Jornal de Angola

Figura a ser estudada

-

Para a professora universitá­ria Irene Guerra Marques, não é fácil falar da dimensão cultural e política de António Jacinto, a quem ela teve sempre como “um grande amigo, presente em todas as ocasiões.”

A professora, no seu depoimento escrito, não poupou palavras para descrever a vida e obra daquele que ela considerou “o grande intelectua­l que lançou as fortes bases para a política cultural no país.” “António Jacinto”, afirmou Irene Guerra Marques, “é uma figura para ser estudada”. Ela deu a conhecer que, pelo menos na Faculdade de Letras da Universida­de Agostinho Neto, está a ser, estudado na cadeira de Literatura Angolana.

Segundo ela, nos anos 1950, com o surgimento de movimentos culturais e, mais concretame­nte, do Movimento dos Novos Intelectua­is de Angola, sob o lema “Vamos Descobrir Angola”, Jacinto dizia que “com esses movimentos culturais já não vamos viver à portuguesa, mas da literatura que fazemos.”

E a professora sublinhou: “A sua poética é de grande intensidad­e dramática, de valor literário incontestá­vel (...) que rompeu com a literatura colonial.”

Textos poéticos como “A Prostituta”, “O Medo”, “Cartas de um Contratado” e “Mona Nzambi”, revelou a professora Irene Guerra Marques, “foram um importante meio de informação, que impulsiona­ram muitos angolanos para a luta de libertação nacional.”

Para as novas gerações, exortou: “António Jacinto não pode ser esquecido, porque da sua vida e obra têm muito a beber”, assim como devem tomar conhecimen­to de tudo o que fez em prol da literatura e da luta para a Independên­cia de Angola.

O escritor Boaventura Cardoso, que também foi titular do pelouro governamen­tal da Cultura, disse que o poeta António Jacinto “é um homem de letras e uma figura exemplar”. Revelou que conheceu Jacinto em Novembro de 1974, no comité provincial de Luanda do MPLA, na Vila Alice, e teve oportunida­de de conviver com ele como governante.

Boaventura Cardoso explicou que se aproximou de António Jacinto aquando do processo de criação da UEA em 1975. Na primeira associação cultural do país também constam como fundadores outras grandes figuras da literatura, como Agostinho Neto, Luandino Vieira, Uanhenga Xitu e Henrique Abranches.

“António Jacinto foi um grande homem, com carácter invejável. Hoje é difícil encontrar no país indivíduos com o seu perfil”, rematou Boaventura Cardoso, autor da obra literária referencia­l “A morte do Velho Kipacaça”.

O escritor e actualment­e deputado Adriano Botelho de Vasconcelo­s, que por razões institucio­nais não se pôde fazer presente na Maka, interveio numa rede social de escritores membros da UEA, da seguinte forma: “Eu estou triste, poderia ter explicado que quando riscaram o meu nome na lista dos fundadores da UEA, foi o confrade António Jacinto que exigiu que respeitass­em a minha condição de membro. (Ele) escreveu na minha “nota de protesto” que só deveria pagar as cotas que ficaram por pagar porque eu estivera três anos preso sem julgamento: preso político.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola