Nigéria arrisca-se a ficar sem ajudas humanitárias
Organizações humanitárias negam veementemente as alegações da Nigéria de que estão a desviar os fundos e as ajudas para o Boko Haram
As autoridades nigerianas foram avisadas, domingo, em Abuja, de que o país arriscase a enfrentar um desastre humanitário caso o Governo materialize as ameaças de expulsão das agências humanitárias que actuam no nordeste do país, com a alegação de que supostamente ajudam os grupos islâmicos extremistas.
Segundo uma informação veiculada pelos meios de comunicação em Abuja, capital da Nigéria, duas agências de ajuda humanitária encerraram os escritórios nos últimos dias e há temores, no sector de assistência humanitária, de que a Nigéria esteja prestes a encerrar até dez organizações humanitárias independentes.
As negociações estão em curso no sentido de impedir o colapso dos laços que ligam as organizações humanitárias ao Governo central e local da Nigéria, destacou uma fonte ligada à maior organização humanitária, Action Against Hunger (Acção Contra a Fome), tendo acrescentado que as primeiras instituições humanitárias, muitas vezes, evitam transportar dinheiro por estrada para evitar o risco de apreensão.
A deslocação pelo interior do país tem provocado danos e algumas vezes perda de vidas, adiantou a fonte citada, tendo exemplificado a execução de um trabalhador nigeriano, sequestrado na quarta-feira passada por extremistas. O trabalhador da referida organização estava entre os seis trabalhadores humanitários empregados pela Action Against Hunger, sediada em Paris, capturado em Julho por Boko Haram durante a emboscada a um comboio perto da fronteira com o Níger. Acção Contra a Fome é a maior ONG envolvida na resposta humanitária internacional na região.
No dia 18 de Setembro, o seu escritório em Maiduguri, capital do estado de Borno, nordeste da Nigéria, foi fechado à força pelo exército nigeriano sem aviso prévio.
O exército alegou, na altura, que a sua acção tinha como base informações que apontavam para alegadas actividades subversivas, que estaria supostamente a ajudar e favorecer os terroristas, inclusive fornecendo drogas e alimentos a grupos extremistas.
Na reacção, a direcção da organização, citada nos meios de comunicação, disse que “a Against Hunger fornece ajuda humanitária neutra, imparcial e independente a milhões de pessoas nos estados de Borno e Yobe, proporcionando serviços básicos às pessoas mais vulneráveis, especialmente mulheres e crianças”
A Acção Contra a Fome disse que estaria “pronta para qualquer investigação” e “trabalhará incansavelmente com as autoridades nigerianas para resolver qualquer problema na região”. A outra agência internacional, Mercy Corps, de acordo com o seu Site, anunciou também que havia sido suspensa na parte nordeste do país. “O exército nigeriano havia fechado cinco dos seus escritórios, inicialmente sem fornecer nenhuma explicação oficial”, constava na página oficial da organização.
O exército nigeriano está a intensificar os seus esforços há mais de dez anos para expulsar extremistas dos lugares estratégicos, sobretudo no nordeste do país para procurar inviabilizar a realização de novos ataques terroristas.
A guerra com o Boko Haram devastou a população no nordeste rural da Nigéria, uma das regiões mais pobres do planeta. Mais de dois milhões de pessoas fugiram de suas casas, foram mortas e muitas outras ficaram feridas, sequestradas e recrutadas para participar da luta. No mês de Agosto, o Comité Internacional da Cruz Vermelha disse que cerca de 22.000 nigerianos estavam desaparecidos durante a crise de uma década, quase metade menores.
Além da presença ou acções esporádicas noutras regiões do país, o Boko Haram actua com maior incidência em dez zonas dentrodo estado de Borno, perto do Lago Chade, mas, segundo algumas organizações humanitárias, o exército e o Governo central resistem a admitir que a contra-ofensiva está a falhar.
O coordenador humanitário da ONU na Nigéria, Edward Kallon, disse estar chocado com a morte dos trabalhadores humanitários e “extremamente preocupado com o ambiente operacional perigoso e restritivo da assistência humanitária”.
O exército alegou, na altura, que a sua acção tinha como base informações que apontavam para alegadas actividades subversivas, que estaria supostamente a ajudar e favorecer os terroristas