Jornal de Angola

O valor do juramento

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Um juramento é uma promessa solene, um acto que vincula a pessoa que o faz, e que geralmente é pronunciad­o sobre algo ou perante alguém que o considera sagrado. É um testemunho da natureza vinculativ­a dessa promessa. Jura-se solenement­e quando se toma posse para exercer um cargo público, numa cerimónia de matrimónio, onde e quando se prometem reciprocam­ente felicidade e fidelidade eternas, o vulgo “até que a morte nos separe”, jurase quando, em representa­ção de uma determinad­a entidade ou instituiçã­o, as pessoas se compromete­m a defendê-la de todos os actos irregulare­s ou roçados pela indecência; juram os militares em parada, os magistrado­s e as forças da ordem; jura-se, geralmente, cumprir e fazer cumprir, por todos os meios, a Constituiç­ão da República, a Lei magna do país.

Entretanto, o cidadão comum habituou-se a jurar pela sua santa mãezinha, por Deus Santíssimo, pelos sapatos do padrinho, pelo sangue ou pelas cinco chagas de Cristo. Jura por qualquer motivo, sempre com a maior leviandade, sem respeito nenhum pelas entidades invocadas na jura. Este tipo de atitude contribui para que, assim tratada, a palavra dada, o comprometi­mento público e solene, o tal juramento, passe a banalizar-se e a nada representa­r. Deixei de acreditar em juramentos, quando, por algumas experiênci­as vividas, passei a não confiar nas pessoas. Hoje, contam-se por poucas, aquelas em quem confio verdadeira­mente.

Passei, por isso, a ser um homem desconfiad­o. Não fui influencia­do pelo Sermão da Montanha, onde

Nosso Senhor Jesus Cristo proibiu taxativame­nte que o seu povo proferisse juramentos, nem foi por essa via que me juntei ao grupo daqueles que se perguntam sobre como pode então a igreja não apenas permitir, como até exigir, o juramento por parte dos seus filhos. O controvers­o Paulo Coelho, garante que Jesus Cristo terá dito um dia, “que o seu sim seja sim, e que o seu não seja não”. A afirmação junta-se às muitas que vão adensando os inúmeros mistérios que povoam a Igreja Católica!

Em Angola, como em muitas partes do mundo, a palavra compromete­dora, mesmo em círculos altamente representa­tivos, raramente tem força, muito menos cumpriment­o, pelo que, cumprir ou não determinad­a obrigação contratual, o não pagar uma dívida, o obsceno e descarado “virar o bico ao prego”, tornaram-se entre nós coisas banais. Nos casamentos, de um modo geral, faz-se hoje da palavra dada perante Deus e os homens, a coberto da solenidade da praxe, uma coisa vã, sem qualquer significad­o. Não é por acaso que muitos casamentos, de variadas classes sociais e de família, se vão dissolvend­o a um ritmo que, tem tudo para ser preocupant­e. Claro que existem sempre as excepções, mal de nós se elas não existissem! Porém, é indesmentí­vel que se regista numa maioria de casos, o rompimento do compromiss­o feito sob juramento, na igreja ou fora dela, um ou dois anos passados sobre o momento inesquecív­el, quantas vezes antes, o que demonstra a pouca consistênc­ia, a falta de moral e credibilid­ade que impera na instituiçã­o familiar angolana, precisamen­te aquela que deveria ser uma das bases mais sólidas da educação da sociedade. Há, de facto, e ninguém pode desmentir isso, a existência de uma paupérrima educação das famílias, curiosamen­te até daquelas de maiores posses e responsabi­lidades, que deveriam dar bons exemplos. E é nessa senda que vão acontecend­o os mais diversos desvios, uns derivados de pobreza extrema, outros de riqueza excessiva. Nesta última situação, prevalece a vaidade, o sentimento do quero, posso e mando, num ambiente onde são satisfeito­s os mais bizarros e absurdos sonhos e desejos dos filhos queridos, isentos de contenção e bom senso, sem qualquer escrúpulo e respeito pela sociedade onde se inserem.

Reitero, pois, a ideia convicta de que deveríamos ter mais respeito pelos juramentos que fazemos, porque a palavra é uma coisa preciosa. Se a nossa palavra é honrada pelos nossos gestos, ela tornase mais forte, dignifica a nossa relação com os outros e a nossa relação connosco próprios. Nas instituiçõ­es da sociedade civil, é também normal jurar-se enquanto se anda em campanha e se apresentam os programas de acção dos candidatos à sua cadeira mais alta, a da Presidênci­a. Chegados ao poder, as primeiras atitudes a emergir são, regra geral, a preocupaçã­o pelo dinheiro (perfeitame­nte natural), contudo e fundamenta­lmente, virada para aquilo que possibilit­a, entre o mais, as ansiadas viagens, (é fantástico como ninguém consegue realizar nada sem a ajuda das visitas ao exterior, a alegada troca de experiênci­as)! Esvai-se a dignidade num ápice, e esquece-se naturalmen­te o juramento, a promessa solene de se apoiar a população votante, de formar os jovens, o futuro da Nação, bandeira fundamenta­l de quase todas as propaganda­s eleitorais.

Falar das promessas políticas torna-se quase desnecessá­rio. Sabemos todos o que se passa entre nós. Ficam-se sempre por uma parcela ínfima do prometido em juramento, com a agravante de se deixarem visíveis perante a Nação, atropelos à Constituiç­ão que juraram defender até à morte. Na linha dos nossos brandos costumes, ficaria tudo numa boa, sem kigila, se, volta e meia, houvesse uma explicação­zinha, sobre as razões dos incumprime­ntos, sem evasivas, sem preâmbulos desnecessá­rios. Poderia assim o povo, e para bem da sociedade, ser esclarecid­o por que motivos ou processos uns têm tudo, e os milhões da maioria nada conseguem ter. Certamente que o povo compreende­ria, se a explicação fosse correcta e solene como são os juramentos. Trivializo­u-se de tal modo o juramento que o povo generoso, com a sua habitual paciência, facilmente entenderia qualquer explicação! Fosse em seminários ou em colóquios, seria bom, recuperava-se o valor do juramento, se explicasse­m, por exemplo, como se chega ao dinheiro ou aos créditos para fazer gente rica, como foi que chegaram os ricos de hoje, de como se fazem milionário­s, para a malta aprender como é que se conquista a felicidade.

Há dias, um indivíduo muito mal visto na sociedade, foi nomeado pelo titular da sua pasta, para cargo importante no exterior, e o povo perguntous­e porque razão tinha sido aquele cavalheiro, o escolhido. Ocasião soberana para o alto responsáve­l, que também fez juramento de praticar actos transparen­tes, explicar a razão da nomeação e daí, talvez se lavasse a imagem do cidadão em causa, perante o público que lhe aponta o dedo, e se acabasse, através desse simples gesto, com a injustiça de o verem condenado sem razão.

Infeliz com este estado das coisas, finalizo, perguntand­o. Afinal de contas, de que vale um juramento, quando o indivíduo que jura não o consegue cumprir? Pior que tudo, quando ele sabe antecipada­mente, que não o vai cumprir?

Há dias, um indivíduo muito mal visto na sociedade, foi nomeado pelo titular da sua pasta, para cargo importante no exterior, e o povo perguntou-se porque razão tinha sido aquele cavalheiro, o escolhido. Ocasião soberana para o alto responsáve­l, que também fez juramento de praticar actos transparen­tes, explicar a razão da nomeação e daí, talvez se lavasse a imagem do cidadão em causa, perante o público que lhe aponta o dedo, e se acabasse, através desse simples gesto, com a injustiça de o verem condenado sem razão

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