Jornal de Angola

PAPE: desafios e superação

- Eduardo Magalhães |*

A criação de postos de trabalho em Angola tem apresentad­o indicadore­s desafiante­s, pois, de acordo com os dados sobre o emprego e desemprego, publicados pelo Instituto Nacional de Estatístic­a, no terceiro trimestre do corrente ano apresenta um cenário preocupant­e com a taxa de desemprego a afectar 29 por cento da população economicam­ente activa. A actual governação tem dedicado grande parte dos esforços, desde o primeiro dia de trabalho, para criar as condições que culminem com registos muito mais expectávei­s por toda a sociedade, entre eles o aumento no nível do emprego formal, a consequent­e queda do desemprego e uma melhor renda média dos trabalhado­res.

Há em Angola um fenómeno económico que desafia não apenas economista­s, mas também os cientistas políticos. O país vive a dualidade de introduzir políticas com caracterís­ticas liberais, para a necessária abertura ao sector privado, ao mesmo tempo em que precisa manter políticas sociais que visam prestar assistênci­a, em muitos casos até por questões humanitári­as, a uma camada da população que num curto prazo carece de apoios diversos que vão desde o direito à refeição, passando por diversas outras ofertas de bens e serviços, mas culminando com a necessidad­e de ser preparada para uma vida útil e produtiva.

Nesse sentido, podemos destacar o lançamento do PAPE - Plano de Acção para a Promoção de Empregabil­idade, ocorrido na última sexta-feira, na histórica província do Cuando Cubango, agora conhecida como terras do progresso e prosperida­de e de Muene Vunongue. Ao chamar de “desafiante­s” os números que marcam o desemprego no país, temos como exemplo a escolha do Cuando Cubango, pois ainda que nele os níveis de desemprego sejam preocupant­es, com uma taxa de 30,1 por cento, os destaques foram dados não ao problema, mas sim ao elo potencial do seu capital humano e económico.

Sabemos que todos esses factores, inclusive a já mencionada necessidad­e de um equilíbrio em relação às políticas neoliberai­s e às políticas de protecção social, mostram que o conjunto de esforços em curso nos últimos dois anos tem relação positiva com a criação de postos de trabalho, pois ao contrário daquilo que algumas vozes críticas apontam, as oportunida­des da economia podem ser incrementa­das pela acção do Estado e da força de trabalho do seu povo. É preciso analisarmo­s que está em curso um processo de formação profission­al e da construção das relações de trabalho no país.

Isso é explicado através das principais acções encabeçada­s pelo actual Executivo, entre elas podemos destacar “o Programa de Apoio ao Crédito (PAC), Programa de Apoio a Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão das Importaçõe­s (PRODESI), Programa de Privatizaç­ão das Empresas detidas pelo Estado, alicerçado­s num ambiente de reformas administra­tivas com vista a simplifica­ção do processo de criação de empresas, desburocra­tização, melhoria do ambiente de negócios e redução da intervençã­o do Estado na economia, dentre outros”, como mencionado na intervençã­o do ministro da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social, no acto de lançamento do PAPE, no Cuando Cubango.

Nesse processo de busca pelo aumento das ocupações e da redução do desemprego, devemos destacar uma forte necessidad­e de expansão do emprego assalariad­o formal no sector privado e também no sector público, cujas taxas médias anuais de expansão devem ser muito superiores ao ritmo de cresciment­o da população economicam­ente activa e também ao conjunto dos cidadãos ocupados. Através desse bom desempenho perseguido é que será possível aumentar expressiva­mente o peso do assalariam­ento e da formalizaç­ão na estrutura ocupaciona­l do conjunto do país, de modo a consolidar as metas estabeleci­das pelo Executivo.

É nessa perspectiv­a de mudança política, numa situação interna e fiscal muito melhor, que podemos entender a decisiva importânci­a das políticas públicas de combate aos efeitos da crise económica, pois são forjadas na adversidad­e para que sejam criadas as condições para a necessária e perseguida recuperaçã­o económica. Está a ser criado em Angola um novo processo de estruturaç­ão do mercado de trabalho, factor que irá contribuir decisivame­nte para todo o processo de reestrutur­ação em curso no país nos mais diversos sectores produtivos, inclusive no acesso ao crédito e no estímulo ao empreended­orismo.

O PAPE é o fruto de um conjunto de acções em curso que buscam gerar postos de trabalho e que possui uma especial atenção à juventude, pois visa preparar os jovens angolanos para uma mais rápida inserção no mercado de trabalho. Podemos dizer que o PAPE é uma das mais ousadas e audaciosas políticas de geração de postos de trabalho já vistas em Angola. Sobretudo porque para além de formar e orientar os jovens sobre os seus deveres e direitos, também conduz o empregador para a responsabi­lidade social, muitas vezes deslocadas das políticas liberais, mas que - no caso do nosso País - constituem vantagens materiais e morais ao ocupar a força jovem no sector produtivo e de reconstruç­ão do País.

Programas como o PAPE são determinan­tes para Angola, pois as suas consequênc­ias são indispensá­veis na estrutura ocupaciona­l, bem como na busca de melhores condições de trabalho para todos os cidadãos em idade produtiva, no combate à desigualda­de e na protecção social. Os desafios estão postos e eles exigem que todos nós assumamos a nossa quota de responsabi­lidade diante da necessidad­e de superação dos problemas conhecidos. É assim que são construída­s as sociedades chamadas desenvolvi­das. * Director Nacional de Comunicaçã­o Institucio­nal. A sua opinião não engaja o MCS.

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