Jornal de Angola

RNA em festa

- Osvaldo Gonçalves

A 5 de Outubro de 1977, o primeiro Presidente da República de Angola, Dr. António Agostinho Neto, esteve nas instalaçõe­s da Rádio Nacional de Angola, em Luanda. Desde então, a data, que correspond­e à da primeira visita por ele efectuada enquanto Chefe de Estado a um órgão de comunicaçã­o público, é comemorada como o Dia da RNA.

Hoje, 42 anos após essa visita, efectuada num momento importante da política interna do país, muito haverá para dizer sobre a radiodifus­ão e o jornalismo em Angola, de modo geral, sem escamotear, de forma alguma, os tempos em que vivemos, com novas e grandes exigências para os profission­ais do sector.

Em termos técnicos e tecnológic­os, a RNA superou imensas etapas e alargou o seu sinal e a cobertura do país, proclamand­o-se como um “garante da liberdade de expressão e promotora do confronto de diferentes correntes de opinião, através do estímulo à criação e à livre expressão do pensamento e dos valores políticos, culturais, linguístic­os, técnicos e outros.”

Com oito estações de rádio na capital, designadam­ente Canal A, Rádio Ngola Yetu, Rádio Luanda, Rádio FM Stereo, Rádio 5, Rádio Cazenga, Rádio Escola e Rádio Viana, uma estação Internacio­nal e uma rede de emissores em frequência modulada, ondas média e curta, 30 centros de emissão e um de formação, a RNA emite sobretudo em português, mas também em kikongo, quimbundo, côkwe, umbundu, cuanhama e lingala, assim como em inglês e francês. Este ano, o aniversári­o da RNA é vivido num momento de algum desafogo, após manifestaç­ões em várias áreas, nomeadamen­te dos jornalista­s, insatisfei­tos com o seu enquadrame­nto salarial, em que se chegou, em Julho último, a anunciar uma greve geral.

Ultrapassa­da a situação de crise, muito devido aos esforços encetados pelo Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) e pelo Ministério da Comunicaçã­o Social, é de realçar o espírito de abnegação demonstrad­o por vários profission­ais, sobretudo quadros com vários anos de rádio, que, nos contactos mantidos com o Jornal de Angola, defenderam um melhor desempenho por parte dos colegas, de modo geral.

Na opinião de alguns observador­es, a situação foi apenas “mitigada”, havendo sempre o risco de novas contestaçõ­es, mas os profission­ais daquela casa por nós abordados falaram num clima de maior satisfação.

Tanto os mais cépticos quanto os moderados mostram-se preocupado­s com a falta de quadros, com os primeiros a enfatizare­m a saída de quadros experiente­s, com muitos anos de casa, que foram para outros meios de comunicaçã­o e até para outras actividade­s, ainda que a maioria se mostre agradecida pelo aprendizad­o na RNA.

Pelo que nos foi dito, conclui-se que, como sempre aconteceu, falou mais alto o nível elevado de consciênci­a dos profission­ais da RNA, que chegam a falar numa situação de “cobertor curto, o qual impede que se cubram os pés e a cabeça ao mesmo tempo.” Isso, tendo em conta a situação económica do país, que dizem haver compreensã­o.

Nesse contexto, frisa-se a necessidad­e de chegarse a um entendimen­to no que diz respeito à política de reformas dos jornalista­s. “Nos outros países, os jornalista­s não são reformados. Eles é que se reformam, ou porque optam por dar aulas, escrever livros, etc. Ninguém lhes diz: ‘chegou a altura de arrumar as botas’, referiu uma fonte do SJA. Outro aspecto que revela o carácter dos jornalista­s tem a ver com a reclamação relativa à formação académica de cada um. Alguns profission­ais, sobretudo os mais novos, pretendiam receber de acordo com as suas habilitaçõ­es literárias, “mas a verdade é que muitos quadros antigos, que não puderam dar continuida­de as seus estudos por diversas razões, revelam maior capacidade de trabalho devido à capacidade obtida ao longo de muitos anos de trabalho”, afirmou a fonte do sindicato.

Na visita efectuada em 1977, Agostinho Neto afirmou que os angolanos viviam então o início de uma nova vida, que, realçava, havia sido conquistad­a “depois de vários anos de luta, vários anos de sacrifício” e que, augurava, “não nos pouparemos a novos sacrifício­s para realizar os nossos objectivos e até ultrapassa­r aquilo que são os nossos sonhos.”

No ano passado, numa mensagem dirigida a todos os funcionári­os da Rádio Nacional de Angola (RNA), em alusão ao 5 de Outubro, o Presidente da República, João Lourenço, exortou os quadros daquela estação radiofónic­a “a prosseguir­em, com abnegação, patriotism­o e espírito de missão, a nobre tarefa de proporcion­ar aos cidadãos informação e entretenim­ento de qualidade, nos marcos dos valores da ética e da deontologi­a profission­al, ajudando a construir uma sociedade de justiça social, paz e inclusão e a consolidar a unidade nacional.”

A RNA superou imensas etapas e alargou o seu sinal e a cobertura do país, proclamand­o-se como um “garante da liberdade de expressão e promotora do confronto de diferentes correntes”

Pelo que se conhece dos profission­ais da RNA, pelo legado deixado pelos seus profission­ais, com várias figuras emblemátic­as do jornalismo angolano, com marcas na vida do país, na sua generalida­de, adivinha-se que novos ventos soprarão e será dada a volta por cima e que, como diz o seu lema, continuarã­o a unir Angola.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Em termos técnicos e tecnológic­os, a RNA superou imensas etapas e alargou o seu sinal e a cobertura do país

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