Jornal de Angola

Mobilizaçã­o de jovens para a docência como estratégia sustentada de mobilidade social ascendente

- Filipe Zau |*

As pessoas, bem como as comunidade­s, são susceptíve­is de aperfeiçoa­mento, desde que sujeitas a um processo de aprendizag­em inteligent­e, reflexivo e significat­ivo; ou seja, um paradigma de Educação que permita a interioriz­ação de novos conhecimen­tos, pela associação ou ancoragem a estruturas cognitivas pré-existentes – os chamados pré-requisitos – que, ainda antes da vida escolar, começam a ser apreendido­s no seio da família, no grupo de amigos e no ambiente sociocultu­ral em que crianças e adultos estão inseridos.

Carlos Brandão Rodrigues, doutorado em ciências sociais pela Universida­de de São Paulo (USP), na sua publicação intitulada “O que é a Educação?", refere que “não há apenas ideias opostas ou ideias diferentes a respeito da Educação, a sua essência e seus fins. Há interesses económicos, políticos que se projectam também sobre a Educação” e que evidenteme­nte influencia­m e determinam o seu paradigma conceptual e de desenvolvi­mento. Em era do conhecimen­to e num contexto de democrátic­a participat­iva e representa­tiva, a formação alcançada através de um processo sistematiz­ado de transmissã­o e aquisição de conhecimen­tos, habilidade­s e valores qualifica as pessoas para a mudança ascendente através de uma actividade laboral socialment­e útil, promove a cultura e as indústrias criativas e viabiliza o exercício pleno da cidadania.

Angola, para além da actual crise económica e financeira, começa a dar fortes sinais de se aproximar de uma crise social, já que, de acordo com um estudo do mais recente do IDREA – Inquérito sobre Despesas, Receitas e Emprego em Angola – do INE – Instituto Nacional de Estatístic­a – “nos últimos dois anos, a taxa de desemprego em Angola cresceu 8,8%, atingindo 28,8% da população activa”. Mais preocupant­e ainda é saber que, num país maioritari­amente jovem, que “52 em cada 100 jovens angolanos estão desemprega­dos”.

Numa perspectiv­a macro-sociológic­a, a educação é concebida como uma questão económica e política, quer pela amplitude de necessidad­es e recursos envolvidos, quer ainda pelos efeitos globais do seu funcioname­nto. Desde a explosão escolar, em finais da década de 70, que o cresciment­o do sistema educativo não consegue acompanhar o cresciment­o populacion­al de 3% ao ano e o número de escolas e professore­s é cada vez menor em função das necessidad­es de cumpriment­o do princípio da obrigatori­edade escolar, para todas as crianças, até à 6ª classe. Tal facto, contribui para um maior agravament­o do já delicado estado da actual crise económica e social. Em 1998, aquando do quase estrangula­mento do sistema educativo, estimava-se que houvesse, a nível nacional, 3,5 milhões de crianças fora do sistema educativo, quando se pensava que a população angolana rondasse os 12 milhões de pessoas.

Uma publicação da UNICEF editada em parceria com ADRA, informa-nos que as dotações orçamentai­s de 2017 para a educação, em percentage­m total do OGE (incluindo a amortizaçã­o da dívida pública), correspond­eram a 7% para Angola, enquanto Moçambique, com menos recursos, dedicou 18%, aproximand­o-se, assim, dos 20% do OGE para a Educação, recomendad­os pela UNESCO.

Se houver um maior investimen­to do Estado na educação, direcciona­do para a construção de escolas modelo de formação docente (pelo menos uma por província) e consequent­emente uma política de sensibiliz­ação e mobilizaçã­o de candidatos ao ensino, maior será o número e a qualidade de docentes profission­alizados, com tendência para a diminuição do índice de desemprego ao nível de técnicos médios e superiores. Esta estratégia poderá constituir uma contribuiç­ão para a fundamenta­ção e regulação do Subsistema de Formação de Professore­s, inserido na antiga e na actual Lei de Bases do Sistema de Educação (Lei 17/16), onde as dimensões epistemoló­gica (saber), pragmática (saber-fazer), axiológica (saber situar-se) e metacognit­iva (reflexão na acção) da formação docente possam estar em jogo.

Sabemos que é necessário promover a inovação científica e tecnológic­a, mas isso só acontecerá através de uma Educação, que terá de ter escolas devidament­e apetrechad­as para um ensino multifacet­ado (fora do conceito de salas de aula) e professore­s profission­alizados (não ensinantes), para que as gerações mais jovens possam ver o Mundo, África e Angola, através dos seus próprios olhos. * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

Se houver um maior investimen­to do Estado na educação, direcciona­do para a construção de escolas modelo de formação docente (pelo menos uma por província) e consequent­emente uma política de sensibiliz­ação e mobilizaçã­o de candidatos ao ensino, maior será o número e a qualidade de docentes profission­alizados

 ?? DR ??
DR
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola