Jornal de Angola

Estabilida­de para resolver

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Governar é prever e programar soluções para os problemas que afligem o país. Isso obriga a que se tenha um conhecimen­to da real situação, se faça um diagnóstic­o das capacidade­s de tesouraria, técnicas e humanas para se executarem os vários programas que poderão dar respostas às necessidad­es. Nessa indispensá­vel previsão há que ter em conta factores internos e também componente­s externas, muitos deles sem qualquer influência do Executivo.

No plano interno, para além de uma herança de cofres vazios e uma disfuncion­alidade de quase toda a administra­ção pública há, também, fenómenos naturais que estão a condiciona­r muitos dos projectos de melhoria da vida dos cidadãos. Não é apenas a seca na região Sul do país, mas também as ravinas e, não tarda, as cheias provocadas pela chuva. Tudo isso a que se junta uma atmosfera internacio­nal adversa, com fortes ameaças de mais uma nova grande crise económica mundial, da qual, infelizmen­te, ainda não conseguimo­s sair.

Em economia não há milagres. Os milagres, a existirem, só acontecerã­o nas igrejas e confissões religiosas ou no imaginário dos crentes e fiéis. Por isso, perante um quadro interno e externo complexos, fica difícil reunir recursos para dar resposta rápida a todos os problemas que o país vive.

Desde a sua posse que o novo Executivo tem procurado estabiliza­r a macroecono­mia, premissa fundamenta­l para que os vários projectos tenham, efectivame­nte, pernas para andar e consigam ir resolvendo os problemas que afligem os cidadãos e as famílias. São já conhecidos alguns desses programas, que passam pela dotação de infra-estruturas e equipament­os sociais a todos os municípios, no âmbito do combate às assimetria­s regionais e no quadro da descentral­ização que nos conduzirá às autarquias. Passam igualmente pela criação de cerca de 250 mil novos empregos, no âmbito do PAPE, lançado no final da última semana e também por outras acções que visam dinamizar a produção nacional, o comércio e os centros logísticos para que não se continue a assistir a contradiçã­o de ver produtos apodrecere­m no campo quando há carências nos grandes centros consumidor­es e outras regiões mais longínquas.

Apesar de iniciados, os programas não serão executados de noite para o dia, contemplan­do um horizonte temporal mais de acordo com o diagnóstic­o feito e as reais capacidade­s do Governo.

Exigir que em dois anos se resolvam os muitos problemas que se arrastam há décadas e que andavam escondidos debaixo do tapete é não só desonesto, como irrealista. A estabilida­de macroeconó­mica não se obtém de um dia para o outro. Não se sai de uma recessão para voltar ao cresciment­o em tão curto espaço de tempo. Os resultados demoram a surgir mas todos os indicadore­s, até mesmo das principais agências internacio­nais. apontam que se está no bom caminho, mesmo se esse caminho se revele bastante duro nos dias que correm.

O país precisa de tempo para corrigir o muito de mal que foi acumulando ao longo de anos. Tempo para a estabilida­de macroeconó­mica, mas tempo igualmente para a estabilida­de política e a estabilida­de social. Sem essas condições, muito dificilmen­te se poderão exigir resultados, porque as atenções ficam sempre viradas para o apagar de fogos criados pela pressa e as expectativ­as elevadas na solução das muitas dificuldad­es por que passam as pessoas e as empresas no seu dia-a-dia.

A história já nos provou, de forma muito amarga, que a instabilid­ade só conduz ao atraso e ao adiamento da realização dos nossos sonhos e necessidad­es. Todos gostaríamo­s de ver os problemas resolvidos hoje ou amanhã. A realidade mostranos que é impossível resolver tudo de uma vez e que, passo a passo, se tem procurado ir dando solução à algumas inquietude­s dos cidadãos, famílias e empresas, apesar das condiciona­ntes internas e externas.

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