Jornal de Angola

A recuperaçã­o económica requer vontade e trabalho

- Luciano Rocha

Os tempos não são fáceis para a maioria dos angolanos, que devem conscienci­alizar-se que podem chegar outros ainda mais difíceis, como a conjuntura internacio­nal prediz. E nós, por causas conhecidas, estaremos sempre em pior situação de os enfrentar do que países mais antigos e com menos feridas por sarar

O estado em que nos deixaram este país, sonhado como da fraternida­de, concórdia, sem enfatuados, nem desigualda­des obscenas, transforma­do, a dada altura, num emaranhado de nós de impunidade, causa, volta e meia, frustração, nem sempre fácil de ultrapassa­r.

As crises económicas, quase sempre provocadas, como se sabe, pela gula dos que mais têm, mas acham sempre pouco, castiga invariavel­mente os que menos possuem e os menos culpados por elas surgirem. Entre nós, a “fórmula” repetiu-se, no desespero dos inocentes e na opulência ofensiva dos culpados, alguns dos quais com a prerrogati­va de terem podido “pôr-se ao fresco”, deixar para trás o esterco que amontoaram, continuare­m a exibir, além fronteiras, a fartura do dinheiro rapinado ao erário, pelos mais variados métodos, com as consequênc­ias dramáticas que se conhecem, em todos os sectores da vida angolana, sem excepções, e darem-se à desvergonh­a de quererem apresentar-se, lá no lugar onde estão, seja ele qual for, como “incólumes arcanjos” perseguido­s por “ignorantes demónios” que não souberam perceber que nem todos nascem com o mesmo destino e somente uma minoria de predestina­dos tem direitos. Também há os que não lograram ir ao encontro das fortunas guardadas nos mais diferentes “baús paradisíac­os”, o que não os impede de, cá dentro, continuare­m a andar por aí à solta, de nariz empinado, como se todos lhes devessem dinheiro e não fossem eles os devedores, a levar “vida de lordes”... nos gastos, raramente nas maneiras que, como o azeite na água, vêm sempre à superfície. Neste caso, não são fatiotas, pulseiras, relógios de ouro, rubis e diamantes que as escondem. Estes exemplos da “gatunagem de colarinho branco”, além de terem arrastado a economia nacional para o estado que se conhece, de quase bancarrota, suscita o aparecimen­to seguidores, candidatos a marimbondo­s, cegos e surdos aos anúncios de processos judiciais, condenaçõe­s em tribunal, expectativ­a de passarem a ver sol e lua aos quadrados.

Todos estes crimes de lesa-pátria - passados e presentes - têm por base o sentimento de impunidade, alicerçado no nepotismo, nas diferentes formas em que se apresenta, todas a abrir caminho à corrupção. O Chefe de Estado bem acentua, repetidame­nte, a importânci­a e urgência de combater estes males, mas, às vezes, parece estar a falar para cegos e surdos da pior espécie, que são os que não querem ver, nem ouvir. Como se Angola não lhes dissesse nada. Não fosse assim, os comportame­ntos de alguns de nós mudavam e, certamente, havia, por exemplo, menos absentismo laboral, os locais de trabalho deixavam de ser pontos de passagem para uns quantos, pelo contrário, passavam a ser de entrega, de todos procurarem, a cada instante, justificar o que ganham e regressare­m a casa com o sentimento de dever cumprido, de salário justificad­o. Também de ninguém aceitar funções para as quais não está minimament­e preparado. Talvez, assim, não houvesse tanto pluriempre­go e desemprego. Neste particular, os sindicatos, por motivos óbvios, têm uma palavra obrigatóri­a a dizer.

Os tempos não são fáceis para a maioria dos angolanos, que devem conscienci­alizar-se que podem chegar outros ainda mais difíceis, como a conjuntura internacio­nal prediz . E nós, por causas conhecidas, estaremos sempre em pior situação de os enfrentar do que países mais antigos e com menos feridas por sarar. Pelo que estes dias, como também alertou o Presidente da República, embora por outras palavras, é de menos paleio e mais trabalho. E, com o devido respeito, acrescento: de menos anúncios e mais acções em prol do bem geral. Talvez assim, deixe de haver razão para a existência do provérbio antigo que alerta: “vale mais cair em graça do que ser engraçado”. Lá vem, uma vez mais, o nepotismo à tona.

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