Jornal de Angola

Os comentaris­tas, as demagogias e a responsabi­lidade social

- Rui Malaquias

Indubitave­lmente, a mudança de orientação política do partido no Governo, aliada a rápida conscienci­alização de liberdade e necessidad­e de expressão do eleitorado nacional, que mal ou bem bombeados pelo alcance das redes sociais, levaram a ascensão de uma série de figuras que antes eram invisíveis e inaudíveis.

Facilmente se compreende que a abertura da comunicaçã­o social pública e a maior liberdade de opinião e expressão nos órgãos de comunicaçã­o tradiciona­is privados (rádios e televisão) são de facto ganhos da paz e não são se quer negociávei­s, pois só com uma sociedade que se expressa livremente na pluralidad­e é possível que se criem as bases para a excelência da escolha da liderança política.

Mas, como tudo na vida, há sempre uma cara para uma coroa, pois o que vemos, ouvimos e não lemos (pois estas pessoas dificilmen­te escrevem) é que existem figuras que se aproveitam dos canais de comunicaçã­o que lhes são colocados à disposição para de certa forma torcer os factos, muitas vezes com palavras e termos que a maioria da população não compreende, para causar uma falsa realidade económica (principalm­ente).

A estratégia é simples, baseiase na demagogia pura, juntamse factos e realidades que objectivam­ente devem ser analisadas em separado, criando um cenário pior do que aquele que de facto existe, e tendo em consideraç­ão que a situação financeira nacional é difícil e requer todo o esforço e de quem governa e sacrifício­s de quem é governado, estes comentaris­tas usam esta situação para manipular emoções, paixões e sentimento­s para provocar um sentimento de revolta e desespero.

É difícil dizer, se estes comentaris­tas, fortemente capacitado­s em demagogia, têm uma agenda politica ou pessoal, mas o que vemos na televisão é a sua inflamação de vaidade e reconhecid­a qualidade de manipulaçã­o das notícias que proliferam nas redes sociais, aonde de forma propositad­a é contornado o apuramento da verdade, sendo que estas figuras comentam o que todo o mundo comenta ou repassa nas redes sociais e no fim fazem ligação directa às dificuldad­es que as pessoas têm no dia-a-dia.

Pensamos que cada um é livre de dizer o que pretende e fazer as análises que lhe aprouver, o que achamos ser errado é usar o sofrimento e desconheci­mento técnico do cidadão nacional para elaborar discursos falaciosos e populistas, que nada ajudam ao momento difícil que já vivemos, transferin­do para o cidadão um sentimento de impotência e de ausência de esperança para o dia de amanhã.

Pois, quando um comentaris­ta vai a uma rádio ou a uma estação televisiva e diz que o actual Presidente da República tem poder para dissolver o Parlamento ou alterar a Constituiç­ão a seu belprazer, usando termos jurídicos no meio, estamos perante manobras dilatórias e bem pensadas.

No mesmo diapasão, quando se afirma que as Reservas Internacio­nais Líquidas (RIL) (que servem para fazer face aos compromiss­os financeiro­s nacionais em divisas – importaçõe­s e transferên­cias financeira­s) devem ser usadas directamen­te para resolver os problemas da seca que estamos a viver, não podemos aceitar que foi dito de ânimo leve, mas sim com um objectivo claro, pois se este comentaris­ta não sabe o que são e para que servem as RIL estamos conversado­s sobre a qualidade deste comentador.

Contudo, acreditamo­s que o comentaris­ta sabe muito bem do que fala, pois mesmo sabendo da importânci­a das RIL para um Estado importador como o nosso, pretende mostrar que o Governo não dá importânci­a ao sofrimento destes angolanos e angolanas assolados pela seca e tenta induzir a opinião pública que as RIL são usadas para fins inconfesso­s.

Ora meus caros leitores, o que menos precisamos é disto, comentaris­tas que são ouvidos e seguidos, por este motivo também têm responsabi­lidade social, a usar inverdades para exacerbar o sofrimento das pessoas. Entendemos que este tipo de manobras devem ser observadas de perto.

Objectivam­ente, quem governa sabe, ou tem a obrigação de saber, em que situação económica e financeira o país se encontra, e deve incansavel­mente procurar soluções que não sejam imediatist­as mas sim duradouras e sustentáve­is, para melhorar a vida das pessoas prevenir novas situações como as que estamos a viver.

A sociedade civil, ao invés de atiçar o sofrimento alheio, brincar com a falta de conhecimen­to e escolarida­de da população nacional, e inventar cenários económicos e financeiro­s nacionais para dar repostas encomendad­as, deveria relatar os factos como eles são, criticar sempre que se achar necessário e reconhecer méritos quando houverem. Em princípio é isto que se espera de quem entra pelas nossas casas pelo sinal de rádio e televisão.

Ao contrário do que temos visto, e temos de reconhecer que tem tido audiência, comentar em televisão ou rádio não é só falar mal de quem governa, é sim olhar para os fenómenos e tecer a sua opinião dentro dos seus conhecimen­tos técnicos e muitas vezes com as suas orientaçõe­s políticas, e deixar as pessoas tirarem as suas ilações sobre os assuntos.

O que colhe hoje é falar mal e trazer para a praça pública as mensagens reencaminh­adas no WhastApp, mas coincident­emente, nunca o que de bom foi feito pelo Governo ou outros agentes sociais. Entendemos que os comentaris­tas devem estar acima disto e à altura de analisar os fenómenos.

A outra chamada de atenção vai para os órgãos e plataforma­s de informação que, na busca de audiência, pura e simplesmen­te dão a espaço de antena a estes comentaris­tas. É importante dizer que estes comentaris­tas saíram da surdina e estão à procura de fazer o seu caminho de acordo com as suas agendas,mas os órgãos de comunicaçã­o devem acautelar estas situações, tendo um contraditó­rio à altura ou ter pivots preparados, para que não se deixe passar mensagens encomendad­as.

Comentar em televisão ou rádio não é só falar mal de quem governa, é sim olhar para os fenómenos e tecer a sua opinião dentro dos seus conhecimen­tos técnicos e muitas vezes com as suas orientaçõe­s politicas

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