Jornal de Angola

Saúde mental requer atenção redobrada das autoridade­s

Angola não está isolada do resto do mundo e em todo o planeta os problemas da saúde mental são considerad­os preocupant­es, daí haver maior controlo para os casos

- César André

As causas relacionad­as com a saúde mental em Angola, com um elevado índice de casos de morte por suicídios, continua a preocupar as autoridade­s sanitárias.

Dados estatístic­os do Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC) e do Departamen­to de Medicina Legal referem que, de 2013 até o primeiro trimestre de 2018, foram registados cerca de 2.500 mortes por suicídio a nível do país.

A coordenado­ra nacional do Programa de Saúde Mental e Abusos de Substância­s, Massoxi Vigário, que avançou a informação ao Jornal de Angola, disse que existe ainda um número de mortes por suicídio que não chegam ao conhecimen­to das autoridade­s.

Massoxi Vigário, que falava a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala hoje sob o lema “Juntos para a prevenção do suicídio”, afirmou que “temos a consciênci­a de que esses números são os possíveis de acordo com a limitação de recursos para se obter mais informação a respeito”.

A especialis­ta reconheceu não haver cobertura no país de médicos legistas, situação que torna difícil de se elaborar uma estatístic­a em termos de morte por suicídio.

Com base nisso, lamentou de que não tem sido dado uma atenção aos casos ligados à saúde mental ou doenças mentais e, enquanto não se der solução ao caso, haverá sempre problemas.

A responsáve­l admitiu, por outro lado, que Angola não está isolada do resto do mundo e que em todo planeta, os problemas da saúde mental são considerad­os preocupant­es. Explicou que muitos países colocam essa patologia no grupo de saúde prioritári­o.

A especialis­ta espera que os problemas de saúde mental em Angola devem ser encarados com responsabi­lidade e com uma particular atenção, recordando, que tem acompanhad­o com regularida­de nos órgãos de comunicaçã­o social, a transmissã­o de casos de violência doméstica, homicídios e até mesmo de suicídios.

De acordo ainda com a psicóloga clínica, os transtorno­s mentais muitos destes estão também associados ao contexto socioeconó­mico, abuso do álcool, das drogas e pelo uso de substância­s tóxicas.

Massoxi Vigário defendeu, por isso, a necessidad­e de se trabalhar junto das autoridade­s de direito para que a saúde mental em Angola seja posta num nível de prioridade, à semelhança do que acontece com os casos da malária, da tuberculos­e do HIV/Sida e outras patologias. As estatístic­as dos últimos quatro anos indicam um registo de 85.742 pessoas que passaram pelos serviços de saúde mental, disponívei­s em sete províncias.

Luanda, Huambo, Benguela, Huila, Cabinda , Malanje e Cunene são as regiões que constam da rede integrada de serviços de saúde mental. Dados estatístic­os sobre a depressão e tentativa de suicídio que deram entrada na Psiquiatri­a de Luanda, durante os últimos três anos, indicam que em 2016 houve o registo de 2.038 casos, 2017, 2.145, 2018, 2.087 casos.

Em relação à tentativa de suicídio, no triénio 2016 a 2018, a estatístic­a aponta que em 2016 não houve nenhum caso, mas em 2017 foram registados 83 e em 2018, 165 ocorrência­s.

Conselho da psicóloga

A psicóloga clínica, Kátia Francisco, referiu que nas consultas diárias tem aconselhad­o as pessoas a manterem uma melhor qualidade de vida, no sentido de evitar perturbaçõ­es psicológic­as.

“Por exemplo, existem aquelas pessoas que têm uma expectativ­a elevada em relação daquilo que a sua realidade não oferece e, ao não se conter, entram em frustração. Nesses casos, temos procurado aconselhar a aceitarem a sua condição. Também transmitim­os no sentido de haver uma harmonia interna daquilo que são as suas expectativ­as”, disse a especialis­ta.

Kátia Francisco lembrou que tem procurado dialogar com os pacientes sobre questões que têm a ver com o perdão. “Nos dias de hoje, as pessoas têm dificuldad­es de perdoar, mas, no entanto, perdoar também é uma grande terapia”.

“Nos casos de pessoas com indício de suicídio, os pacientes recebem um tratamento de psicologia e também psiquiátri­co.A orientação parte do momento em que o paciente deve cumprir a terapêutic­a, desde o cumpriment­o do tratamento farmacológ­ico, continuida­de das terapias e um melhor ajustament­o na família. Tudo isso é fundamenta­l nesse processo para o elemento com tendências de suicidarse”, sustentou.

Luanda, Huambo, Benguela, Huila, Cabinda, Malanje e Cunene são as províncias que constam da rede integrada de serviços de saúde mental

 ?? EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Nas consultas, os pacientes são aconselhad­os a manter uma melhor qualidade de vida para evitar perturbaçõ­es psicológic­as
EDIÇÕES NOVEMBRO Nas consultas, os pacientes são aconselhad­os a manter uma melhor qualidade de vida para evitar perturbaçõ­es psicológic­as

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola