para dissolver o Parlamento ou alterar a Constituição a seu belprazer, usando termos jurídicos no meio, estamos perante manobras dilatórias e bem pensadas.
No mesmo diapasão, quando se afirma que as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) (que servem para fazer face aos compromissos financeiros nacionais em divisas – importações e transferências financeiras) devem ser usadas directamente para resolver os problemas da seca que estamos a viver, não podemos aceitar que foi dito de ânimo leve, mas sim com um objectivo claro, pois se este comentarista não sabe o que são e para que servem as RIL estamos conversados sobre a qualidade deste comentador.
Contudo, acreditamos que o comentarista sabe muito bem do que fala, pois mesmo sabendo da importância das RIL para um Estado importador como o nosso, pretende mostrar que o Governo não dá importância ao sofrimento destes angolanos e angolanas assolados pela seca e tenta induzir a opinião pública que as RIL são usadas para fins inconfessos.
Ora meus caros leitores, o que menos precisamos é disto, comentaristas que são ouvidos e seguidos, por este motivo também têm responsabilidade social, a usar inverdades para exacerbar o sofrimento das pessoas. Entendemos que este tipo de manobras devem ser observadas de perto.
Objectivamente, quem governa sabe, ou tem a obrigação de saber, em que situação económica e financeira o país se encontra, e deve incansavelmente procurar soluções que não sejam imediatistas mas sim duradouras e sustentáveis, para melhorar a vida das pessoas prevenir novas situações como as que estamos a viver.
A sociedade civil, ao invés de atiçar o sofrimento alheio, brincar com a falta de conhecimento e escolaridade da população nacional, e inventar cenários económicos e financeiros nacionais para dar repostas encomendadas, deveria relatar os factos como eles são, criticar sempre que se achar necessário e reconhecer méritos quando houverem. Em princípio é isto que se espera de quem entra pelas nossas casas pelo sinal de rádio e televisão.
Ao contrário do que temos visto, e temos de reconhecer que tem tido audiência, comentar em televisão ou rádio não é só falar mal de quem governa, é sim olhar para os fenómenos e tecer a sua opinião dentro dos seus conhecimentos técnicos e muitas vezes com as suas orientações políticas, e deixar as pessoas tirarem as suas ilações sobre os assuntos.
O que colhe hoje é falar mal e trazer para a praça pública as mensagens reencaminhadas no WhastApp, mas coincidentemente, nunca o que de bom foi feito pelo Governo ou outros agentes sociais. Entendemos que os comentaristas devem estar acima disto e à altura de analisar os fenómenos.
A outra chamada de atenção vai para os órgãos e plataformas de informação que, na busca de audiência, pura e simplesmente dão a espaço de antena a estes comentaristas. É importante dizer que estes comentaristas saíram da surdina e estão à procura de fazer o seu caminho de acordo com as suas agendas,mas os órgãos de comunicação devem acautelar estas situações, tendo um contraditório à altura ou ter pivots preparados, para que não se deixe passar mensagens encomendadas.
Comentar em televisão ou rádio não é só falar mal de quem governa, é sim olhar para os fenómenos e tecer a sua opinião dentro dos seus conhecimentos técnicos e muitas vezes com as suas orientações politicas