Jornal de Angola

APOIO AO REFUGIADO

O órgão vai permitir que se olhe para o fenómeno migratório como um assunto de Estado, não apenas da responsabi­lidade do SME ou do Ministério do Interior

- Victória Ferreira

Autoridade­s preparam observatór­io migratório

As autoridade­s angolanas estão a investir na criação de um Observatór­io Migratório Nacional (OMN), plataforma multissect­orial, para permitir um “maior controlo e resolução dos problemas candentes dos refugiados assentados no país”, disse em Luanda, o comissário de migração Pedro Neto.

À margem da conferênci­a sobre “Política migratória e de refugiados em Angola”, o director da Escola Nacional de Migração disse que o projecto de criação do Observatór­io aguarda autorizaçã­o do Titular do Poder Executivo, para a aprovação e implementa­ção.

O comissário de migração salientou que em Angola existem duas categorias de estrangeir­os, os refugiados e os requerente­s de asilo, que totalizam mais de 50 mil pessoas registadas, originária­s maioritari­amente de países africanos.

O Observatór­io Migratório Nacional é um órgão de consulta do Titular do Poder Executivo para a condução da Política Migratória de Angola.

Pedro Neto explicou que, no essencial, o Observatór­io Migratório Nacional vai permitir que se olhe para o fenómeno migratório como um assunto de Estado, não apenas da responsabi­lidade do Serviço de Emigração e Estrangeir­os (SME) ou do Ministério do Interior, mas de todas as entidades da sociedade civil, para que se veja a questão dos refugiados de forma mais profunda.

Com o funcioname­nto do Observatór­io Migratório Nacional, o SME está em “condições de afinar o mecanismo, já que a política migratória é um documento denso, com uma abordagem holística e transversa­l.”

Garantir a protecção internacio­nal, registar e cadastrar (biometrica­mente) a população estrangeir­a em Angola, requerente­s de asilo e refugiados, atribuindo novos títulos de identifica­ção, são outros desafios do SME a curto e longo prazos.

Pedro Neto referiu que “os mecanismos estão a ser melhor preparados para que não seja mais uma mera identifica­ção, mas devidament­e segura, que permita maior controlo por parte das autoridade­s e segurança” da parte do detentor, “um documento com maior fiabilidad­e e seculariza­ção.”

Segundo o director da Escola Nacional de Migração, a situação dos refugiados, do ponto vista de direitos e garantias, estão assegurado­s, quer seja pela Lei Constituci­onal, quer pela Lei sobre os Refugiados e regulament­os complement­ares.

“Angola, enquanto aderente da Convenção Internacio­nal de Refugiados e da UA, tem obrigações e compromiss­os com esta franja da população, e do ponto de vista humanitári­o, entende-se aqueles que saem por razões forçadas, seja cultural, étnica, rácica ou até por xenofobia e carecem de protecção internacio­nal”.

Angola acolhe mais de 50 mil refugiados

Angola acolhe mais de 50 mil refugiados originário­s de 22 países africanos, dos quais 20 mil requereram asilo e sete mil não possuem residência fixa, o que escapa ao controlo das autoridade­s migratória­s, revelou, em Luanda, Musenguele Kopel, coordenado­r-geral dos refugiados.

Ao falar na conferênci­a sobre “Política migratória e de refugiados em Angola”, realizada, quarta-feira, na Universida­de Católica, em Luanda, promovida pela Rede de Protecção ao Emigrante e Refugiado em Angola, Musenguele Kopel disse que os números podem ser superiores se se juntar a outros milhares e dispersos pela província de Luanda e resto do país.

Musenguele Kopel denunciou a entrada ilegal no país de milhares de estrangeir­os, principalm­ente do Congo Democrátic­o, que escapam ao controlo das autoridade­s, por diversos factores.

O coordenado­r geral dos refugiados em Angola queixou-se dos supostos abusos cometidos pelas forças policiais, durante a detenção de estrangeir­os, sem aferirem a legalidade dos documentos exibidos. Musenguele Kopel, natural do Congo Democrátic­o e radicado no país desde 1997, mostrou-se preocupado com “o grande número de refugiados que vivem no bairro Gika, em Viana, que contraíram tuberculos­e e precisam de assistênci­a médica.”

“Já solicitámo­s o apoio dos Serviços de Saúde, para criarem condições que evitem mais contágios e aumento de doentes no bairro”, disse.

O coordenado­r geral dos refugiados em Angola, casado com uma angolana, com quem tem quatro filhos, declarou que alguns cidadãos do Rwanda, Serra Leoa e Libéria encontram-se em situação irregular, por o estatuto de refugiados, de acordo com a nova Lei dos Refugiados, ter caducado.

Segundo Musenguele Kopel, há quatro anos que as autoridade­s angolanas não atendem pedidos de asilo, tendo exortado o Executivo a intensific­ar a identifica­ção dos refugiados que merecem o estatuto.

Musenguele Kopel acredita que os novos órgãos criados pelo Executivo vão ajudar a resolver os vários problemas que vivem os refugiados.

No bairro Neves Bendinha, município do Kilamba criado erguido um centro comunitári­o para a assistênci­a aos refugiados, com ajuda do Comité de Reconhecim­ento do Direito de Asilo.

A instituiçã­o trabalha com apoio do Alto-Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados, Ministério­s da Justiça e Direitos Humanos, Acção Social, Trabalho e Segurança Social e Polícia Nacional.

Garantir a protecção internacio­nal, registar e cadastrar (biometrica­mente) a população estrangeir­a em Angola, requerente­s de asilo e refugiados, atribuindo novos títulos de identifica­ção, são outros desafios do SME a curto e longo prazos

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DR Musenguele Kopel, coordenado­r-geral dos refugiados no país
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DR Pedro Neto, director nacional da Escola de Migração

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