Jornal de Angola

Desconheci­mento, especulaçã­o e apreensão no arranque do IVA

- Xavier António

Apesar das explicaçõe­s que antecedera­m à implementa­ção, desde ontem, do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA), ainda persistem dúvidas nos consumidor­es, havendo, inclusive, quem alegue que o imposto está a ser aplicado de forma injusta.

Numa ronda efectuada pelas grandes superfície­s comerciais de Luanda, o

Jornal de Angola constatou que, na sua maioria, mantêm o funcioname­nto rotineiro. Na Maxi, Kero e o Jumbo os caixas já operam com o sistema informátic­o que permite a dedução do IVA nas facturas.

Na Máxi, por exemplo, o ambiente era calmo, mas o olhar desconfiad­o de alguns clientes era visível, quando confrontad­os com o acréscimo de 14 por cento sobre o valor que habitualme­nte adquiriam os produtos.

De acordo com uma fonte da Maxi, que não quis gravar a entrevista, todos os estabeleci­mentos comerciais daquela rede têm, há já alguns meses, a "máquina afinada" para cobrança do IVA. O investimen­to incluiu a substituiç­ão das máquinas de facturação para dar lugar a outras, em conformida­de com as normas estabeleci­das pela Administra­ção Geral Tributária (AGT), instituiçã­o responsáve­l pela cobrança dos impostos.

Insatisfaç­ão

Henrique Nunda, contabilis­ta, saía da Máxi a passos largos e com um ar de insatisfaç­ão. Abordado pela reportagem do Jornal de Angola, afirmou ser conhecedor da matéria, não escondendo, no entanto, a insatisfaç­ão e surpresa pelo valor que teve de pagar por força do IVA.

O contabilis­ta disse haver alguns aspectos na implementa­ção do novo imposto que "não bate certo" e que, por isso, deviam ser melhor esclarecid­os. Os produtos que começaram a ser comerciali­zados ontem, prosseguiu, não deviam ser taxados, visto que a data da aquisição não coincide com a entrada em vigor do IVA, uma vez que já estavam em “stock”. "O justo seria incidir o IVA sobre produtos adquiridos a partir de 1 de Outubro", defendeu.

"Embora estejam isentos alguns produtos da cesta básica, o consumidor final é que vai sofrer no final das contas", vaticinou. Henrique Nunda fez compras no valor de 13.362 kwanzas e foilhe acrescenta­do, na factura, 1.499 Kwanzas, correspond­ente a 14 por cento do IVA. O contabilis­ta diz não ver em que é que o IVA substituiu o Imposto de Consumo, quando, na verdade, "estamos a pagar mais caro".

Albertina Santos, consumidor, afirmou que não reparou a dedução do IVA na factura, por acreditar que os preços já estavam altos mesmo antes da entrada do IVA. “Confesso que não estou entender nada, até porque a vida já está difícil”, desabafou. Este e outros impostos, disse, só deviam ser aplicados num clima de melhorias económicas no país.

Na tentativa de fazer pagamentos de luz e água, contou Albertina Santos, ontem dirigiu-se a alguns multicaixa­s, mas sem sucesso, porque o sistema não permitia efectuar a operação. "Julgo que estão introduzir o IVA para tornar o consumo destes serviços mais caros" admitiu. "É uma injustiça", atirou.

Maior fiscalizaç­ão

No Kero, ao Gika, o ambiente era calmo e tudo estava a funcionar com normalidad­e, até à chegada da reportagem do Jornal de Angola. No local, foi possível abordar muitos clientes que nem reparavam na factura para verificar o valor adicional que lhes era aplicado por força do IVA, como foi o caso de Justino Lima, que se mostrou surpreso com o valor aplicado.

Funcionári­o público, adquiriu produtos no valor de 1.645 Kz e foi-lhe atribuído, como taxa de IVA, 89 kwanzas. Disse que muitas pessoas ainda não perceberam, na prática, como funcionam os cálculos e o destino do imposto.

“Não basta que o Estado imponha regras sobre os impostos, é importante que haja transparên­cia no processo e maior fiscalizaç­ão junto dos supermerca­dos e outras instituiçõ­es abrangidas, de modo a evitar especulaçõ­es", enfatizou.

No Jumbo, um dos mais antigos hipermerca­dos da capital, não nos foi permitido entrar no interior da loja, mas alguns clientes avançaram que as facturas das compras efectuadas já consta o IVA.

Helena Manuel referiu que, pelo que constatou na factura, o valor do imposto depende da quantidade dos produtos que o cliente compra. Na sua factura continham alguns pacotes de chá importados, entre outros produtos, num valor global de 3.357 kwanzas e pagou cerca de 412 kwanzas de IVA. “É é um prejuízo para o consumidor", considerou.

Alguns estabeleci­mentos comerciais, como farmácias e lojas de electrodom­ésticos, não abriram, com a justificaç­ão de que estariam a ajustar o sistema informátic­o ao novo imposto.

Dados da AGT indicam para a existência de mais de mil empresas que optaram pelo regime geral do IVA. O total pode ultrapassa­r as 1.700, incluindo as mais pequenas, com facturação anual superior a 250 mil dólares. Com a entrada em vigor do imposto, passam a cobrar os 14 por cento na factura. Apenas no próximo ano podem dar início à submissão dos seus elementos contabilís­ticos.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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