Cidadãos recusam paralisar actividade laboral amanhã
Com o poder político aberto ao exercício pleno da democracia no país, cidadãos manifestam-se contra o apelo lançado, através das redes sociais, para a paralisação, amanhã, da actividade laboral.
O apelo começou a rolar nas redes sociais faz alguns dias. De forma isolada, na aparência, alguns jovens foram lançando posts com mensagens a defender a realização de uma manifestação de protesto amanhã, sexta-feira, 11.10. Outras figuras foram-se juntando ao coro, entre eles uns poucos músicos e até mesmo um político. Mas também não tardaram a surgir, nos mesmos canais, vozes contra a iniciativa. Delas, transcrevemos nesta matéria algumas passagens. Esgrimindo os mais diversos argumentos, trataram de mostrar que as pessoas e o país têm muito mais a ganhar se cada cidadão cumprir com o seu dever laboral, honrar o compromisso com o empregador, do que ficar simplesmente em casa, não sair à rua na sexta-feira, como diz o apelo para a manifestação de protesto.
O caricato nesta acção é que alguns dos mobilizadores da manifestação não se encontram no país. Estão lá fora, a incentivar que as pessoas, cá dentro, se manifestem.
Sobre o assunto, a reportagem do Jornal de Angola pôsse em campo para ouvir opiniões em torno de duas questões básicas: 1 - Se faz sentido que, num momento em que as liberdades estão mais asseguradas no país, por um lado, e, face às dificuldades que o país atravessa, surjam iniciativas a apelar à paralisação dos serviços e que podem pôr em risco a estabilidade social? 2 - Qual deve ser o contributo dos cidadãos para a resolução dos problemas do país?
Apelo ao trabalho
O presidente da Associação dos Professores Angolanos (APA), Inácio Gonga, disse que o país está numa situação difícil, mas a sua organização não alinha em comportamentos que não garantam retroactividade.
“Os professores devem trabalhar na sexta-feira. Não devem pactuar com uma situação que contraria os ditames da democracia”, vincou.
Ao afirmar que a democracia não é libertinagem, onde “o cidadão pode fazer o que bem entender”, o professor afirmou ainda que a APA não subscreve tal manifestação e que o dia 11 de Outubro deve ser normal para a classe académica.
“Temos compromissos com a nação, porque as crianças são o futuro do país e precisam dos professores na sala de aulas”, assegurou.
O vice-presidente do CNJ (Conselho Nacional da Juventude), Massangano Domingos, apelou aos cidadãos a não deixarem de ir trabalhar na sexta-feira, 11, por haver um compromisso com o Estado.
Ao Jornal de Angola, Massangano Domingos admitiu que o CNJ é a favor de manifestações que cumpram os pressupostos da Constituição, uma vez que cada cidadão tem o direito de mostrar o seu descontentamento, sem esquecer as responsabilidades para com a família, a sociedade e o Estado.
Para o activista, o país está num processo de reformas para melhorar e proporcionar uma situação sustentável para os angolanos.
Ao lembrar que o país ainda está a viver as consequências de um comportamento nocivo e de corrupção, assegurou que o actual Presidente da República está atento aos problemas que afectam a população.
Massangano Domingos frisou que, para o bem-estar de todos, cada angolano deve assumir as suas responsabilidades. “Nós, CNJ, defendemos que a juventude deve trabalhar e não ficar em casa, para que não contribua para a deterioração do país”, disse.
Sublinhou que, apesar do desemprego e pobreza, o Governo tem estado preocupado na solução dos mesmos. “Ficar em casa, não resolve”, acentuou, pedindo mais diálogo entre os membros do Executivo e a sociedade civil e que haja mais oportunidades de emprego para a juventude.
A directora da Unidade de Advocacia da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Cécilia Quitombe, disse que neste momento o país precisa de fazer reflexões em conjunto e não se pode apenas apelar para que os cidadãos deixem de ir trabalhar, quando na realidade a vida está cada vez mais difícil e os níveis de produtividade estão baixos.
"É preciso repensar esse tipo de manifestações no contexto em que estamos todos a ser chamados para contribuir com propostas concretas de melhoria das condições de vida da população", disse Cecília Quitombe, que destacou que o Presidente da República, João Lourenço, tem sido um estadista que se mostra flexível para dialogar com todas as formas vivas da sociedade e também tem criado espaços para que os cidadãos, de forma livre, expressem as suas preocupações.
Decididos a trabalhar
Trabalhadores entrevistados pelo Jornal de Angola ontem em Luanda garantiram a sua presença nas instituições públicas e privadas, apesar da convocação de uma manifestação nas redes sociais (Faceboock, Whats App e Twitter) por um grupo de jovens que apela para uma paralização nacional.
Eliana Almeida, funcionária de uma empresa privada, disse que sexta-feira será um dia normal de trabalho e que nada a vai impedir de poder exercer a sua função de responsável de caixa. Contou que tem conhecimento da convocação da manifestação, mas discorda dessa forma de desobediência civil, que visa somente desestabilizar o bom funcionamento das instituições públicas e privadas no país.
"Discordo totalmente com a forma como se está a organizar a manifestação. Não precisamos parar as instituições, neste momento que o país atravessa dificuldades de vária ordem", disse.
Já Tereza Miguel, funcionária pública, sublinhou que não faz sentido esse apelo, numa altura em que o país "precisa cada vez mais de nós os jovens". Não tive nenhuma orientação superior para não estar presente amanhã - sublinhou, assinalando que "a manifestação convocada nas redes sociais não irá resolver o problema do país". "Todo o mundo sabe porquê que o país está mal e quem são os responsáveis. Temos também de ter bom senso", rematou.
Isabel António, zungueira e vendedora de roupa na Baixa de Luanda, contou que soube da convocação da manifestação de protesto de sexta-feira através de uma ligação do seu pai. Apesar de o mesmo (pai) a proibir de sair de casa amanhã, Isabel garantiu que vai "zungar", porque é deste trabalho que depende o sustento do seu filho, Artur. "Na sexta-feira eu virei vender roupas, porque tenho muitos clientes aqui na Baixa", afirmou.